Trio acusado de matar travesti a facadas e pauladas durante Carnaval em Fortaleza não vai a júri

Mirela foi acusada de abusar sexualmente de uma criança, e foi perseguida e teve a casa invadida por três homens

Três homens acusados de matar a travesti Mirela Ferreira da Silva a facadas e pauladas durante o Carnaval de 2023 no bairro Floresta, em Fortaleza, não irão a julgamento. A Justiça decidiu no último dia 26 de março pela impronúncia de dois deles e pela absolvição sumária de outro — pois o juiz definiu que os elementos presentes nos autos do são suficientes para a inocência da pessoa. 

Mirela foi assassinada dentro de casa em um sábado de Carnaval, no dia 18 de fevereiro do ano passado, por três suspeitos. Ela foi esfaqueada e levou golpes de barrotes de madeira e de barra de ferro, e não resistiu aos ferimentos graves.

Conforme documentos que a reportagem teve acesso, o Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) afirmou que a travesti foi acusada de cometer abuso sexual contra uma criança de seis anos, filha de um dos agressores. Uma discussão se iniciou na rua, mas Mirela foi para casa e acabou trancada pela mãe dela, que saiu para trabalhar. 

O fato não impediu os agressores arrombassem a residência e iniciassem a sequência de violência contra Mirela. Ela foi encontrada pelo seu pai, que a levou ao Instituto Doutor José Frota (IJF). No entanto, Mirela não resistiu aos ferimentos. 

Apesar de dois deles terem sido impronunciados pela 2ª Vara do Júri da Comarca de Fortaleza, ainda é possível que sejam acusados caso surjam novas provas. Eles também podem ser processados pelo crime de organização criminosa.

No caso do terceiro, o absolvido, o MPCE e a Justiça acreditam que ele foi confundido com seu irmão, devido aos sobrenomes iguais. O homem foi solto em setembro do ano passado, após expedição de um alvará de soltura. 

Não há informações processuais sobre o irmão, que seria o real participante da ação criminosa que culminou na morte da travesti Mirela. 

Morte ordenada por líder de facção

Segundo o MPCE, um dos acusados, atualmente impronunciado, é líder uma facção criminosa de carioca com atuação no Ceará, no Conjunto Habitacional Vila do Mar I, e foi o mandante da morte. Ele contratou outras duas pessoas e foi até a casa de Mirela para matá-la. 

Para o órgão ministerial, o "conjunto de evidências sinaliza para a perpetração de homicídio de modo que impossibilitou à vítima qualquer reação defensiva". 

A peça acusatória ainda pontuava que os então denunciados se associavam para diversos crimes, pois são pertencentes a uma organização criminosa, "visando a prática de um número indeterminado de crimes, não apenas de homicídios, como também de tráfico de drogas, ameaças, extorsões, portes de arma de fogo, roubos e etc".