'Consórcio com criminosos': dois PMs que estavam foragidos após operação do MPCE são capturados
Os 16 policiais militares alvos da Operação Kleptonomos já estão detidos. O grupo é acusado de crimes como extorsões, tráfico de drogas e tráfico de armas
Dois policiais militares, que estavam foragidos da Operação Kleptonomos, deflagrada pelo Ministério Público do Ceará (MPCE) na manhã da última terça-feira (29), foram localizados e presos, algumas horas depois. Com isso, os 16 PMs alvos da Operação já estão detidos, no Presídio Militar, em Fortaleza.
A reportagem apurou que os militares foram presos ainda no fim da tarde da última terça. Um policial foi preso em Fortaleza e o outro, no Interior do Estado.
Os PMs são acusados de integrar uma organização criminosa que se aliava a criminosos para cometer extorsões, tráfico de drogas, tráfico de armas e outros crimes, em localidades da Grande Messejana, em Fortaleza.
Conforme as investigações, os policiais militares identificavam criminosos que podiam estar na posse de ilícitos ou eram considerados foragidos da Justiça (pois estavam com mandados de prisão em aberto) para extorqui-los. A quadrilha utilizava até sistemas oficiais da Polícia para obter as informações e realizava as abordagens em serviço, com uso de farda e viatura da Polícia Militar do Ceará (PMCE).
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[ATUALIZAÇÃO às 15h24]
A defesa técnica de sete policiais militares alvos da operação, formada pelos advogados Manuel Micias Bezerra, Francisco Jose Sabino Sá e Filipe D `Avila disse por nota que "tomou conhecimento da investigação apenas com o cumprimento das medidas cautelares de prisão preventiva e busca e apreensão, determinadas pela Justiça. Até o momento, não se teve acesso aos autos, uma vez que o procedimento tramita sob segredo de justiça. Aguarda-se, com serenidade e firmeza, a retirada formal do sigilo, o que permitirá conhecer os elementos que embasaram as medidas cautelares (prisões e busca e apreensão), inclusive a denúncia oferecida. Ressalta-se que os policiais são réus primários, possuem residência e endereço funcional fixos, e jamais se furtarão ao chamamento da justiça, o que torna as prisões desnecessárias, não havendo qualquer indicativo concreto de risco à ordem pública, à instrução criminal ou de fuga. A defesa adotará todas as medidas jurídicas cabíveis, com celeridade e responsabilidade, para restituir a liberdade dos seus constituintes, e com acesso aos autos, no momento processual apropriado, garantir a cada um o direito ao contraditório, a ampla defesa e os princípios fundamentais do devido processo legal".
Aliança com membros de facção criminosa
Além das extorsões, os policiais militares formavam "um verdadeiro consórcio com traficantes" de localidades específicas, segundo o coordenador do Gaeco.
O grupo de PMs atuava principalmente na comunidade do Pôr do Sol, no Coaçu e na Paupina - que ficam na Grande Messejana. A reportagem apurou que o tráfico de drogas, nessas regiões, é dominado pela facção carioca Comando Vermelho (CV).
As investigações do Gaeco mostraram que os agentes de segurança do Estado recebiam "cotas", pagas com frequência, para proteger os membros da facção que predomina na região.
PMs são presos e afastados das funções
A Operação Kleptonomos foi deflagrada para cumprir 16 mandados de prisão preventiva e 17 mandados de busca e apreensão, contra policiais militares acusados de integrar a organização criminosa, na última terça-feira (29). Os mandados foram cumpridos em Fortaleza, Itaitinga, Maracanaú, Pacoti e Russas, além de Maceió (no Estado de Alagoas).
Um suspeito ainda foi preso em flagrante, por estar na posse de maconha e cocaína. Uma prisão foi realizada em Maceió, onde um militar tinha residência, com apoio do Ministério Público de Alagoas.
Segundo o MPCE, o nome da Operação tem origem no grego clássico, a partir da junção de duas raízes: "klepto", que significa "roubar" ou "apropriar-se ilicitamente", e "nomos", que representa "lei", "ordem" ou "norma estabelecida". "Essa composição literal — 'aquele que rouba a lei' — traduz de forma direta a figura de quem usurpa a autoridade legal, cria regras próprias ou impõe um sistema paralelo de poder, em afronta ao ordenamento legítimo", pontua o Órgão.
O Ministério Público já ofereceu denúncia à Justiça contra os 16 policiais investigados por crimes como integrar organização criminosa, valendo-se da condição de servidor público; corrupção passiva; extorsão qualificada; e por colaborarem, como informantes, com grupo para a prática de tráfico de entorpecentes. A denúncia foi recebida, e os militares viraram réus.
Os policiais militares investigados também foram afastados das funções, por decisão judicial. A Vara da Auditoria Militar também decretou a quebra do sigilo dos dados de aparelhos telefônicos apreendidos com os PMs.
Com a apreensão dos celulares e o acesso aos dados, o Gaeco espera chegar a mais crimes e a outros suspeitos de integrar a organização criminosa, já que o grupo combinava as ações por um grupo mantido no aplicativo WhatsApp.