Erguido em abril, hospital de campanha em Aracati é desmontado sem receber nenhum paciente de Covid
A estrutura foi erguida dentro do Hospital Municipal Dr. Eduardo Dias. Os equipamentos, retirados nesta semana, nunca foram utilizados
Em abril deste ano, menos de um mês após o pico da segunda onda da pandemia de Covid-19 no Ceará, um hospital de campanha começou a ser erguido na cidade de Aracati. O objetivo era ampliar a capacidade de atendimento aos pacientes infectados no município. No entanto, a unidade, cujos recursos investidos não foram divulgados pela Secretaria Municipal da Saúde e Secretaria Estadual (Sesa) da Saúde, nunca viria funcionar.
A estrutura foi erguida dentro do Hospital Municipal Dr. Eduardo Dias (Hmed) e seria equipada com 10 leitos de UTI-Covid.
Contudo, seis meses depois, todos os equipamentos foram retirados sem que a unidade nunca tivesse atendido um só paciente. O Diário do Nordeste procurou a Secretaria Municipal da Saúde.
Em nota, a pasta reconheceu que a “gerência do Hospital Municipal Eduardo Dias - HMED e da Ala Covid é de responsabilidade do município, porém a instalação da UTI por completo é de responsabilidade da Secretaria de Saúde do Ceará”.
Ainda segundo a assessoria de comunicação de Aracati, “a finalização da instalação da UTI por parte da Sesa nunca ocorreu, portanto a Gestão do Hospital Municipal não pôde assumir”. A Sesa, por sua vez, questiona a informação.
A pasta explicou que "a estrutura de campanha anexa ao Hospital Municipal Dr. Eduardo Dias, em Aracati, foi montada em parceria com a iniciativa privada. Questões técnicas relacionadas a finalização da montagem, sob responsabilidade da prefeitura do município, não permitiram que as estruturas funcionassem no tempo previsto".
A Secretaria Estadual ressaltou, porém, que mesmo sem o funcionamento da unidade de campanha, "os pacientes da região não ficaram desassistidos, sendo os de maior complexidade encaminhados através da Central de Regulação Estadual para Limoeiro do Norte e Fortaleza, em sua maioria". Os demais foram atendidos no próprio município.
Quanto aos equipamentos que seriam utilizados na unidade de campanha - 10 leitos de UTI e 10 de enfermaria - a Sesa informou que "[eles] estão sendo doados e serão utilizados na unidade hospitalar para atender a demanda regional de pacientes com outros perfis que não os de Covid-19".
A assessoria de comunicação de Aracati confirmou, ainda, que o município "para acelerar o processo [de instalação do hospital], comprou 10 respiradores". Os equipamentos foram destinados, segundo a Secretaria Municipal, ao HMED "que sempre esteve aberto e possui Unidade de Tratamento de Urgência".
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Ministério Público apura o caso
O Ministério Público do Ceará (MPCE) entrou no caso e, na semana passada, quando parte dos equipamentos foi retirada do hospital de campanha, instaurou um procedimento administrativo para acompanhar as providências adotadas pelo município.
Em nota, o órgão ressaltou que “o procedimento abrange a instalação dos leitos de UTI no Hospital Municipal Dr. Eduardo Dias e tramita na 3ª Promotoria de Justiça de Aracati”.
No último despacho do procedimento, o MPCE solicitou que o município de Aracati apresente mais informações acerca do funcionamento dos leitos de UTI e se estavam disponíveis para uso da população.
Agora, após a retirada dos equipamentos, a estrutura permaneceu erguida apenas com toldos e fiações. O Diário do Nordeste questionou à Secretaria Municipal da Saúde quando a estrutura seria retirada, mas não houve retorno.
Casos em Aracati
Quando o hospital começou a ser erguido, em 8 de abril, a cidade de Aracati estava caminhando para seu momento mais crítico, que viria a ser consolidado em maio, quando no dia 8 daquele mês - 30 dias após o começo da instalação do hospital de campanha - o município atingiu sua maior média móvel de infecções: 78. Os dados são da plataforma IntegraSus.
Hoje Aracati contabiliza 8.052 infectados e 166 mortes por decorrência da doença. Em abril, foram 1.216 registros de infecções, com 25 óbitos. No mês seguinte, 1.510 novos casos e 23 mortes. Já em junho, 799 novos infectados e 21 pessoas perderam a vida. Foram os três meses mais críticos durante a segunda onda. Época em que o hospital de campanha permaneceu de pé, mas sem funcionamento.