Grupo de extermínio que matou empresário em disputa por madeireira em Fortaleza há quase 20 anos vai a julgamento
Os réus também foram acusados - e alguns condenados - por outras mortes relacionadas à disputa na empresa

Quatro acusados de integrar um grupo de extermínio e de matar um homem, em uma disputa por uma madeireira, em Fortaleza, há quase 20 anos, vão a julgamento pelos crimes. A Justiça Estadual marcou o júri popular do grupo para o dia 28 de março deste ano, às 9h. A decisão foi proferida no último dia 29 de janeiro.
Paulo César Lima de Sousa, Pedro Cláudio Duarte Pena, Rogério do Carmo Abreu e Silvio Pereira do Vale Silva devem sentar no banco dos réus para serem julgados pelos crimes de homicídio qualificado (por motivo torpe e recurso que impossibilitou a defesa da vítima) e associação criminosa. Apenas Pedro Cláudio responde ao processo criminal em liberdade, enquanto os outros réus estão presos.
A 4ª Vara do Juri de Fortaleza pronunciou o grupo (isto é, decidiu levá-lo a julgamento) ainda no dia 22 de outubro de 2015. Entretanto, os acusados recorreram da decisão. Apenas um quinto réu, Firmino Teles de Menezes, já foi julgado e condenado a 14 anos de reclusão, no dia 8 de agosto de 2016.
O grupo é acusado pelo Ministério Público do Ceará (MPCE) de participar do assassinato do empresário Carlos dos Santos Marques, o 'Carlinhos', na antiga Avenida Parajana (hoje nomeada de Avenida Silas Munguba), bairro Serrinha, em Fortaleza, na noite de 16 de maio de 2005.
Segundo a denúncia do MPCE, Firmino Teles foi o mandante do homicídio; Sílvio Pereira, conhecido como 'Pé de Pato', e Rogério do Carmo, o 'Cú de Boi', foram os executores do crime; o ex- PM Pedro Cláudio, conhecido como 'Cabo Pena', foi o articulador e arquiteto do assassinato; e Paulo César era o segurança de Firmino e obtinha informações privilegiadas sobre investigações contra o grupo.
O advogado Erlon Moura, que advoga para o réu Paulo César Lima de Sousa, sustenta a tese de negativa de autoria. "O Paulo não participava de grupo de extermínio e não participou do crime. Inclusive, ele já foi absolvido em outro processo. que também versava sobre delitos desse grupo de extermínio. Ele vai provar a inocência dele perante o Tribunal do Júri", afirmou.
As defesas de Pedro Cláudio Duarte Pena, Silvio Pereira do Vale Silva e Rogério do Carmo Abreu não foram localizadas ou não responderam à reportagem, até a publicação desta matéria. O espaço segue aberto para futuras manifestações.
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Série de mortes em disputa por madeireira
O Ministério Público do Ceará associou o assassinato de Carlos dos Santos Marques a outros homicídios ocorridos na época, que vitimaram funcionários ou pessoas relacionadas a uma madeireira, que tinha Firmino Teles de Menezes como um dos sócios e que ficava localizada na Avenida Osório de Paiva, em Fortaleza. 'Carlinhos' era um fornecedor de madeira para a empresa.
outros homicídios vitimaram pessoas relacionadas à madeireira. Foram mortos Gilberto Soares Duarte, um funcionário da empresa; Antônio Tomé Filho, um homem que trabalhava com um advogado que defendia os interesses de outro sócio e que tinha conflitos com Firmino; e Miguel Luís Neto, genro do proprietário da madeireira.
Firmino Teles de Menezes, Rogério do Carmo Abreu, Paulo César Lima de Souza e Claudenor Ribeiro Alexandre foram sentenciados pela morte do empresário Luiz Miguel, em setembro de 2008. Três meses depois, o ex-PM Pedro Cláudio Duarte Pena foi condenado pelo mesmo crime.
Silvio Pereira do Vale Silva e Rogério Abreu também foram condenados a 16 anos e 4 meses de prisão, cada, em junho de 2023, pelo assassinato de Gilberto Soares Duarte, em 2006. Já Paulo César foi absolvido pelo crime.
Segundo o advogado Erlon Moura, Paulo César "foi acusado e condenado injustamente. Ele vem cumprindo a pena e sendo injustiçado por fatos que foram atribuídos a ele, apenas porque ele morava no bairro e era amigo de pessoas que moravam lá".
Morte do empresário
Conforme a denúncia do MPCE contra o grupo pela morte de Carlos dos Santos Marques, o proprietário da madeireira contraiu uma dívida com 'Carlinhos', na compra de madeira. Firmino Teles era cliente e, no ano de 2003, formou uma parceria comercial para "levantar" a empresa.
"Tomando as rédeas da madeireira, Teles, por muitas vezes deixou de pagar a dívida com Carlos, o que gerava um inconformismo e, concomitantemente, discussões entre Teles e a vítima", narrou o Ministério Público.
A autoria do homicídio demorou a ser descoberta, o que motivou a criação de uma Força-Tarefa na Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS) para investigar o caso, segundo a denúncia.
"Graças à atuação da Força Tarefa da SSPDS/CE, foram interceptados centenas de contatos alusivos aos denunciados. Dentre os alvos da escuta estava o primeiro denunciado, que na oportunidade, se comunicava com os demais, ficando constatada a trama dos diversos assassinatos ligados ao caso da madeireira", concluiu o Órgão Acusatório.