Assessor parlamentar é suspeito de 'rasgar a camisa' da GDE e assumir chefia do CV após morte do filho em presídio no CE

Homem foi preso em flagrante na última quinta-feira (23), mas foi solto pela Justiça Estadual no dia seguinte, em audiência de custódia

Escrito por
Messias Borges messias.borges@svm.com.br
(Atualizado às 15:02, em 30 de Janeiro de 2025)
Polícia Civil realizou a prisão em flagrante do suspeito na sua residência, na Pavuna, em Pacatuba
Legenda: Polícia Civil realizou a prisão em flagrante do suspeito na sua residência, na Pavuna, em Pacatuba
Foto: Divulgação/ SSPDS

Um homem de 50 anos, apontado pela Polícia como chefe da facção criminosa carioca Comando Vermelho (CV) em Maracanaú e Pacatuba, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), foi preso em flagrante na última quinta-feira (23), mas foi solto pela Justiça Estadual no dia seguinte, em audiência de custódia. O suspeito teria "rasgado a camisa" (ou seja, trocado de grupo) da facção cearense Guardiões do Estado (GDE) após a morte do filho em um presídio cearense, em dezembro do ano passado.

Ao ser interrogado na Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), da Polícia Civil do Ceará (PCCE), Carlos Alberto Portela sustentou que "nunca integrou organização criminosa", mas confirmou que tem conhecimento que está decretado de morte pela GDE e que sofreu uma tentativa de homicídio, também em dezembro de 2024. Ele afirmou que trabalha como assessor parlamentar de um vereador de Maracanaú e que também é proprietário de um abatedor de animais. A defesa do suspeito não foi localizada para comentar o caso, mas o espaço segue em aberto.

[ATUALIZAÇÃO] Após a publicação da reportagem, a Câmara dos Vereadores de Maracanaú emitiu nota em que rebateu que "o senhor Carlos Alberto Portela não exerce a função de assessor parlamentar nesta Casa Legislativa, não faz parte do quadro de colaboradores da Câmara e, portanto, seu nome não consta na relação de servidores presente no relatório de transição da legislatura passada".

"Diante das informações veiculadas recentemente, reforçamos nosso compromisso com a transparência e a veracidade dos dados funcionais desta instituição", completou a Câmara.

Conforme o Portal da Transparência da Câmara dos Vereadores de Maracanaú, Carlos Alberto Portela trabalhou como assessor parlamentar da Casa entre 2013 e 2019.

Entretanto, Carlos Alberto Portela se identificou como assessor parlamentar de um vereador do Município à Polícia Civil e apresentou, inclusive, uma carteira funcional da Câmara. A defesa do suspeito foi procurada pela reportagem e manteve a informação que Carlos Alberto atuou normalmente como assessor parlamentar até o fim do ano passado e espera retornar à função com a nomeação dos cargos comissionados da nova legislatura. A Polícia Civil investiga a informação.

A advogada Raphaele Holanda Farrapo, que representa Carlos Alberto, emitiu uma nota, após a publicação da reportagem, em que afirma que o cliente foi alvo de uma "prisão irregular". "O acusado fora notificado para prestar esclarecimentos em sede de Delegacia de Polícia quando, ilegalmente, fora-lhe dada voz de prisão em flagrante. Acertadamente a justiça cearense restabeleceu sua liberdade tão logo tomou conhecimento da deplorável ação policial", considerou.

A defesa sustenta que o "ordenamento jurídico pátrio ainda prevê o Princípio da Intranscendência da Pena, que preconiza que ninguém deve ser responsabilizado por atos e ações de terceiros, sejam eles familiares ou não". O filho de Carlos Portela foi assassinado dentro do presídio e outro filho teria sido decretado por uma facção criminosa. Carlos Alberto teria sofrido duas tentativas de homicídio, em dezembro do ano passado e janeiro deste ano, segundo a defesa.

"Os fatos serão devidamente esclarecidos em momento oportuno e, para isso, colaboraremos com a autoridade policial, que detém a atribuição para apurar os fatos e trazer à baila a verdade além de confiarmos que a justiça prevalecerá", conclui a defesa.

Conforme documentos obtidos pelo Diário do Nordeste, o 4º Núcleo Regional de Custódia e das Garantias (Caucaia) converteu a prisão em flagrante de Carlos Alberto Portela em liberdade provisória, com aplicação de medidas cautelares, como obrigação de manter o endereço atualizado e comparecer a todos os atos processuais, na última sexta (24).

A decisão judicial atendeu o pedido da defesa de Carlos Alberto de relaxamento da prisão em flagrante. O Ministério Público do Ceará (MPCE) requereu a decretação da prisão preventiva do suspeito, mas não foi atendido. 

Carlos Alberto Portela, de 50 anos, se identificou para a Polícia Civil como assessor parlamentar e empresário
Legenda: Carlos Alberto Portela, de 50 anos, se identificou para a Polícia Civil como assessor parlamentar e empresário
Foto: Reprodução

Carlos Alberto Portela, conhecido como 'Beto Dois', foi preso pela Polícia Civil na sua residência, no bairro Pavuna, em Pacatuba. Segundo os policiais civis que realizaram a prisão, o homem de 50 anos "rasgou a camisa" da GDE e assumiu a liderança do CV na Pavuna e nas regiões da Pajuçara e Jardim Bandeirantes, em Maracanaú.

Os investigadores apontaram um aumento de homicídios nessas regiões, nas últimas semanas, devido à disputa entre as duas organizações criminosas por territórios para o tráfico de drogas. 

'Beto Dois' foi decretado de morte pela facção Guardiões do Estado, conforme as investigações da Draco. Ao realizar diligências em busca do suspeito, os agentes encontraram "soldados de guerra" do Comando Vermelho, armados, fazendo a segurança do chefe do grupo criminoso.

Os policiais justificaram a prisão em flagrante de Carlos Alberto, no inquérito, pelo fator de que "o crime de integrar organização criminosa é permanente, enquanto o infrator permanecer no coletivo criminoso". Entretanto, nenhum ilícito foi apreendido com o suspeito.

Veja também

Morte do filho em presídio

Os investigadores da Draco também apontaram que Carlos Alberto Portela "rasgou a camisa" da GDE após o seu filho ser morto pela facção criminosa, dentro do Sistema Penitenciário do Ceará.

Paulo Roberto Ferreira Portela, o 'Paulim', foi assassinado na Unidade Prisional Professor Clodoaldo Pinto (UP-Itaitinga 2), durante o banho de sol dos detentos, na manhã de 27 de dezembro do ano passado. Ele respondia a crimes como homicídio, receptação e posse ou porte ilegal de arma de fogo.

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detentos foram autuados em flagrante pelo homicídio: Ítalo Bruno Lima, Antônio Iairon Andrade de Sousa, Francisco Isaac da Silva Oliveira Caracas, Lucas Matheus Cavalcante de Oliveira, Jonathan Lopes Duarte, José Carlos Venâncio de Souza, Francisco Wilton Cosme Siqueira e Anderson da Silva Santiago.

Ao serem interrogados na Delegacia Metropolitana de Itaitinga, da Polícia Civil, os suspeitos preferiram se manter em silêncio. O processo criminal foi encaminhado a uma Vara do Júri, da Justiça Estadual.

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