Após 3 anos e 9 meses, sobreviventes e testemunhas da Chacina das Cajazeiras serão ouvidos nesta sexta

O massacre motivado por disputa de território entre facções rivais deixou 14 mortos e 15 feridos. Não há previsão para o julgamento

Escrito por Emanoela Campelo de Melo , emanoela.campelo@svm.com.br
chacina forro do gago
Legenda: A investigação apontou que líderes de uma facção criminosa ordenaram a chacina
Foto: Cid Barbosa

Começam nesta sexta-feira (28) as audiências no Poder Judiciário para ouvir sobreviventes e testemunhas de um dos maiores massacres da história do Ceará. Após três anos e nove meses do episódio que ficou conhecido como Chacina das Cajazeiras, deve-se iniciar a fase de instrução processual para dar andamento ao caso na Justiça Estadual.

A expectativa é que a partir das 8h30 o primeiro sobrevivente preste depoimento virtual. As audiências devem se estender até a tarde desta sexta-feira (28) e estão programadas para acontecerem até o próximo dia 5 de novembro.

O Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) afirmou que em uma semana "espera-se ouvir 32 pessoas arroladas pelo Ministério Público, sendo 15 vítimas sobreviventes e 17 testemunhas".

14 pessoas mortas
dentro e no entorno do Forró do Gago, no dia 27 de janeiro de 2018

A reportagem apurou que todas as audiências acontecerão por videoconferência e com a presença dos réus, mas preservando a imagem das vítimas e das testemunhas convocadas pela acusação. Parte daqueles que serão ouvidos estão no Programa de Proteção à Testemunha.

Neste meio tempo, entre o ocorrido e o início da instrução processual, um dos acusados morreu (Rennan Gabriel da Silva) e é observada dificuldade dos oficiais de Justiça em localizar todos os sobreviventes para testemunharem, porque muitos mudaram de número telefônico ou de endereço.

DENUNCIADOS PELO CRIME

Além de Rennan, foram denunciados por participar da chacina:

  • Auricélio Sousa Freitas
  • Ayalla Duarte Cavalcante
  • Deijair de Souza Silva
  • Ednardo dos Santos Lima
  • Fernando Alves Santana
  • Francisco de Assis Fernandes da Silva
  • Francisco Kelson Ferreira do Nascimento
  • João Paulo Felix Nogueira
  • Joel Anastácio de Freitas
  • Misael de Paula Moreira
  • Noé de Paula Moreira
  • Ruan Dantas da Silva
  • Victor Matos de Freitas
  • Zaqueu Oliveira Silva

Anteriormente estavam previstas videoconferências nos dias 25 e 26 de outubro de 2021, nas Unidades Prisionais Federais de Catanduvas, Paraná, e Campo Grande, Mato Grosso do Sul. São nestas prisões onde estão recolhidos os acusados Noé de Paula Moreira, Misael de Paula Moreira e Francisco de Assis Fernandes da Silva.

Porém, não havia disponibilidade de vagas nas salas com aparato virtual e os advogados dos réus não dispensaram as presenças dos mencionados para a realização das audiências.

A advogada Paloma Gurgel afirmou em nome da defesa de Deijair de Souza Silva que está convicta de que as audiências serão esclarecedoras para a sua impronúncia.

"Deijair está preso desde fevereiro de 2018, onde espera por uma prestação jurisdicional eficiente e comprometida com a verdade. Mas não é o que estamos vivenciando. Ainda assim, a defesa segue confiante de sua inocência mesmo sabendo que seu interrogatório só se dará em março de 2022".

Já o advogado André Quezado, representante dos denunciados Noé e Misael, destacou estar na expectativa aguardando designação de novas datas para oitivas dos seus clientes.

Por nota, o TJCE ainda afirmou que após as oitivas das testemunhas de acusação, novas datas serão designadas para oitiva das testemunhas de defesa e interrogatórios dos réus.

"O referido caso está inserido em iniciativas que visam acelerar o julgamento de processos, como o Programa Tempo de Justiça – sistema que acompanha homicídios, com autoria esclarecida -  e o Masp - Movimento de Apoio ao Sistema Prisional – programa que busca priorizar e acelerar o julgamento de processos de réus multidenunciados, que respondam a seis ou mais processos criminais. As duas iniciativas são ferramentas utilizadas pelo Tribunal e demais instituições que compõem o sistema de Justiça", disse o TJ.

A CHACINA 

A Justiça acolheu a denúncia ofertada pelo Ministério Público do Ceará (MPCE) em dezembro de 2018. Segundo o MP, o crime foi praticado a mando dos chefes de uma facção local, que pretendiam matar integrantes do grupo rival fundado no Rio de Janeiro. 

Deijair, Misael, Noé, e Zaqueu foram apontados na investigação como mandantes do massacre. Atualmente, o processo principal do caso se aproxima das quatro mil páginas.

 

 

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