Período áureo movimentou o sertão

Escrito por Redação ,
Legenda: O crescimento de muitas cidades do sertão nordestino está relacionado com a cultura algodoeira que imperava em épocas passadas

Iguatu. O Ceará produz menos de 5% do que já colheu nas décadas de 1970 e 1980. Para aquele tempo, estima-se o cultivo de três milhões de hectares no Estado. Em 2017, calcula-se o plantio de apenas 700 hectares, segundo Valdir Silva, coordenador de oleaginosas da Ematerce.

A produção em larga escala movimentava a economia no sertão do Ceara. Havia centenas de centros produtores. O transporte do algodão em caroço para as unidades de beneficiamento ou em pluma para as indústrias têxteis na Capital seguiam a rota da CE 060, que até hoje é conhecida como 'Estrada do Algodão', por onde escorria o 'ouro branco', a riqueza da agricultura regional.

Nos meses de julho, agosto e setembro, tempo de safra, as estações ferroviárias ficavam movimentadas. Trabalhadores chegando, geralmente, com as famílias para trabalhar na colheita do algodão. Centros urbanos como Iguatu, Acopiara, Quixeramobim e Acopiara ficavam repletos de homens e mulheres vindos em busca de ocupação no campo. "Não faltava trabalho", lembra Uchoa.

Somente em Iguatu, funcionavam seis indústrias de beneficiamento da fibra. O crescimento de muitas cidades do sertão nordestino está relacionado com a cultura algodoeira. Havia geração de emprego e renda no campo e nos centros urbanos.

Iguatu desenvolveu-se graças à chegada da ferrovia, em 1910, e o plantio de algodão em larga escala. "Até meados de 1980, Iguatu cultivava entre 20 e 25 mil hectares", observou o agrônomo Jaime Uchoa. "Particularmente, não acredito na retomada do algodoeiro por causa do preço reduzido e as dificuldades de plantio em larga escala em nossa região".

Com a chegada do bicudo, no início da década de 1980, começou a ocorrer a redução do cultivo, que se tornou inviável economicamente. Aliado à praga houve mudança na modalidade de crédito rural, nas taxas de juros, e queda do preço do algodão no mercado internacional.

"Não foi apenas o bicudo que destruiu o algodoeiro no Ceará", observa o ex-secretário de Agricultura de Iguatu e produtor rural, Valdeci Ferreira. Ele lembra que havia o seguro para o financiamento rural, Proagro, que sempre socorria os agricultores. "Se houvesse excesso ou falta de chuvas, os produtores lucravam com as facilidades no crédito".

O gerente regional da Ematerce, Joaquim Virgulino Ferreira Neto, também não vê perspectiva de revitalização da cotonicultura. "Já houve outros cultivos experimentais, mas os produtores não se interessaram por causa do preço e do custo de controle da praga do bicudo", observou. "Pode ser viável para a agricultura familiar, plantio em áreas pequenas, afinal não há como pagar um dia de trabalho na roça em torno de R$ 50,00".

Virgulino Ferreira lembra que a economia local regrediu com o fim da cotonicultura. "Havia uma dependência, era monocultura, e veio a crise que perdura até hoje. Iguatu tentou o arroz irrigado nas várzeas do Orós, das lagoas e dos rios Jaguaribe e Trussu, mas é uma cultura que exige muita água, de custo elevado e de baixo valor no mercado".

Outras propostas como a de produção de fruteiras não vingaram devido à falta de assistência técnica, ataque de pragas, escassez de água. "O campo já está esvaziado e essa é a tendência para os próximos anos", frisa o agrônomo Jaime Uchoa. "A geração nova não quer saber de atividade agropecuária por causa das dificuldades".

Tendência

Uchoa avalia que a tendência será a de manutenção de núcleos de agricultura familiar. "Não vejo tendência para produção em larga escala, mas apenas a existência de núcleos produtivos familiares e isolados". Até 1985, o sertão se revestia, nessa época do ano, dos pés de algodão, a pluma embranquecia o céu e a terra. Era o chamado 'ouro branco', a riqueza motora da economia regional.