Itapipoca é destaque na luta contra o esquistossomose
No ano passado, na localidade de Ipu Mazagão, 22 pessoas tiveram resultado positivo para a doença
Itapipoca. Entre os dias 18 e 21 deste mês, uma equipe formada por 15 agentes de endemias dos municípios de Uruburetama e Tururu participou, na cidade de Itapipoca, na região Norte, do Curso de Vigilância e Controle da Esquistossomose Mansônica, doença infecciosa parasitária causada por trematódeo (Schistosoma mansoni), verme que vive na corrente sanguínea de algumas espécies de caramujos, além de seres humanos. Quando isso ocorre em humanos, a evolução da enfermidade pode variar desde formas assintomáticas, quando o hospedeiro não apresenta nenhum sintoma, até as extremamente graves.
Casos positivos
Os hospedeiros intermediários que transmitem a doença ao ser humano, são os caramujos pertencentes ao gênero Biomphalaria, que vivem na água de córregos, riachos, valas e açudes com pouca correnteza, mas bastante quantidade de matéria orgânica, como fezes, onde ovos e larvas proliferam. Nestes locais, que também se concentram comunidades de baixa renda, sem nenhum tipo de saneamento básico, como esgoto e tratamento de água, os casos podem surgir. No ano passado, Itapipoca registrou 22 casos positivos de esquistossomose. Daí, a necessidade do curso realizado naquele Município se estender para uma aula de campo às margens do Açude do Ipu Mazagão, localizado a dez quilômetros da sede, na comunidade de mesmo nome, onde os casos surgiram.
Exames
No curso, dividido em aulas teóricas e práticas, os alunos realizaram atividades de educação em Saúde naquela comunidade, além de buscar casos positivos, por meio de exames de fezes, e capturar os caramujos peculiares daquela região. Durante a atividade, foram coletadas 250 amostras para exames no Laboratório Central (Lacen). Os resultados são aguardados para os próximos 15 dias, dependendo da demanda do Lacen.
Segundo o coordenador de Saúde do Município, Mário Couto, a participação desses agentes trará como resultado uma maior atenção à comunidade. "O objetivo é avançar para que possamos ter no próprio Município uma atividade laboratorial para a realização dos exames, otimizando o tempo dos resultados e o tratamento, quando necessário", informou.
Segundo a coordenadora do Núcleo de Controle de Vetores do Estado (Nuvet), Vivian Gomes, o encontro em Itapipoca reforça a atenção sobre os casos descobertos naquela região e, também, serve como marco para a implantação do controle da esquistossomose no Município. "Todo o material coletado será recebido pelos próprios agentes de endemias, que farão levantamento anual sobre a doença", assegura.
Levantamento
De acordo com o Núcleo, em 16 anos, o número de casos de esquistossomose no Ceará caiu de 1.267 registros, no ano 2000, para 118, em 2015. Além de Itapipoca, Tururu e Uruburetama, na região Norte, também são considerados locais de foco da doença. O fator para tantos casos nestes municípios é a grande presença do caramujo Schistosoma mansoni (agente da esquistossomose), o número de pessoas infectadas e as condições de saneamento básico precário.
O inquérito do Programa de Vigilância e Controle da Esquistossomose realizou, entre 2010 e o ano passado, 171,9 mil exames em 71 municípios cearenses. Em 52 deles não houve registro de casos. Ainda de acordo com os dados, o Ceará está fora da classificação de alto, médio e baixo risco para a endemia, como ocorre em 19 outros Estados, entre eles, Alagoas, Bahia, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Sergipe e Distrito Federal. Os casos registrados no Ceará o coloca entre áreas de foco, como ocorre no Pará, Maranhão, Piauí, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Pesquisa
Mesmo com a diminuição da endemia no Ceará, o Programa de Controle da Esquistossomose (PCE) continua realizando novos inquéritos nas áreas que apresentam casos suspeitos e fatores ambientais propícios à multiplicação da endemia. A medida já identificou 12 casos positivos para esquistossomose mansoni no município de Martinópole, em 2008, e um caso em Brejo Santo, em 2010. Áreas que não eram trabalhadas na rotina.
De acordo com o PCE, todos os casos têm sido tratados com comprimido (dose única). A medicação é disponibilizada pelo Ministério da Saúde, sendo repassada aos municípios pela Secretaria da Saúde do Estado (Sesa). Entre as ações realizadas pelo órgão estadual, estão a captura dos caramujos, atividades realizadas nas escolas divulgando ações preventivas para esquistossomose e monitoramento em áreas de grande impacto hídrico, como a transposição do Rio São Francisco, em parceria com a Universidade Federal do Ceará (UFC0), realizando exames para evitar o surgimento de novos casos e a contaminação dessas reservas hídricas.
FIQUE POR DENTRO
Primeiras ações aconteceram na década de 1970
Os primeiros registros de esquistossomose no Ceará datam de 1929. Entre 1977 e 78, foi realizado o primeiro inquérito parasitológico de fezes para delimitação das áreas consideradas endêmicas. Foram identificados, na época, 16 municípios como endêmicos, apresentando alguns deles, percentuais de positividade como Baturité (31,0%), Pacoti (21,4%), Redenção (16,2%), Aracoiaba (13,2%), Guaramiranga (10,3%), Palmácia (10,1%) e Pacatuba (10,0%).
Mais informações:
Núcleo de Controle de Vetores (Nuvet)
Telefone: (85) 3101.5439
