Alunos assistem à aula em garagem e varanda
Os estudantes se queixam da falta de estrutura e de conforto, que dificultam o aprendizado
Granja. A estudante do 3º Ano do Ensino Médio Maria dos Navegantes Oliveira, 17, está preocupada com a situação que ela e seus colegas de sala vêm enfrentando, desde o início do ano letivo, no distrito de Timonha, a cerca de 43Km da sede de Granja, no Norte do Estado. A turma assiste aula, à tarde, dentro de uma garagem cedida pelo pai de uma das alunas, ao lado de uma oficina mecânica, logo na entrada do distrito.
Sem estrutura
A sala de aula improvisada não tem energia, portanto tem pouca iluminação no pequeno espaço. Também não há nenhum tipo de ventilação, apenas a que vem da rua, pelo portão que fica sempre aberto. O calor, quase insuportável, deixa alguns alunos irritados, o que atrapalha muito a concentração e o próprio rendimento. O banheiro não tem descarga, apenas uma pia. E os estudantes dividem o espaço com as motos, que ficam na entrada da garagem. Outro sério problema é o barulho da oficina mecânica, ao lado da sala. Há momentos em que é quase impossível ouvir o professor.
"Aqui, não temos água para beber e nenhum local próximo, onde possamos lanchar na hora do intervalo. Trazemos água e lanche de casa, todos os dias", reclama Maria dos Navegantes. O professor de Educação Física, Ivan Peixoto, reconhece a dificuldade em dar uma boa aula nessas condições. "Sabemos que o espaço foi conseguido de boa vontade, e, se não existisse, talvez esses alunos estivessem parados. Assim como nos alunos, essas condições acabam interferindo no trabalho do professor, e a aprendizagem fica comprometida", destaca.
Alguns metros dali, em frente ao Colégio Municipal José Firmino dos Santos, que atende pouco mais de 200 alunos, outra turma se desdobra para assistir mais uma aula de Matemática. Dessa vez, são 18 jovens moradores do distrito ou de várias localidades vizinhas, que ocupam o espaço, antes usado como lanchonete. A dona da casa Xirleide de Araújo alugou o lugar por R$ 200 por mês, tendo como intermediário Jocélio Tavares, que é representante da chamada extensão de matrícula, da 4ª Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação (Crede), de Camocim, responsável pela Educação Estadual naquele distrito.
Jocélio diz que há 14 anos a situação tem sido a mesma para o Ensino Estadual no distrito e que os alunos ocuparam, por muito tempo, o antigo Salão Paroquial, alugado por R$ 550, mas o bispo pediu o espaço de volta e a situação de complicou. "Temos ciência dessa situação emergencial e estamos buscando outro espaço. Aguardamos orientação da Secretaria de Educação do Estado que já sinalizou uma saída para essas dez turmas. Oito foram distribuídas na escola municipal, que dá um suporte. Está nessa situação quem não pode vir à noite, onde teríamos salas disponíveis", disse.
Saída emergencial
Segundo a Secretaria de Educação (Seduc), as dez turmas de extensão escolar do Colégio Estadual São José, na comunidade de Timonha, até o dia 29 de fevereiro assistiam aula no salão paroquial cedido para funcionamento da extensão escolar. Porém, em 2016, os responsáveis pelo espaço solicitaram a devolução. Das dez turmas, 8 estão cumprindo ano letivo em escolas municipais na localidade.
Pela inexistência de outros espaços públicos na comunidade para acolher os demais estudantes, a Seduc alugou dois espaços privados, próximos à escola municipal, e realizou adequações para receber os alunos, evitando prejuízo no ano letivo das duas turmas. Ficou acordado que a Associação de Moradores de Timonha cederá espaço para receber as dez turmas, com contrato já firmado em regime de comodato. A Secretaria realizará uma reforma. Ainda de acordo com a Seduc, "está prevista a construção de uma Escola Estadual em Adrianópolis para atender também aos alunos de Timonha".
Enquete
Como vocês estudam?
"Acho complicado pra gente. Isso prejudica minha concentração e minhas notas. Eu venho da localidade de Conselho todos os dias, a uns 8 quilômetros daqui, para ter aula numa varanda, sem o mínimo de condições"
Franisco das Chagas Fontenele Sobrinho
Estudante
"Estudar na garagem é um absurdo. Acho uma falta de respeito com quem se esforça para completar os estudos. Imagine ficar toda a aula sem energia, com sede, fome e ainda ter que se concentrar para entender"
Eliete Pereira da Conceição
Estudante
