Crato. Após mais de três décadas funcionando em um local avaliado como "inapropriado e inseguro" pelo Corpo de Bombeiros desta cidade, na região do Cariri cearense, o Camelódromo da cidade do Crato deverá passar por reforma até o fim deste ano, se adequando para as atividades de comércio de vários segmentos existentes naquele espaço, que vão desde a alimentação ao vestuário.
De acordo com o presidente da Associação dos Comerciantes Informais do Crato (ACIC), José Paulino Torres Filho, os permissionários dos boxes reivindicam melhoria na infraestrutura do espaço há anos. Segundo conta, "apesar dos cuidados constantes dos vendedores e da instalação de extintores, o local não dispõe de nenhuma segurança, estando propenso a incêndios, além de ser apertado e sem nenhum proteção do sol ou chuva".
São quase quatro décadas de funcionamento em um espaço que inicialmente começou com apenas 40 barracas, em chão batido, sem nenhuma estrutura. Entretanto, ao passar dos anos, o fluxo de clientes aumentou e os vendedores foram atraídos ao local que está situado em uma das ruas mais movimentadas do centro comercial. Atualmente, o espaço é dividido por 179 permissionários que abrigam o espaço de forma desordenada, com ligações irregulares de energia, por exemplo, o que aumenta o risco de acidentes.
Licitação
A expectativa, no entanto, é que esta realidade possa mudar até o primeiro semestre do próximo ano. Isso porque, no início desta semana, o Governo do Ceará publicou no Diário Oficial o aviso de licitação para a construção do camelódromo.
A abertura das propostas está prevista para ocorrer no dia 16 de setembro, às 9h30, na Central de Licitações do Estado, na Procuradoria Geral do Estado, em Fortaleza. O valor inicial é de R$ 2.245.997,11.
De acordo com a Secretaria de Cidades (Scidades), responsável pela execução da obra, a previsão de conclusão é de seis meses após o início da construção. O novo camelódromo irá contemplar espaços e serviços que irão garantir mais conforto e segurança para quem vende e quem compra, como acessibilidade na edificação, instalações elétricas, hidráulicas, sanitárias e pluviais, e sistema de som e controle.
Segundo o secretário municipal da Cidade do Crato, José Muniz, o projeto para construção do camelódromo foi elaborado ao longo de quatro meses e entregue ao Governo do Estado.
Muniz acrescenta que "todo o processo de criação foi compartilhado e debatido com os permissionários os quais aprovaram". O projeto prevê a construção de um galpão, com todos os boxes estruturados por setores de compras, incluindo confecções, alimentos, calçados, brinquedos e importados.
O espaço, com pouco mais 1.600 metros², doado pela Prefeitura ao Governo, contará com 185 boxes, piso industrial, área de circulação, banheiros, setor administrativo e será totalmente coberto. O nome do equipamento também sofrerá alteração. Após a conclusão da obra, o novo local será chamado de "Shopping Popular".
De acordo com José Muniz, a intenção é realocar todos os comerciantes até o a primeira semana de setembro. "Queremos fazer este trabalho o quanto antes para que, quando a ordem de serviço for assinada, o local já esteja limpo, a fim de não gerar atrasos na execução das obras", disse.
Ainda segundo o secretário, parte dos permissionários deve ocupar a praça da Prefeitura, local a poucos metros do atual camelódromo e o restante no Mercado Central, já um pouco mais distante da área central.
Paulino Torres ressalta, porém, que se reunirá com a Prefeitura para que todos sejam levados a um só lugar. "Ir para um área distante do centro representa significativa perda para os comerciantes que tiram o sustento de suas famílias a partir das vendas. A praça da Prefeitura é um local ideal, pois fica quase defronte ao camelódromo", ponderou o presidente da ACIC.
Preocupação
Os permissionários também se mostram preocupados quanto ao futuro. Para eles, ficar seis meses em um local com baixo fluxo de clientes, como afirmam ser o caso do Mercado Central, representaria prejuízos incalculáveis. "Se for realmente ser dividido, aposto que muitos vão procurar outro emprego, porque não vai dar para tirar o sustento", avalia Maria Isidório, que há nove anos comercializa produtos naturais no camelódromo.
O comerciante Márcio Gustavo Ferreira vai além e se mostra reticente quanto ao retorno para o atual espaço. "Há tanto tempo a gente batalha pela reforma do camelódromo que agora eu tenho até medo de sair daqui. Se as obras começarem e nunca mais forem concluídas, e a gente ficar sem ter onde comercializar nossas coisas".
Muniz descarta essa possibilidade. "A Prefeitura doou o terreno, mas, se em um prazo de dois anos, as obras não foram concluídas, ela passa a ser novamente proprietária do local. Portanto, não há risco de os vendedores ficaram desassistidos", afirmou o secretário.
Dificuldade
Apesar de estar bem localizado, os vendedores relatam dificuldades em comercializar suas mercadorias, sobretudo nos períodos chuvosos. Há 23 anos no local, Oliveira Sebastião é um dos mais antigos do camelódromo. Ele recorda que, ano após ano, o local se transforma em "um mar de lama sempre que chove". "Como não há cobertura adequada, ficamos refém do clima. Quando não chove e alaga tudo, é o sol quente que deixa o local abafado e afasta os clientes. É uma situação delicada, mas que temos que enfrentar todos os dias", disse.
O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) do Crato, José Alves, reconhece a precariedade do local e avalia que "a cidade como um todo será beneficiada pós-reforma". "Do jeito que está, muitas pessoas acabam procurando outros centros de compra, algumas vezes migrando, inclusive, para Juazeiro. Com a reforma e a adequação do espaço, a expectativa é que o comércio cratense se fortaleça e a economia beneficiada", asseverou o líder classista.
Mais informações:
Associação dos Comerciantes Informais do Crato (ACIC)
Endereço: Rua Santos Dumont, 156 Centro, Crato-CE
(88) 9.9615.3813