Cruz de prata é peça rara no Brasil
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Cruzeiro foi trazido por padres jesuítas de Portugal para Aquiraz e usado em procissões no início do século XVIII
Aquiraz. Uma peça única em altura, tamanho e riqueza de detalhes. Assim, o guia do Museu Sacro São José de Ribamar, Luciano de Brito, define a cruz processional de prata, peça mais importante entre as mais de 500 do acervo local, no Centro Histórico de Aquiraz. Trazida pelos padres jesuítas que vieram de Portugal para Aquiraz no século XVIII, a cruz é tida como um dos maiores e mais pesados cruzeiro de prata dos museus brasileiros.
São belos 2,65 metros e 27 quilos distribuídos em desenhos de anjos, figuras míticas, curvas e traços perfeitos, tudo de prata. O objeto foi trazido na segunda década do século XVIII pelos primeiros quatro padres jesuítas que chegaram em Aquiraz. A cruz era utilizada pelos religiosos para celebrar missas e fazer procissões pela cidade, daí a denominação de processional.
Ainda naquele século, o símbolo religioso foi deixado na Igreja Matriz São José de Ribamar pelos jesuítas. Desde a inauguração do museu, em 1967, pelo ex-vigário padre José Hélio Paiva, a cruz processional faz parte da coleção de peças do primeiro local destinado à exposição e conservação de artigos sacros do Ceará, o segundo do Norte/Nordeste.
Desmontável, a peça pode ser separada em oito partes da base ao topo. A conservação do cruzeiro não exige grandes cuidados, mesmo com a proximidade do museu em relação à Praia do Porto das Dunas. “Basta passar uma flanela ou um espanador de ano em ano”, diz o guia. A explicação está na resistência do metal que compõe a peça sacra.
Segurança reforçada
Segundo o historiador Régis Lopes, o cearense e ex-diretor do Museu Histórico Nacional Gustavo Barroso escreveu um artigo nos anos 50, considerando a cruz processional dos jesuítas como “uma das mais bonitas do Brasil”, devido à qualidade estética, ao refinamento de detalhes e ao trabalho artesanal bastante rico do objeto. “Essa cruz tem um significado nacional”, explica Lopes.
Para evitar quaisquer ameaças ao cruzeiro e às demais peças do acervo, a segurança do museu está reforçada e conta com homens armados 24 horas por dia. O policiamento garante também a vigilância durante as visitas de estudantes e turistas que vêm de todo o Ceará, de outros Estados e até de fora do Brasil, com entre 1.200 e 1.500 visitantes por mês.
O museu sacro é tombado pelo Governo do Estado e mantido pela Secretaria da Cultura do Ceará (Secult). Funciona no mesmo prédio onde existia a Cadeia Pública de Aquiraz, de 1742 a 1965. As grades originais da prisão ainda estão lá. O 2º pavimento do museu também é histórico, pois recebeu de 1877 a 1965, a sede da Prefeitura e da Câmara Municipal, além de um salão de festas.
Entre as 500 peças do local, estão missais, paramentos, oratórios e imagens eruditas e populares, classificadas nas coleções de imaginária, ourivesaria, mobiliário e indumentária. A maioria delas é datada dos séculos XVIII e XIX. A única não sacra é uma mesa de jacarandá de 1711, vinda da Casa do Capitão-Mor Francisco Duarte de Vasconcelos para a Câmara.
Reforma
Atualmente, está sendo feita uma reforma no museu. Antes, apenas em 1980, havia sido recuperado o piso de madeira e, em 2002, algumas peças da coleção haviam sido restauradas. Até agora, já foi feita a pintura das paredes internas e da fachada inferior. A parte de cima, porém, está suja e com o aspecto envelhecido. Além disso, uma área da calçada está esburacada e a iluminação interna é fraca — há, inclusive, algumas lâmpadas queimadas.
Conforme a gestora do lugar, Cristina Holanda, a parte superior da fachada não recebeu nova pintura porque a rede elétrica fica muito próxima da parede do museu, tornando arriscados os trabalhos no local. Para resolver a situação, está sendo fechado contrato entre a Secult e a Coelce para afastar o poste localizado na esquina do prédio. Após a conclusão da pintura, o museu ganhará nova sinalização e a calçada será recuperada, por meio de convênio com a Prefeitura. Uma avaliação do sistema elétrico também foi encomendada à Coelce, segundo a gestora.
Obras
Peças de destaque no acervo contrastam com a fachada do museu
1- Datados do século XVII, os missais são as peças mais antigas do acervo. Trazidos pelos padres jesuítas no início do século seguinte, consistem nos livros da Bíblia escritos em latim. Apenas um exemplar fica exposto.
2- A imagem de Nossa Senhora da Soledade é toda de madeira, mas só há modelagem da região peitoral para cima. O vestido esconde a armação de baixo, feita de vários pedaços de madeira. Por isso, é chamada ´santa do pau oco´.
3- O Relicário de São Sebastião veio da Igreja da Sé, de Fortaleza, no século XIX. Fica em um oratório de madeira, onde os fiéis rezavam. No meio do relicário, um círculo de prata contém um fragmento dos ossos do santo.
4- A parte superior da fachada do museu está suja e com aspecto velho. A Secult fecha acordo com a Coelce para afastar fios elétricos e poder concluir a pintura. Reforma na calçada e nova sinalização estão previstas.
