PM e familiares comandavam tráfico de drogas em Cascavel

Soldado, companheira e irmão foram presos em operação do Gaeco. Outros dois policiais militares foram detidos em uma investigação paralela, mas também são suspeitos de apoiar a organização criminosa formada na RMF

Escrito por Messias Borges , messias.borges@svm.com.br
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Legenda: Os presos da 'Crotalus' foram levados à Delegacia de Capturas e Polinter (Decap), da Polícia Civil, na Capital
Foto: Kid Júnior

Um soldado da Polícia Militar do Ceará (PMCE) é acusado, junto da companheira e do irmão, de liderar uma organização criminosa que comandava o tráfico de drogas no Município de Cascavel, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Os três e mais cinco foram alvos de mandados de prisão em operações do Ministério Público do Ceará (MPCE), ontem. Entre eles, outros dois PMs suspeitos de estarem ligados ao grupo criminoso.

A Operação Crotalus, deflagrada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), cumpriu seis mandados de prisão preventiva e seis mandados de busca e apreensão, contra o policial militar líder da organização criminosa, a companheira, o irmão e mais três civis. A denúncia contra esse grupo já foi aceita pela Vara de Delitos de Organizações Criminosas, e os seis viraram réus pelos crimes de organização criminosa, tráfico de drogas e associação para o tráfico.

De acordo com o promotor de Justiça Adriano Saraiva, membro do Gaeco, a organização criminosa vendia maconha e cocaína para traficantes menores de Cascavel, que revendiam o produto, pelo menos desde maio de 2019. "Ele (PM) tinha conhecimento com os traficantes, mas ele quem liderava tudo e fornecia essas drogas", informa o investigador, acrescentando que a apuração será aprofundada para descobrir a origem dos entorpecentes.

Os investigadores suspeitam ainda que o grupo também comercializasse armas de fogo, já que algumas delas, obtidas de formas ilícitas, eram escondidas enterradas dentro do próprio quartel da PMCE em Cascavel. "São armas que eles adquiriam no 'paralelo'. Provavelmente, escondiam porque sabiam que dentro do quartel jamais alguém iria desconfiar. Pensavam que estavam seguros enterrando lá dentro", explica Saraiva.

A partir do militar, o Gaeco identificou os outros membros do grupo criminoso, para os quais ele delegava funções e ordens. Conforme a investigação, a companheira do PM ajudava a organizar e a esconder a droga. Enquanto o irmão do mesmo era o seu "braço direito" no esquema criminoso e também dava ordens. Os demais acusados ajudavam a esconder os entorpecentes, como também os entregavam para outros traficantes e recebiam o dinheiro.

Os mandados judiciais foram expedidos pela Vara de Delitos de Organizações Criminosas e cumpridos pelo Gaeco, com o apoio do Departamento Técnico Operacional (DTO), da Polícia Civil do Ceará (PCCE); da Coordenadoria de Inteligência (Coin), da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS); e do Comando da Polícia Militar. Aparelhos celulares e outras mídias foram apreendidos.

O nome da Operação, segundo o MPCE faz referência à cobra cascavel, que tem o nome científico de "crotalus" e é um animal peçonhento - como o soldado investigado para a Polícia Militar do Ceará. Além de "Cascavel" ser o nome do Município onde o militar atuava.

Outros militares

Os outros dois policiais militares foram presos na Operação Oculta, deflagrada simultaneamente pelo Núcleo de Investigação Criminal (Nuinc), também do MPCE. Eles foram detidos por crimes militares, mas também são suspeitos de dar apoio à organização criminosa liderada por um colega de farda, em Cascavel. Os mandados de prisão foram expedidos pela Auditoria Militar e os dois soldados levados ao Presídio Militar, em Fortaleza.

Abuso de autoridade

A reportagem apurou que o soldado acusado de liderar a organização criminosa já respondeu a pelo menos cinco processos na Auditoria Militar. Quatro ações são pelo crime de abuso de autoridade, das quais três já foram arquivadas. Mas na restante, o servidor virou réu junto de mais três PMs, no último dia 14 de setembro, por prenderem um homem em flagrante sem nenhum ilícito, em Cascavel.

No outro processo, o agente de segurança também é réu, desde agosto de 2019, por lesão corporal culposa agravada pela inobservância técnica, por ter permitido, em atividade, uma arma do tipo carabina disparar e os estilhaços atingirem uma mulher e uma criança que saíam da Delegacia de Pindoretama.

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