Empresário acusado de mandar matar advogado em Fortaleza é inocentado; ex-PMs vão a julgamento
O juiz entendeu que não havia provas para levar o empresário a júri popular e também revogou a prisão domiciliar dele
A Justiça Estadual decidiu levar a júri popular dois ex-policiais militares, José Luciano Souza de Queiroz e Glauco Sérgio Soares do Bonfim, pelo assassinato do advogado Francisco Di Angellis Duarte de Morais, em Fortaleza. Em contrapartida, o empresário Ernesto Wladimir de Oliveira Barroso, apontado como mandante do crime, foi inocentado.
A sentença de pronúncia foi assinada pela 1ª Vara do Júri na última segunda-feira (19). O juiz Antônio Edilberto Oliveira Lima acolheu parcialmente o pedido de pronúncia (isto é, de levar os réus a julgamento) formulado pelo Ministério Público do Ceará (MPCE).
José Luciano e Glauco Sérgio devem ser julgados por homicídio duplamente qualificado (por motivo torpe e mediante recurso que dificultou a defesa da vítima). O julgamento ainda não tem data marcada e ainda cabe recurso da decisão.
"Por outro lado, na forma do artigo 414, do CPP, impronuncio o acusado Ernesto Wladimir Oliveira Barroso, por ausência de convencimento quanto aos indícios suficientes de autoria ou de participação desse réu nos crimes narrados na denúncia", decidiu o magistrado.
O juiz também manteve a prisão preventiva dos dois ex-policiais militares, o que foi justificado pela "garantia da ordem pública, sobretudo pelo perigo gerado pelo estado de liberdade dos agentes, os quais permaneceram presos durante todo o processo". Já Ernesto Wladimir, que se encontrava em prisão domiciliar, teve a medida revogada.
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O que diz a denúncia do MPCE
O empresário Ernesto Wladimir Oliveira Barroso e os dois ex-policiais militares Glauco Sérgio Soares Bonfim e José Luciano Souza de Queiroz foram presos pela Polícia Civil do Ceará no dia 15 de junho de 2023, por suspeita de participarem do assassinato do advogado Francisco Di Agellis Duarte de Morais. Mandados de busca e apreensão também foram cumpridos nas residências dos alvos.
Conforme a denúncia do Ministério Público do Ceará contra o trio, o empresário Ernesto Wladimir teria encomendado a morte do advogado para se vingar de uma extorsão. Os dois ex-PMs teriam sido contratados para cometer o crime.
Dias antes do crime, o empresário teria pago R$ 800 mil para a vítima para ela excluir reportagens de um portal de notícias que colocavam em questão a 'ascensão financeira' de Ernesto.
O advogado Francisco Di Angelis Duarte de Morais, de 41 anos, estaria sendo monitorado pelos criminosos - inclusive com uso de um rastreador no seu veículo.
A reportagem apurou que policiais civis da 6ª Delegacia do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) descobriram que dois homens estiveram, em um carro, no local de trabalho de Francisco Di Angelis, uma torre empresarial no bairro Edson Queiroz, em busca de saber qual era o veículo do advogado, na manhã de 24 de abril de 2023.
Os dois homens informaram a funcionários do empreendimento que tinham interesse em comprar o carro. Um deles foi reconhecido por testemunhas como o ex-policial militar José Luciano Souza de Queiroz.
O advogado foi assassinado no dia 6 de maio de 2023, na porta de casa, no bairro Parquelândia, em Fortaleza. Ele foi surpreendido pela aproximação de uma motocicleta com dois homens - apontados pela acusação como os ex-policiais militares.
Para o MPCE, "a dinâmica do crime demonstra um meticuloso estudo da vítima, eis que o atirador se deu ao trabalho de efetuar os disparos somente após a vítima desembarcar do veículo, não efetuando disparos diretamente na lataria do carro, assim, evitando que a ação homicida fosse frustrada, caso o veículo fosse blindado".
Outro empresário denunciado por extorsão
Outro empresário foi denunciado no suposto esquema de extorsão que resultou na morte do advogado Francisco Di Angelis Duarte de Moraes.
A Polícia Civil do Ceará (PCCE) indiciou o empresário Lúcio José de Menezes, em outubro do ano passado, e, no mês seguinte, o Ministério Público do Ceará o denunciou por extorsão.
De acordo com a acusação, Lúcio foi a pessoa que intermediou a extorsão, tendo como vítima o empresário Ernesto Wladimir de Oliveira Barroso. No dia 6 de dezembro de 2024, a denúncia foi aceita por meio do juiz da 13ª Vara Criminal .
Quando interrogado pelos investigadores, Lúcio disse que conheceu Francisco Di Angellis Duarte de Moraes em 2021, "pois pretendia se candidatar a deputado estadual e buscava os serviços do referido advogado no âmbito eleitoral. Desistiu de concorrer e não mais manteve contato com Francisco".
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), também mandou a Polícia Federal (PF) investigar o deputado federal Júnior Mano por suposta participação no esquema de extorsão.
Wladimir disse, em depoimento, que foi procurado pelo deputado federal Júnior Mano, "que, por tê-lo beneficiado em emendas para a área da saúde 'exigiu-lhe a entrega da correspondente contribuição'. Disse, porém, que se negou a pagá-lo, alegando que mudara a sua atuação para o ramo de combustíveis".
Por trás da morte do advogado, há uma sequência de ameaças e exigência de pagamento de valor milionário em troca de retirar notícias de um site que falavam da ascensão econômica de um empresário dos ramos de cooperativa de saúde e postos de combustíveis.