'Sistema de Justiça do Ceará dá um exemplo para o Brasil', diz Procurador-Geral de Justiça

No terceiro júri da Chacina do Curió, realizado sábado (16), dois policiais militares (PMs) foram condenados e outros seis agentes foram absolvidos

Escrito por Beatriz Irineu, Gabriela Custódio ,
entrevista ao fim do terceiro júri da chacina do curió
Legenda: Edna Carla Souza Cavalcante, mãe de Álef Souza Cavalcante, relembra o longo caminho que já foi percorrido em busca de respostas pelas vítimas.
Foto: Isaac Macêdo

Após o anúncio da sentença da terceira sessão de julgamentos da Chacina do Curió, o procurador-geral de Justiça do Estado do Ceará, Manoel Pinheiro Freitas, afirmou que o Sistema de Justiça do Estado deu "um exemplo para o Brasil" em relação ao correto funcionamento das instituições. Ele destacou a atuação dos diversos agentes que participaram do processo, ao longo dos últimos 8 anos, como promotores, defensores e advogados.

"Infelizmente só quem não cumpriu esse papel de forma correta foram alguns policiais militares, dezenas de policiais militares, na verdade, que naquela madrugada triste, fatídica, de 11 para 12 de novembro de 2015, ao invés de ajudarem a Polícia Civil a identificar o autor da morte do policial Serpa, cometeram esses crimes bárbaros por vingança", afirmou.

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Neste sábado (16), ao final do terceiro júri da Chacina do Curió, dois policiais militares (PMs) foram condenados e outros seis agentes foram absolvidos. Um dos absolvidos terá o caso encaminhado para Vara de Auditoria Militar.

No primeiro julgamento, em junho deste ano, quatro policiais militares foram condenados a mais de 1.100 anos de prisão, se somadas as penas. No segundo, após quase 100 horas de julgamento, oito PMs foram absolvidos.

O procurador-geral de Justiça destacou que casos parecidos com a Chacina do Curió têm ocorrido em outros nas últimas semanas. Na última sexta-feira (15), seis pessoas foram assassinadas horas depois que policiais militares foram executados em um tiroteio no município de Camaragibe, em Pernambuco. 

É importante que nos outros estados, assim como no Ceará, o sistema de justiça seja capaz de alcançar e punir os responsáveis.(...) O que acontece aqui no estado do Ceará nos dá esperança de que nós somos capazes de progredir como civilização, nós respondemos de forma civilizada à barbárie que foi a chacina do Curió.
Manoel Pinheiro Freitas
Procurador-geral de Justiça do Estado do Ceará

Freitas também elogiou a luta do coletivo Mães e Familiares do Curió pelas reações aos julgamentos. "Seja julgamentos que terminem em condenações, sejam absolvições, (reagem) mantendo a serenidade, mesmo diante de tanta dor, mantendo a confiança na Justiça."

A defensora pública geral Elizabeth Chagas também destacou a atuação das mães das vítimas da chacina por justiça e ressaltou a importância de se respeitar a memória e a dignidade das pessoas assassinadas naquela madrugada. Além disso, ela pontuou que crimes como esse não devem voltar a ocorrer.

Que seja uma sinalização (...) e uma resposta de que o Estado do Ceará não mais permitirá que isso aconteça e que haverá responsabilização, indenização e resposta efetiva para o que aconteceu, porque nada trará esses filhos de volta. É preciso que nada disso se repita e que haja uma efetiva responsabilização.
Elizabeth Chagas
defensora pública geral

Edna Carla Souza Cavalcante, mãe do jovem Álef Souza Cavalcante, morto aos 17 anos, relembra o longo caminho que já foi percorrido em busca de respostas pelas vítimas da chacina. "Um caminho doloroso, um caminho triste, um caminho de muitas lágrimas, e que ao princípio era tudo incerteza", afirma.

Não vou dizer graças a Deus porque a gente não deve dar graças a Deus à desgraça de ninguém. Eles praticaram esses crimes, e a gente está aqui porque a gente precisa ter essa resposta para os nossos filhos que foram mortos por pessoas que a gente paga, por funcionários públicos. Já pensou se um juiz que é público sair com a arma na mão matando todo mundo? Um defensor público? É um funcionário público como qualquer outro que não deve sair matando ninguém. Estamos buscando o que é certo e correto na Justiça.
Edna Carla Souza Cavalcante
Mãe de Álef Souza Cavalcante, morto aos 17 anos

 

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