Mandante de ataques criminosos no Pirambu, em Fortaleza, é condenado a mais de 13 anos de prisão

Um conflito armado entre facções culminou em um homicídio, carros incendiados e serviços da população afetados nos bairros Pirambu e Carlito Pamplona em agosto de 2023

Escrito por Matheus Facundo , matheus.facundo@svm.com.br
Foto montagem de carros incendiados no Pirambu
Legenda: Pessoas foram retiradas de seus carros e tiveram seus veículos incendiados no Grande Pirambu em 2023
Foto: Arquivo pessoal

Apontado como mandante dos ataques criminosos ocorridos no bairro Pirambu, em Fortaleza, em agosto de 2023, Lucas de Araújo dos Santos foi condenado pela Justiça Estadual pelos crimes de organização criminosa, porte ilegal de arma de fogo e receptação. Ele foi sentenciado ao cumprimento de 13 anos, sete meses e 15 dias de reclusão e continuará preso preventivamente, além de não poder recorrer em liberdade por ser considerado perigoso. 

A condenação foi dada pela Vara de Delitos de Organizações Criminosas e publicada no Diário da Justiça nessa segunda-feira (15), e ocorre menos de um ano após as ações criminosas no Pirambu, quando carros foram incendiados e a população ficou em pânico, resultando em comércios com portas fechadas e aulas encerradas mais cedo em escolas. 

Veículo foi parado e incendiado por criminosos na Avenida Dr. Theberge
Legenda: Veículo foi parado e incendiado por criminosos na Avenida Dr. Theberge
Foto: Reprodução

De acordo com a sentença, Lucas, conhecido como 'Coruja', "contribuiu fortemente" para diversos crimes hediondos, como tráfico de drogas e homicídios, além de ter sua participação confirmada nas ações no Pirambu. Os episódios foram motivados por um conflito entre facções criminosas.

As investigações e interrogatórios de testemunhas de acusação revelaram que o condenado deu ordens para outros faccionados queimarem veículos tanto no Pirambu quanto em regiões vizinhas. Depoimentos de investigados do grupo rival também confirmaram os fatos.

Lucas está preso desde o dia 18 de agosto do ano passado, pouco mais de uma semana após os ataques. Ele foi localizado no Conjunto São Bernardo, em Messejana, segundo a Polícia Civil, portando uma pistola, carregadores de pistola, três celulares e 84 munições.

A defesa do condenado não foi localizada, mas o Diário do Nordeste teve acesso às alegações finais, nas quais foi pedido à Justiça a absolvição dele. O advogado defendeu que as provas presentes nos autos processuais não possuem credibilidade e negou que seu cliente participe de alguma facção criminosa.

"O simples fato do mesmo morar em uma área de risco que existe realmente uma facção criminosa e por ele ter nascido lá e sido criado na comunidade. Faz com que ele conheça algumas pessoas. Mas isso, por si só, não configura crime na legislação pátria nem em nenhuma legislação de países democráticos de direito", diz trecho da tese da defesa. 

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Guerra entre facções rivais

A ofensiva criminosa se originou de um conflito de facções entre um grupo armado de origem carioca com atuação no Ceará e outro de origem cearense, formada recentemente. Lucas de Araujo, o 'Coruja', era integrante da primeira organização, mas "rasgou a camisa", ou seja, mudou de lado, e se aliou aos rivais. 

Conforme apurado pela Polícia Civil durante o inquérito, ele queria "dar um golpe no Pirambu" e tomar o controle da região, exercido pela organização originada no Rio de Janeiro. Isso gerou um conflito armado na região, que culminou na morte de Josué Ferreira Batista Filho, o "B", que também teria "rasgado a camisa". 

A relação de Coruja já era conturbada com a facção carioca desde antes de ele mudar de lado. Em um inquérito sobre um crime de homicídio consta um depoimento afirmando que ele já chegou a ser "decretado", ou seja, jurado de morte, mas recebeu uma "segunda chance". 

Outra figura apontada como articuladora dos ataques no Pirambu é Francisco Barboza de Sousa, conhecido como 'Turinga', um dos capturados durante a força-tarefa montada para coibir as ações em agosto passado. Ele confirmou em depoimento após sua prisão em flagrante o conflito territorial iniciado por Coruja. 

A reportagem apurou que 'Turinga' é gerente "da caixinha da facção carioca", ou seja, responsável por arrecadar as mensalidades dos faccionados e braço-direito de uma liderança que está foragido no Rio de Janeiro, o Carlos Mateus da Silva Alencar, conhecido como 'Fiel' ou 'Skidum', que figura na lista dos mais procurados do Ceará. 

A operação contra os ataques terminou com 16 pessoas presas, após a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS) montar um cerco na região, com a atuação de pelo menos 170 policiais civis e militares. 

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Relembre os ataques no Pirambu  

Nos dias 9 e 10 de agosto de 2023, pelo menos três carros foram incendiados no Grande Pirambu. Em consequência, comerciantes fecharam as portas dos estabelecimentos e aulas terminaram mais cedo. Ônibus tiveram itinerários alterados para assegurar a integridade de passageiros e colaboradores. 

Motoristas que trafegavam por vias nos bairros Carlito Pamplona e Pirambu foram retirados de seus veículos e assistiram criminosos atearem fogo. Um quarto carro sofreu uma tentativa de incêndio e foi alvejado por disparos na Rua João Nogueira, mas o fogo foi apagado. Também houve tiroteios na região, segundo relatos da população. 

Imagem mostra carro baleado durante ataques registrados no dia 10 de agosto de 2023 no bairro Pirambu e região em Fortaleza
Legenda: Um carro sofreu tentativa incêndio e foi alvejado por tiros na rua João Nogueira
Foto: Kid Júnior

Em geral, as ocorrências foram registradas em pelo menos três avenidas: Francisco Sá, Dr. Theberge e Leste-Oeste. Na Francisco Sá, inclusive, uma agência bancária da Caixa Econômica Federal foi fechada por motivos de segurança, segundo um aviso fixado na porta do estabelecimento. 

Duas escolas municipais no entorno de onde ocorreram os ataques chegaram a receber reforço da Guarda Municipal de Fortaleza "devido ao contexto de segurança pública na região". Não houve orientação da Secretaria Municipal de Educação (SME) para o encerramento das atividades letivas, mas o Diário do Nordeste apurou que responsáveis estavam com medo. 

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