'Assassinato por encomenda': empresário e policial são indiciados por crime no Luciano Cavalcante
O cabo Rodrigo Aguiar Braga também é investigado pela morte do empresário dono de rádio Vinícius Cunha Batista
Quase cinco anos após uma tentativa de homicídio no bairro Luciano Cavalcante, um empresário e um policial militar foram indiciados pela Polícia Civil do Ceará por meio da Delegacia de Assuntos Internos (DAI). O PM é Rodrigo Aguiar Braga, com nome conhecido pelas autoridades por estar envolvido em outros crimes contra a vida, sendo conhecido como 'matador de aluguel'.
De acordo com relatório da DAI, Rodrigo foi contratado pelo empresário Francisco Alan de Almeida Vasconcelos para assassinar um ex-funcionário dele: "a investigação revelou que Alan teria solicitado a Rodrigo que 'resolvesse' a situação, o que culminou na tentativa de execução da vítima".
A defesa de Francisco Alan de Almeida Vasconcelos, representada pelo advogado Antônio Edgar Vasconcelos Oliveira, disse que tomou "conhecimento do relatório final confeccionado pela autoridade policial e dele lamenta a existência de erros grosseiros que vão desde a nomenclatura de crimes distante dos que foram narrados à clara dúvida da própria autoridade policial quanto a existência do crime investigado e mesmo assim ainda representou criminalmente um inocente pela força da pressão exercida mídia em relação a caso paradigma".
"Meu cliente está sendo indiciado por um crime doloso tentado, com base no crime que lamentavelmente vitimou o radialista Vinicius Cunha Batista e não pelo que não foi encontrado nas investigações sobre o caso concreto. Lamentamos a parcialidade da autoridade policial ao mesmo tempo que lembramos à toda a sociedade que o sentimento envolvido em uma investigação é ruim para a pessoa que se vê no banco dos réus e para a própria vítima, pois o verdadeiro responsável pelo fato resta protegido pelo indiciamento errado, motivado pelo sentimento e pressão exercida pela mídia sobre a autoridade policial. A defesa e o próprio indiciado aguardam a sentença de absolvição, pois outra não é esperada diante da investigação tendenciosa"
Já a defesa de Rodrigo Aguiar Braga não foi localizada pela reportagem. O espaço segue aberto para futuras manifestações e a matéria será atualizada, se algum posicionamento for recebido pela reportagem.
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CONTRATADO PARA MATAR
O cabo da Polícia Militar do Ceará (PMCE) foi preso já neste ano pela morte do empresário dono de rádio Vinícius Cunha Batista, executado quando saía de uma padaria na mesma região do crime anterior. Rodrigo também é suspeito pelo homicídio da servidora pública da Prefeitura do Eusébio, Maria Madalena Marques Matsunobu, de 64 anos.
"Alan era próximo de, pelo menos, um policial envolvido com assassinatos por encomenda, conforme ficou demonstrado com a prisão de Rodrigo Aguiar em 2025".
No dia 28 de outubro de 2020, o militar teria efetuado quatro disparos contra um adolescente de 17 anos, a mando do ex-patrão da vítima. O jovem estava em uma oficina quando foi surpreendido pelos disparos. Foi atingido, socorrido, internado e sobreviveu ao ataque.
A tese de que Alan teria ordenado o crime foi reforçada quando o sobrevivente contou às autoridades que dias antes foi ameaçado por Francisco Alan.
A vítima diz que ouviu do ex-patrão: "eu tenho vários policiais que fazem o serviço para mim", frase que foi interpretada como "uma ameaça velada e indicativa de que o crime foi praticado mediante paga ou promessa de recompensa".
A motivação do crime, segundo a vítima e testemunhas, estaria relacionada a desavenças pessoais. As testemunhas apontaram Francisco Alan como o suspeito de ordenar o crime, em razão de um envolvimento amoroso do rapaz com a enteada do empresário e de um furto ocorrido na oficina de propriedade do empresário, onde o adolescente trabalhava.
O empresário estaria acusando o ex-funcionário de cometer o roubo e o perseguindo, segundo familiares do jovem. Já o policial militar Rodrigo Braga teria procurado o adolescente no novo local de trabalho, por alguns dias antes da tentativa de homicídio e passado a monitorar a rotina da vítima.
"A dinâmica do crime, com disparos súbitos em ambiente fechado, sem qualquer possibilidade de reação por parte das vítimas, evidencia o emprego de recurso que dificultou a defesa da vítima"
CÂMERAS E LAUDOS
No decorrer da investigação, a DAI analisou câmeras de segurança e laudos das mídias audiovisuais que captaram a chegada e a fuga dos autores do crime em um veículo Volkswagen Gol de cor escura, compatível com a descrição fornecida pelas testemunhas.
"A investigação reuniu um conjunto robusto de elementos de convicção que apontam, deforma clara e consistente, para a autoria do crime por parte do policial militar Rodrigo Aguiar Braga, bem como para a dinâmica e motivação dos fatos. Tais elementos, conjugados, conferem elevada credibilidade à hipótese criminal delineada", conforme trecho do documento do indiciamento.
Para a Polícia Civil, Francisco Alan se revelou como "o único indivíduo com motivação concreta e relevante para desejar a eliminação da vítima, reunindo, ademais, os meios necessários à consumação do crime, notadamente em razão da estreita relação de confiança que mantinha com o executor, descoberto como integrante de um grupo de policiais que matava por dinheiro".
ASSASSINATOS
O militar está preso desde o dia 9 de maio deste ano de 2025, em razão de um mandado de prisão relacionado à morte de Vinícius Batista. Dias antes, Rodrigo também teria participado do homicídio de Maria Madalena Marques Matsunobu, funcionária da Secretaria da Cultura do Eusébio e presidente da Associação de Artesãos do Eusébio (Aarte).
Ela morava sozinha, na Rua das Rosas, bairro Urucunema, e teve a casa invadida e foi assassinada enquanto dormia, na madrugada de 5 de abril de 2025, no Eusébio, Região Metropolitana de Fortaleza.
A reportagem apurou que a ação criminosa foi silenciosa: o criminoso arrombou a porta da casa, foi até o quarto da idosa e efetuou os disparos para matá-la. Depois, ele fugiu. Na manhã seguinte, familiares e amigos estranharam a falta de comunicação de Maria Madalena e foram até a residência. O portão estava aberto, com sinais de arrombamento, e a mulher já estava morta, na cama onde dormia.
Já a execução de Vinícius Cunha Batista aconteceu no último dia 30 de abril. No local, foram encontradas munições calibre 380. Além de Rodrigo foram presos outros dois PMs sob suspeita de matar o empresário: os soldados Rebeca Júlia de Almeida Canuto e Wellington Xavier de Farias.
Vinícius estava sozinho quando foi abordado pelos criminosos, saindo de uma reunião na padaria. O empresário tinha completado 47 anos na data do assassinato.