ÍCARO JOATHAN
Repórter
Mais informações:
Museu Sacro São José de Ribamar, em Aquiraz:
(85) 3101.2818
Praça Cônego Araripe, 22 - Centro
Aberto de terça-feira a sábado, das 8h às 17h (domingos e segundas-feiras, mediante agendamento)
Aquiraz. Uma peça única em altura, tamanho e riqueza de detalhes. Assim, o guia do Museu Sacro São José de Ribamar, Luciano de Brito, define a cruz processional de prata, peça mais importante entre as mais de 500 do acervo local, no Centro Histórico de Aquiraz. Trazida pelos padres jesuítas que vieram de Portugal para Aquiraz no século XVIII, a cruz é tida como um dos maiores e mais pesados cruzeiro de prata dos museus brasileiros.
São belos 2,65 metros e 27 quilos distribuídos em desenhos de anjos, figuras míticas, curvas e traços perfeitos, tudo de prata. O objeto foi trazido na segunda década do século XVIII pelos primeiros quatro padres jesuítas que chegaram em Aquiraz. A cruz era utilizada pelos religiosos para celebrar missas e fazer procissões pela cidade, daí a denominação de processional.
Ainda naquele século, o símbolo religioso foi deixado na Igreja Matriz São José de Ribamar pelos jesuítas. Desde a inauguração do museu, em 1967, pelo ex-vigário padre José Hélio Paiva, a cruz processional faz parte da coleção de peças do primeiro local destinado à exposição e conservação de artigos sacros do Ceará, o segundo do Norte/Nordeste.
Desmontável, a peça pode ser separada em oito partes da base ao topo. A conservação do cruzeiro não exige grandes cuidados, mesmo com a proximidade do museu em relação à Praia do Porto das Dunas. “Basta passar uma flanela ou um espanador de ano em ano”, diz o guia. A explicação está na resistência do metal que compõe a peça sacra.
Segurança reforçada
Segundo o historiador Régis Lopes, o cearense e ex-diretor do Museu Histórico Nacional Gustavo Barroso escreveu um artigo nos anos 50, considerando a cruz processional dos jesuítas como “uma das mais bonitas do Brasil”, devido à qualidade estética, ao refinamento de detalhes e ao trabalho artesanal bastante rico do objeto. “Essa cruz tem um significado nacional”, explica Lopes.
Para evitar quaisquer ameaças ao cruzeiro e às demais peças do acervo, a segurança do museu está reforçada e conta com homens armados 24 horas por dia. O policiamento garante também a vigilância durante as visitas de estudantes e turistas que vêm de todo o Ceará, de outros Estados e até de fora do Brasil, com entre 1.200 e 1.500 visitantes por mês.
O museu sacro é tombado pelo Governo do Estado e mantido pela Secretaria da Cultura do Ceará (Secult). Funciona no mesmo prédio onde existia a Cadeia Pública de Aquiraz, de 1742 a 1965. As grades originais da prisão ainda estão lá. O 2º pavimento do museu também é histórico, pois recebeu de 1877 a 1965, a sede da Prefeitura e da Câmara Municipal, além de um salão de festas.
Entre as 500 peças do local, estão missais, paramentos, oratórios e imagens eruditas e populares, classificadas nas coleções de imaginária, ourivesaria, mobiliário e indumentária. A maioria delas é datada dos séculos XVIII e XIX. A única não sacra é uma mesa de jacarandá de 1711, vinda da Casa do Capitão-Mor Francisco Duarte de Vasconcelos para a Câmara.
Reforma
Atualmente, está sendo feita uma reforma no museu. Antes, apenas em 1980, havia sido recuperado o piso de madeira e, em 2002, algumas peças da coleção haviam sido restauradas. Até agora, já foi feita a pintura das paredes internas e da fachada inferior. A parte de cima, porém, está suja e com o aspecto envelhecido. Além disso, uma área da calçada está esburacada e a iluminação interna é fraca — há, inclusive, algumas lâmpadas queimadas.
Conforme a gestora do lugar, Cristina Holanda, a parte superior da fachada não recebeu nova pintura porque a rede elétrica fica muito próxima da parede do museu, tornando arriscados os trabalhos no local. Para resolver a situação, está sendo fechado contrato entre a Secult e a Coelce para afastar o poste localizado na esquina do prédio. Após a conclusão da pintura, o museu ganhará nova sinalização e a calçada será recuperada, por meio de convênio com a Prefeitura. Uma avaliação do sistema elétrico também foi encomendada à Coelce, segundo a gestora.
Obras
Peças de destaque no acervo contrastam com a fachada do museu
1- Datados do século XVII, os missais são as peças mais antigas do acervo. Trazidos pelos padres jesuítas no início do século seguinte, consistem nos livros da Bíblia escritos em latim. Apenas um exemplar fica exposto.
2- A imagem de Nossa Senhora da Soledade é toda de madeira, mas só há modelagem da região peitoral para cima. O vestido esconde a armação de baixo, feita de vários pedaços de madeira. Por isso, é chamada ´santa do pau oco´.
3- O Relicário de São Sebastião veio da Igreja da Sé, de Fortaleza, no século XIX. Fica em um oratório de madeira, onde os fiéis rezavam. No meio do relicário, um círculo de prata contém um fragmento dos ossos do santo.
4- A parte superior da fachada do museu está suja e com aspecto velho. A Secult fecha acordo com a Coelce para afastar fios elétricos e poder concluir a pintura. Reforma na calçada e nova sinalização estão previstas.
ÍCARO JOATHAN
Repórter
Mais informações:
Museu Sacro São José de Ribamar, em Aquiraz:
(85) 3101.2818
Praça Cônego Araripe, 22 - Centro
Aberto de terça-feira a sábado, das 8h às 17h (domingos e segundas-feiras, mediante agendamento)