Polícia desarticula 2º escalão da GDE e evita sucessão de líderes
Oito homens que estavam se tornando lideranças da facção cearense foram presos nos últimos meses. Seis deles estavam escondidos em outros estados. O trio preso na semana passada ordenou ataques criminosos em janeiro
Nas facções criminosas, o isolamento ou a morte dos líderes obrigam os membros a procurarem novas lideranças. Os Guardiões do Estado (GDE), nascidos no Ceará, tiveram que se reinventar no ano passado. Entretanto, a Polícia Civil do Ceará (PCCE) continuou a vigilância sobre o grupo e, em poucos meses, capturou grande parte do segundo escalão, que estava assumindo a frente do negócio.
"Devido aos trabalhos que têm sido feitos nos últimos meses, praticamente todos os chefes dessa determinada facção criminosa se encontram encarcerados e isolados. Com base nisso, a cadeira está vaga. E esse tem sido o desafio: tentar tirar de circulação esse segundo escalão, para que esses não se tornem chefes. O cerco para essa facção está se fechando", pontuou o titular da Delegacia de Repressões às Ações Criminosas Organizadas (Draco), delegado Harley Filho.
Antonio Iago da Silva, o 'Magnata', de 26 anos; Carlos Sérgio Galdino Facó, o 'Morada', 35; e Dhelk Vieira Silvestre, 29, foram detidos, por força de mandados de prisão, no Município de Mossoró, no Rio Grande do Norte, onde moravam. Segundo Harley Filho, o trio levava uma vida de "fachada" e não existem informações sobre crimes que eles tenham cometido no outro Estado ou ligações que fizeram com criminosos locais. Porém, de lá, os três homens davam ordens para ações criminosas que aconteciam no Ceará, como tráfico de drogas, homicídios, roubos e ataques contra o Estado e a propriedade privada, registrados em janeiro deste ano.
"Eles ficam em outros estados da Federação apenas para 'passar batido', para que a Polícia do Ceará não os localize. Em contrapartida, todo o núcleo criminoso dele se encontra no Ceará. Nos outros estados, eles se passam como cidadãos, isso acaba dificultando a prisão", explica o delegado, que também informa que os três suspeitos tinham uma vida confortável no Estado vizinho, mas sem grandes luxos.
Responsável pela investigação, o delegado Kléver Farias conta que, nas duas residências alugadas pelos presos, a Draco - com apoio de policiais civis e militares do Rio Grande do Norte - apreendeu duas armas de fogo (uma pistola calibre Ponto 40 e um revólver calibre 38), um total de 42 munições, carregadores, dois veículos (sendo um roubado e com placas adulteradas), R$ 210 em espécie (manchados com tinta de dispositivo antifurto de caixa eletrônico) e documentos falsos.
Levados a uma unidade da Polícia Civil do Rio Grande do Norte, 'Magnata' - que já tinha passagens pela Polícia por roubo, homicídio, porte ilegal de arma de fogo, tráfico de drogas e organização criminosa - foi autuado por porte ilegal de arma de fogo de uso restrito e uso de documento falso; 'Morada' - com três passagens por tráfico de drogas - irá responder por posse irregular de arma de fogo; e Dhelk - com antecedentes de tráfico de drogas, roubo e porte ilegal de arma de fogo - foi autuado por receptação e uso de documento falso. Para a Draco, 'Morada' é o dono de dois fuzis Ponto 50 apreendidos pela primeira vez no Ceará, no ano passado. Já os outros dois homens são fugitivos do sistema penitenciário cearense.
Sucessão
Os Guardiões do Estado nasceram no bairro Conjunto Palmeiras, em Fortaleza, em 2015, a partir de uma torcida organizada de futebol. Em 2017, a facção travou uma disputa sangrenta com a rival Comando Vermelho (CV) em todo o Ceará, o que resultou em um número recorde de homicídios - mais de 5.100. Como consequência da guerra, aconteceu a Chacina das Cajazeiras (com 14 mortos), em janeiro do ano passado, e a autora GDE entrou em declínio.
Os principais líderes da organização criminosa foram presos por envolvimento com a matança, nos meses seguintes. Quase um ano depois, em janeiro último, a Segurança Pública do Estado voltou a ser confrontada pela maior série de ataques criminosos, com mais de 200 registros. Uma das soluções encontradas pelas autoridades foi isolar as lideranças das facções para presídios federais de segurança máxima, inclusive da GDE.
A GDE, então, começou o processo de sucessão. 'Magnata', 'Morada' e Dhelk; como também Francisco de Assis Fernandes da Silva, o 'Barrinha'; Francisco Tiago Alves do Nascimento, o 'Tiago Magão'; Yago Steferson Alves dos Santos, o 'Yago Gordão'; Marcos da Silva Pereira, o 'Marquim Chinês'; e Marcos André Silva Ferreira, o 'Dedé', eram os novos líderes da GDE e foram presos entre outubro de 2018 e o último no dia 10 de maio.
'Barrinha' e 'Tiago Magão' foram capturados em apartamentos de luxo em Recife, Pernambuco, em abril último. 'Yago Gordão' foi encontrado em um imóvel de alto valor, na Praia de Ponta Negra, em Natal, Rio Grande do Norte, em dezembro do ano passado. Já 'Marquim Chinês' (que movimentava 100 kg de cocaína por mês) e 'Dedé' continuavam no Ceará, onde também levavam uma vida luxuosa, segundo a Polícia Civil.
Morte
Outro suspeito de integrar a facção e assumir a liderança do grupo criminoso em uma comunidade foi morto em um confronto com a Polícia Militar, no bairro Passaré, em Fortaleza, na tarde do último domingo (12). José Emerson Silva Santos, o 'Timbalada', 24, tinha passagens pela Polícia por homicídio, porte ilegal de arma de fogo e receptação e era o "braço direito" de Zaqueu Oliveira da Silva, o 'Macumbeiro', preso no ano passado. Outro homem também morreu no tiroteio. Com a dupla, foram apreendidas duas armas de fogo.