Ceará tem a maior rede de pluviômetros do NE
A curiosidade do cearense sobre o volume de chuva não é de hoje e vem crescendo com a escassez
Iguatu. A Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) tem uma das maiores redes de pluviômetros do Nordeste. Eles estão instalados nos 184 municípios cearenses para monitorar o volume de chuvas. São 810 postos de observação, que contam com a boa vontade de voluntários.
Nos últimos anos, também cresceu a quantidade de aparelhos particulares nas propriedades rurais. Mas nem sempre a pluviometria observada entre um e outro instrumento é igual e esse descompasso aumenta as dúvidas entre os moradores.
Diariamente, a Funceme divulga a quantidade pluviométrica e a relação das localidades onde choveu. Esse trabalho é acompanhado por milhares de moradores, ávidos por informação sobe as chuvas, tão escassas nos últimos anos, no sertão semiárido do Ceará.
"O sertanejo quer saber onde e quanto choveu", lembra o meteorologista da Funceme Raul Fritz. "Nós cearenses temos essa necessidade de acompanhar diariamente o desenrolar da pluviometria", reforça.
A dependência da chuva para a produção de grãos de sequeiro e cheia de açudes criou no sertanejo a cultura da preocupação com o inverno. Nessa época do ano, prestes a começar a quadra chuvosa, a pergunta recorrente nas feiras livres das cidades do Interior, nos locais de trabalho e nas rodas de conversa nas calçadas entre amigos é sempre a mesma: "choveu por lá?". A indagação vai além da função fática da linguagem para iniciar um diálogo. Revela uma necessidade.
Capilaridade
As emissoras de rádio das cidades e agora as mídias sociais apresentam relação de chuvas nas diversas localidades rurais, graças aos pluviômetros particulares instalados nos sítios. Muitas dessas informações divergem na tábua da Funceme.
"Temos a melhor rede de pluviômetros do Nordeste, com ampla capilaridade, mas não há como estarmos presentes em todos os lugares", explica João Bosco Passos Accioly Filho, supervisor da Unidade de Monitoramento da Funceme.
João Bosco Passos observa que o ideal seria estar presente em todos os distritos dos 184 municípios cearenses. "Seria ótimo, mas há custo de manutenção e dependemos de voluntários que fazem o serviço de coleta de dados e de repasse das informações", explica.
A Funceme começou a instalar os pluviômetros a partir do ano de 1974. "Temos 610 ativos e cerca de 200 inativos, por desinteresse dos observadores, mudança de moradia, mas adquirimos mais de 20 unidades no ano passado e estamos expandindo a nossa rede de monitoramento", completa.
Características
Algumas Prefeituras solicitam à Funceme instalação de mais pluviômetros, cujo custo médio é de R$ 1.200, com boa durabilidade. Os equipamentos da Funceme são de inox com proveta de vidro, graduada em até 25 milímetros. Seguem um padrão internacional da Organização Meteorológica Mundial (OMM) e um modelo francês.
Há também critérios para instalação. Devem estar acima do solo 1,5 metro, em área livre, longe de plantas, galhos e imóveis. Após a chuva, a água é retirada do pluviômetro e colocada na proveta até que se esgote toda a quantidade captada.
Já os pluviômetros particulares são de plástico, menores, têm abertura de boca reduzida e exigem mais atenção na leitura dos milímetros captados, com divisão de 2,5mm entre os espaços diminutos demarcados. Custam apenas R$ 10 e muitas vezes são fornecidos gratuitamente por lojas de venda de material agropecuário e irrigação.
"É importante que o produtor acompanhe a quantidade de chuva em sua propriedade", frisa a meteorologista da Funceme Meire Sakamoto. "Quanto mais informação ele tiver, melhor". Um deles é Edvaldo Alves, que instalou um equipamento em uma área atrás da casa, no sítio Baú. "Tenho a curiosidade de acompanhar as chuvas. Muitos outros produtores têm pluviômetro. É uma tendência que cresceu bastante", conta.
Cuidados
Meire Sakamoto pondera que o pluviômetro deve estar instalado corretamente e orienta: em área livre, na altura adequada e com a boca de captação acima da haste de apoio. "O observador tem de conhecer corretamente a demarcação que indica a quantidade de milímetros para evitar leituras errôneas", disse.
Ela informou que a Funceme está fazendo testes em sua sede com o uso desses aparelhos simples, usados pelos agricultores. "Estamos comparando. Queremos verificar o grau de precisão", revela.
Outro aspecto importante que os meteorologistas da Funceme esclarecem é que é preciso observar o horário de coleta dos dados da chuva. A Funceme tem como norma o intervalo de 24 horas, entre 7h e 7h, mesmo que a chuva continue.
"Às vezes dá distorção nos dados porque um agricultor observa a quantidade de chuva em horários diferentes do da Funceme. Temos de ter o mesmo período de intervalo de tempo", esclarece Meire Sakamoto. Além desse aspecto, é preciso observar que as chuvas variam de pluviometria em um mesmo município, entre as localidades.
Críticas
João Bosco Passos disse que, muitas vezes, a Funceme recebe críticas por divergências na quantidade pluviométrica verificada em uma mesma cidade ou localidade. "Há todas essas questões, o horário da observação, o tipo de pluviômetro, o trabalho do leiturista se foi correto e a própria chuva que varia de intensidade em distâncias próximas. Se houver uma divergência elevada, temos como comprovar por meio de imagens do radar meteorológico", pondera.