Ceará registra duas primeiras mortes por Covid-19 em indígenas, segundo Sesai

Com 30 registros, o Estado também concentra o maior número de casos suspeitos da doença no povo tradicional, no Brasil

Escrito por Redação , regiao@svm.com.br
Legenda: Estado do Ceará é que tem mais casos suspeitos entre indígenas no Nordeste
Foto: Fabiane de Paula

Segundo boletim da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), do Ministério da Saúde, divulgado às 17 horas desta segunda-feira (11), o Ceará registrou as duas primeiras mortes de Covid-19 em indígenas. Segundo o órgão, com 17 registros o Estado também apresenta o maior número de infectados do Nordeste e quarto do Brasil - ficando atrás dos Territórios Indígenas (TIs) do Alto Rio Solimões (100), Manaus (29) e Parintins (20).

Uma das vítimas era agente indígena de saúde, da etnia Tabajara. Segundo nota divulgada pela Sesai, ela faleceu na manhã deste domingo (10). A paciente deu entrada, às 04h, no Hospital Municipal Francisquinha Farias Leitão, em Monsenhor Tabosa, interior do Ceará, com sintomas de falta de ar, febre, tosse, dor de garganta e baixa saturação.

"Às 05 horas foi realizado teste rápido para Covid-19, com resultado reagente. A paciente foi transferida de ambulância para o Hospital Regional Norte, em Sobral, porém, a viagem foi interrompida por acidente automobilístico", diz a nota.

Por conta do acidente, a agente de saúde precisou retornar ao Hospital de Monsenhor Tabosa para estabilização, mas não resistiu. "A causa da morte, conforme declaração de óbito, foi de doença respiratória aguda por consequência da Covid-19", destaca a Sesai. "O Distrito Sanitário Especial Indígena Ceará está realizando monitoramento e orientação a todos os seus pacientes e profissionais de saúde. As soluções empreendidas se fundamentam nas decisões adotadas pelo Comitê de Crise Distrital, com base no Plano de Contingência Nacional e no Plano Distrital para Infecção Humana pelo Novo Coronavírus em Povos Indígenas". 

Limitação

O Ceará também figura como o estado brasileiro com maior número de casos suspeitos da doença no povo tradicional. São 30, segundo a Sesai. Além disso, já foram registrados 26 casos descartados da doença e cinco curas clínicas. Atualmente, 10 indígenas estão infectados com o novo coronavírus.

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Segundo a Federação dos Povos e Organizações Indígenas do Ceará (Fepoince) e Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), no entanto, os números não revelam a realidade. Isso se dá pelas dificuldades em notificar os casos da doença nos povos tradicionais. "Os 14 povos indígenas que vivem no Ceará têm grande vulnerabilidade para contaminação da Covid-19", diz nota da Apib, divulgada no fim de abril.

Covid-19 em indígenas, no Ceará | Fonte: Sesai, às 17h de hoje (11):

  • 30 suspeitos;
  • 17 confirmados;
  • 10 infectados atualmente;
  • 5 curas clínicas;
  • 25 descartados;
  • 2 óbitos.

Teste Negativo

Em abril, a Sesai emitiu nota sobre o falecimento de um indígena da etnia Pitaguary, de 76 anos, da Aldeia Olho D’água, no município de Maracanaú. Segundo o órgão, “ele era portador de comorbidades e doença pulmonar e estava sendo acompanhado pela Equipe Multidisciplinar de Saúde Indígena, da Unidade Básica de Saúde Indígena Dona Joaquina Vieira”. No último dia 14, o homem chegou a ser internado com sintomas de Covid-19 e submetido a teste RT-PCR, mas faleceu no dia seguinte, por Síndrome Respiratória Aguda Grave, compondo quadro suspeito. 
 
Na última semana, o Distrito Especial de Saúde Indígena (Dsei) Ceará informou que o teste do Pitaraguary deu negativo para a doença. O órgão também pontuou que o “Ministério da Saúde evita a divulgação de etnias, idades e aldeias de casos confirmados por respeito ético aos pacientes”. Além disso, o Distrito informou que “todas as recomendações e ações para evitar a disseminação do vírus estão previstas nos Planos Nacional e Distritais de Contingência para Infecção Humana pelo novo Coronavírus (COVID-19) em Povos Indígenas”
 
Testagem
 
Sobre a quantidade de insumos, o Dsei afirmou que desde o início de abril já foram enviados 144 frascos de álcool em gel, 7.300 luvas, 345 aventais descartáveis, 4.800 máscaras cirúrgicas e 500 máscaras N95. “Este material é complementar ao estoque do próprio Dsei, formado por aquisições próprias e parcerias com outros órgãos”. Ainda conforme a nota, o Distrito dispõe de 580 testes rápidos, sendo 280 enviados pela Sesai e 300 em parceria com o Governo do Estado. “A realização dos testes e a divulgação dos seus resultados seguem os padrões preconizados pelo Ministério da Saúde”.

Terras

Para conter o avanço da doença nos territórios tradicionais, a Fundação Nacional do Índio (Funai) suspendeu as autorizações de entrada em terras indígenas. "As equipes da Funai têm realizado o papel de acompanhar de perto os indígenas, que estão sendo orientados sobretudo a evitarem aglomerações e o deslocamento para as cidades, sendo conscientizados de que a permanência nas aldeias é a medida mais eficaz para evitar a contaminação coletiva", informou, em nota.

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