Poder público e ONGs buscam sustentabilidade
“Os primeiros ecologistas do Ceará apareceram no Maciço de Baturité, onde existe um trabalho de mais de cem anos”. A afirmação é de Adalberto Alencar, presidente da Fundação Cultural Educacional Popular em Defesa do Meio Ambiente (Fundação Cepema), Organização Não- Governamental (ONG) que atua em parceria com o Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA), em projetos de defesa dos sistemas agroflorestais, um deles no Maciço de Baturité. Um dos projetos que tem oferecido bons resultados é o café ecológico, cultivado sem agrotóxicos, junto com outras culturas.
No Maciço de Baturité, o café é plantado à sombra de grandes árvores, como ingazeiras, sem o uso de agrotóxicos e em consórcio com a banana, o mamão, a goiaba, o feijão e a acerola, resultando num produto ecológico, que respeita o meio onde nasce, cresce e é colhido.
Batizado como “Pico Alto” - numa referência ao ponto mais alto do Maciço, com 1.114 metros de altura - foi lançado em março de 2003, pela Cooperativa Mista dos Cafeicultores Ecológicos do Maciço de Baturité (Comcafé) e é cultivado nos municípios de Aratuba, Baturité, Guaramiranga, Mulungu e Pacoti.
Atualmente certificado pela Cepema, ele foi exportado para a Suécia em 1996 e 1997. Depois se voltou para o mercado interno e passou a ser comercializado por grandes supermercados do Ceará e de São Paulo. Mas, os produtores cooperados já investem novamente na exportação.
O objetivo da Fundação Cepema é resgatar práticas antigas, com o plantio sombreado, evitando a agressão ao solo e à vegetação da serra, preservando a flora e a fauna da Área de Proteção Ambiente (APA) do Maciço de Baturité. “O grande problema é que a nossa tradição agrícola ocidental não se adapta aos trópicos. As espécies exóticas são uma grande ameaça aos nossos ecossistemas”, afirma Adalberto Alencar.
Para isso, os produtores vêm sendo conscientizados sobre a necessidade de evitar o desmatamento e as queimadas, cujas marcas ainda estão presentes, em áreas que lembram mais a aridez do sertão que a exuberância da Mata Atlântica, como no assentamento de Nossa Senhora de Aparecida do Souza.
Lá está em andamento o “Projeto de Desenvolvimento de Sistemas Agroflorestais na Mata Atlântica do Maciço de Baturité”, da Fundação Cepema. Trata-se de um convênio com a Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), com uma equipe multidisciplinar, visando à conservação, aumento da fertilidade e produtividade do solo, desenvolvido em duas áreas de assentamento agrário, no Município de Mulungu.
O objetivo é capacitar cem famílias para o manejo agroflorestal. Além do Assentamento Souza e a comunidade Jardim, que fica no entorno; é beneficiado o Santo Izidrio e as comunidades do entorno Silva, Quebrada e Jovêncio.
DOCES - Este mês, por exemplo, foram realizados dois cursos ao mesmo tempo, de Manejo Agroflorestal, com o engenheiro agrônomo Fábio Brito; e de Beneficiamento de Frutos (doces), com a economista doméstica Marluce Borges.
O curso de doces animou o Assentamento Souza. A instrutora lembrou que o objetivo inicial é promover um melhor aproveitamento dos frutos na alimentação familiar, utilizando os recursos disponíveis.
O curso começou com uma dinâmica de identificação dos frutos disponíveis no assentamento, totalizando 16 e mais aqueles que a comunidade gostaria de dispor. A coordenadora do projeto é a bióloga Carla Sales, que está feliz com a troca de experiências. “Aqui, como em todo o Ceará, eles têm a tradição do plantio do milho e do feijão”.
O trabalho da Fundação Cepema deve ser ampliado e estendido a outras áreas. A instituição conquistou o financiamento do FNMA para a realização do projeto “Assistência Técnica e Extensão Florestal”.
Maristela Crispim
editoria de Cidade