Estado chega ao número de 5 mil homicídios neste ano

Com o fim da trégua entre as facções criminosas, o Ceará voltou a vivenciar o aumento de mortes

Escrito por Messias Borges/ Emanoela Campelo de Melo - Repórteres ,
Legenda: Na primeira e também maior chacina deste ano, uma quadrilha invadiu uma casa de praia no Porto das Dunas e matou seis pessoas que estavam em uma festa

A violência no Ceará tomou proporções históricas neste ano. No último dia 24 de dezembro, o número de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs) - homicídios, lesões corporais seguidas de morte e latrocínios - chegou à marca de 5 mil, em 2017, de acordo com dados da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS).

O número de mortes violentas deste ano é um recorde negativo para o Estado, sendo o maior registro desde que a SSPDS começou a divulgar o índice de CVLIs, em 2013. Naquele ano, 4.395 pessoas foram assassinadas no Ceará; em 2014, foram 4.439 crimes; em 2015, 4.019; e em 2016, 3.407.

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O último balanço de CVLIs da Pasta, neste ano, foi divulgado no último dia 15 de dezembro, somando 4.681 crimes até o mês de novembro. De acordo com os registros da Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança (Ciops), divulgados no site da Secretaria, mais 273 ocorrências foram registradas até o dia 19 de dezembro. O índice chegou a 5 mil casos após 11 mortes no dia 20; sete mortes no dia 21; 13 mortes no dia 22; oito mortes no dia 23; e mais nove mortes no dia 24 de dezembro. Todos esses crimes estão presentes no 'Resumo de ocorrências' da SSPDS.

Até novembro de 2017, o aumento de CVLIs no Estado, em comparação a igual período de 2016 (que teve 3.087 ocorrências), era de 51,6%. Em média, acontecem 13 crimes por dia (a média exata é de 13,96, ou seja, quase 14 homicídios), neste ano. Enquanto o ano passado terminou com a média diária de 9 ocorrências (exatamente 9,3).

Dezenas de crimes com requintes de crueldade, como decapitação, tortura e linchamento, foram registradas. As vítimas foram pessoas de idade e sexo diferentes. Todos os bairros da Capital e todos os municípios do Estado foram manchados de sangue durante o ano.

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Neste mês de dezembro, dois crimes em especial revoltaram a população. O corpo de Marcelo Henrique Gonçalves, de apenas sete anos de idade, foi encontrado carbonizado, no bairro Mondubim, em Fortaleza, no último dia 18. De lá para cá, a família da criança segue pedindo por respostas e por justiça. Entretanto, o crime ainda é um mistério para a Polícia Civil, que ainda não prendeu nenhum suspeito nem divulgou informações sobre a investigação do homicídio.

Dois dias depois, a vítima foi um homem aposentado, de aproximadamente 60 anos de idade, que foi identificado apenas como 'Papai'. Ele foi executado com tiros no tórax, na axila, no braço e no abdômen, no bairro Padre Andrade, também na Capital. Ninguém foi preso pelo homicídio até o momento e a motivação do crime não foi divulgada pela Polícia.

Facções criminosas

Após dois anos de queda dos CVLIs, em 2015 e 2016, devido à trégua entre as facções criminosas, o Estado voltou a vivenciar o aumento da violência neste ano. O embate entre as organizações Comando Vermelho (CV) e Guardiões do Estado (GDE), pelo domínio do tráfico de droga em localidades na Capital, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) e até mesmo no Interior, impulsionou o crescimento de homicídios.

Seis chacinas (ações criminosas com mais de três mortos) foram registradas, neste ano, no Ceará. A maioria delas foi motivada pela briga entre facções criminosas. Na primeira e também maior matança deste ano, no dia 3 de junho, uma quadrilha invadiu uma casa de praia no Porto das Dunas, em Aquiraz, enquanto ocorria uma festa, e atirou contra todos os presentes, matando seis pessoas.

No dia 12 de junho, uma festa de aniversário que era realizada no município de Horizonte foi interrompida por criminosos armados, que mataram cinco pessoas - entre elas uma criança de apenas três anos de idade e a sua mãe. Em 20 de julho, quatro homens foram executados a tiros por um bando, em Paraipaba.

Quatro homens também foram assassinados, em uma emboscada montada por outros membros do mesmo grupo criminoso que as vítimas, no dia 8 de outubro deste ano, no bairro Bom Jardim, em Fortaleza. Em 13 de novembro, as vítimas foram quatro adolescentes, que foram retiradas do Centro de Semiliberdade Mártir Francisca, na Sapiranga, para serem executadas pelos criminosos.

A última chacina registrada no ano teve uma motivação passional, segundo a Polícia. Um homem incendiou uma residência, em Ipueiras, matando a sua companheira e os três filhos dela (que eram enteados do acusado), no dia 4 de dezembro. A principal linha de investigação da Polícia Civil é que o crime foi motivado por ciúmes.