Ponte metálica completa 100 anos

A obra representou um marco da Engenharia na época, com material e tecnologia vindos da Inglaterra

Escrito por Honório Barbosa - Colaborador ,
Legenda: Ela é feita em aço, com dois vãos em arco, cada um com 80 metros
Foto: Fotos: Honório Barbosa

Iguatu. A ferrovia provocou profundas mudanças na urbanização desta cidade, na região Centro-Sul do Ceará, e impulsionou o seu crescimento econômico e social. Após a chegada dos trilhos e inauguração da Estação de Trem, em 1910, era preciso construir a ponte sobre o Rio Jaguaribe, vencer o vão livre e dar prosseguimento à Estrada de Ferro em direção ao Sul do Estado. A obra representou um marco da Engenharia na época e neste ano completa 100 anos.

Tecnologia Inglesa

A ponte ferroviária metálica é considerada o cartão-postal da cidade, um símbolo do desenvolvimento local, um desafio para a Engenharia, ainda no começo do século XX. Foi construída por engenheiros ingleses. Enquanto os operários abriam picadas e instalavam trilhos, aguardava-se a chegada das peças da Inglaterra e a montagem demorou quase seis anos.

De acordo com pesquisa em documentos históricos da extinta Rede Ferroviária Federal, feita pelo engenheiro César Albuquerque Marques, a ponte metálica ferroviária sobre o Rio Jaguaribe, nesta cidade, foi construída pela companhia inglesa "South American Railway Construction Company Limited", que assumiu, em 1910, por meio de regime de arrendamento, as operações de prolongamento das ferrovias no Ceará: A Estrada de Ferro Baturité e a Estrada de Ferro Sobral.

Em 1909, aquelas duas ferrovias foram fundidas e surgiu uma nova empresa, denominada Rede Viação Cearense (RVC). Com o novo contrato, os ingleses criaram a "Brazil North Eastern Railway", com o objetivo de construir as estradas de ferro no Ceará.

A nova empresa ferroviária encontrou construído ou em fase de conclusão o trecho Girau, na atual cidade de Piquet Carneiro, e Afonso Pena, atual Acopiara. A Estação de Iguatu foi inaugurada oficialmente em 5 de Novembro de 1910.

"A mencionada obra, que na época foi um marco da engenharia, foi construída e projetada pela companhia inglesa e as estruturas metálicas fabricadas em Liverpool", recorda César Albuquerque.

Características

A ponte metálica sobre o Rio Jaguaribe consta de dois vãos em arco com 80 metros cada, totalizando 160 metros de extensão. O equipamento foi inaugurado, após vários testes, no dia 23 de Janeiro de 1916, permitindo o tráfego ferroviário para o distrito de José de Alencar, cuja estação foi inaugurada em 30 de março de 1916.

O arquiteto e urbanista Paulo César Barreto destaca a beleza da ponte ferroviária sobre o Rio Jaguaribe. "Tem um desenho elegante, com arcos. Não fere a paisagem e dá um visual bonito à cidade", frisou. "É a identidade, o cartão postal de Iguatu".

Barreto lembra que, em algumas barras, há inscrição "aço da Inglaterra". "No início do século passado, o Brasil não produzia aço, a Engenharia era incipiente e foi preciso importar material e tecnologia", disse. "Não se usava parafusos, mas rebites a quente, batidos e virados".

Marco da Engenharia

Mesmo sem manutenção há décadas a ponte ferroviária permanece em bom estado de conservação. "É uma pena não ter manutenção, mas é um marco da engenharia que precisa ser preservado", disse. Há quatro anos, a Prefeitura instalou um sistema de iluminação de cores variadas para destacá-la, mas o projeto, na prática, não surtiu o efeito esperado e logo deixou de funcionar.

No Município, há outras duas pontes menores, no distrito de Suassurana, sobre o Rio Trussu, e no Riacho Araras. São obras que integraram o projeto da ferrovia da antiga Vila da Telha (Iguatu). Paulo César Barreto faz um paralelo entre a implantação da ferrovia há um século e a atual obra de construção da Transnordestina. "No passado, talvez por ter recursos limitados, o traçado da linha férrea evitou confrontos com serras, aterros imensos, demonstrando um estudo de topografia bem elaborado", comparou. "Nas obras atuais, há mais pontes, cortes e aterros elevados, com agressões à natureza".

Em 2010, ocorreu o centenário da chegada do trem a esta cidade. A ferrovia trouxe o crescimento da antiga Vila da Telha, impulsionando os negócios, favorecendo o transporte de passageiros e de produtos agropecuários. Deixava-se de transportar mercadorias em lombos de animais, em tropas de burro, para usar vagões puxados por uma máquina a vapor, a Maria Fumaça. Com isso, ganhava-se tempo e dinheiro.

A chegada da ferrovia foi um acontecimento histórico que mudou significativamente o destino deste centro urbano, que passou a ser um dos cinco maiores do Interior do Ceará. Provocou profundas transformações no cenário urbano, nos hábitos de vida e aproximou mais esta cidade da capital cearense. As comunicações ficaram mais fáceis e foram modernizadas. A estrada de ferro ligando Iguatu a Fortaleza foi inaugurada oficialmente em 5 de novembro de 1910.

Inauguração festiva

A solenidade festiva de inauguração aconteceu em frente à casa do intendente municipal da época, Belizário Cícero Alexandrino. O presidente da Província do Ceará, comendador Antonio Pinto Nogueira Acioli, foi representado pelo juiz de Direito Alerano de Barros. O ato contou com a participação do diretor da Estrada de Ferro, Zózimo Barroso, e de centenas de moradores.

As transformações ocorridas foram visíveis a partir do funcionamento regular do trem ligando Iguatu a Fortaleza. A pesquisa histórica do advogado Luiz Barros relaciona: muitas casas foram construídas, dois hotéis foram instalados e foi preciso implantar um novo cemitério porque o antigo ficava muito próximo à estação ferroviária. A Rua do Comércio chegou até a Praça da Estação. Abriu-se um cinema, bem montado.

Um detalhe da vida social mundana não foi esquecido no relato histórico de Barros. As irmãs Batista abriram um cabaré, que reunia homens e atraia clientes aos domingos. Costumava-se beber muito no lugar.

O memorialista Wilson Lima Verde lembra que a primeira máquina a vapor foi apelidada de "Cafuringa" e a primeira que chegou a esta cidade foi a de número dez.

"A chegada do trem era um acontecimento social", conta. "Dezenas de pessoas, bem vestidas, ocupavam a plataforma da estação". Os moradores iam receber parentes, amigos, simplesmente ver quem estava viajando, desembarcando, e comprar jornais e revistas que vinham da Capital.

O projeto da ferrovia, lançada em 1870, chegou até a cidade de Baturité e depois seguiu em direção aos sertões. O trem assegurava maior rapidez para o escoamento da produção agrícola e ampliava, desse modo, comércio com a Capital.