Regional I sofre com alta de homicídios e letalidade da Covid-19

A Área Integrada de Segurança 8, composta por bairros da Regional I como Barra do Ceará e Pirambu, tem o maior número de mortes violentas em abril. Os crimes são motivados principalmente pelo disputa entre facções

Escrito por Messias Borges , messias.borges@svm.com.br
Legenda: Dois homens foram assassinados enquanto trocavam um pneu, no bairro Pirambu, no último domingo (19)
Foto: FOTO: RAFAELA DUARTE

Uma mesma região de Fortaleza está sendo bastante afetada tanto pela violência como pela pandemia do novo coronavírus. A Área Integrada de Segurança (AIS) 8 - que compreende os bairros Barra do Ceará, Cristo Redentor, Floresta, Jardim Guanabara, Jardim Iracema, Pirambu e Vila Velha pela - como divide a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS), concentra o maior número de homicídios da Capital, em abril deste ano. Os mesmos bairros (e outros oito) compõem a Regional I, que tem a maior letalidade por Covid-19 entre as divisões da Prefeitura de Fortaleza.

Neste mês de abril, até o dia 20, a AIS 8 registrou 21 Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs). A segunda Área de Fortaleza, em número de mortes, nesse período, foi a AIS 2, com 13 casos. Nenhuma outra AIS superou 10 assassinatos.

Na comparação entre outros períodos, em todo o mês de março deste ano, foram 9 crimes na Área Integrada de Segurança 8. Em abril do ano passado, apenas três casos. E entre os dias 1º e 20 de abril de 2019, não aconteceu nenhum homicídio na região.

De acordo com especialistas ouvidos pela reportagem, a alta da violência é motivada principalmente pelo acirramento da disputa entre as facções Comando Vermelho (CV) e Guardiões do Estado (GDE).

"A guerra entre facções recomeçou e a GDE predomina na região da Barra do Ceará. Coincidentemente, o número de vítimas do CV é maior", aponta um investigador do crime organizado no Estado.

A disputa entre as facções teria feito duas vítimas, na Avenida Leste-Oeste, no bairro Pirambu, na noite do último domingo (19). O alvo da ação criminosa seria Antônio Francisco da Costa Gomes, de 27 anos, que parou um veículo para trocar o pneu. Mas o tiroteio também atingiu Delano da Silva Agostinho, 27, que morava nas proximidades e se ofereceu para ajudar o outro homem. Três mulheres, que eram passageiras do veículo, ficaram feridas.

Violência

A pesquisadora do Laboratório de Estudos da Violência (LEV), da Universidade Federal do Ceará (UFC), Suiany de Moraes, analisa que a AIS 8 concentra bairros com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), densamente povoados e com dificuldade de acesso a políticas públicas de saúde e educação. "Não é novidade que as regiões com maiores fragilidades sociais têm maior índice de homicídios. Quando a gente vai olhar para um bairro densamente povoado, a disputa territorial pelo comércio da droga é muito mais acirrada, vai acontecer rua a rua", afirma.

Mortes por Covid-19 em Fortaleza

A Secretaria da Segurança Pública afirmou, por nota, que está "intensificando os trabalhos de policiamento preventivo e ostensivo para coibir conflitos entre grupos criminosos, que durante disputas de territórios, ocasionam um aumento no número de CVLI em alguns bairros da Capital". Segundo a Pasta, o Comando de Policiamento de Rondas e Ações Intensivas e Ostensivas (CPRaio), da Polícia Militar, realiza ações na região e a Polícia Civil tem reforçado as estratégias de investigação, para identificar e capturar os criminosos.

Pandemia

Em paralelo, a região também é afetada pela chegada do novo coronavírus. Conforme dados da Célula de Vigilância Epidemiológica da Prefeitura de Fortaleza, divulgados na última quarta-feira (22), a Regional I tem a maior letalidade de Fortaleza, 14,4%: de 243 casos de Covid-19 na região, 35 pessoas morreram. Dentre as mortes, 23 são de moradores dos bairros da AIS 8. "Essa região é muito adensada. Há uma densidade de pessoas por domicílio muito alta, uma dificuldade maior de isolamento social, moradias mais precárias. Tem uma preocupação com esta parte da cidade. Fora os leitos, a gente tem feito intervenções mais comunitárias, de alerta, de carros de som, de patrulhamento, para fortalecer o isolamento, que as pessoas não podem trafegar sem máscara", afirma o gerente da Célula de Vigilância Epidemiológica de Fortaleza, Antônio Lima.

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