Legislativo Judiciário Executivo

Qual impacto da possível saída de prefeitos do PDT para 2024; veja cidades que o partido governa

A influência política de prefeitos ocorre como uma reação em cadeia, mobilizando diversos atores na cidade

Escrito por Ingrid Campos , ingrid.campos@svm.com.br
PDT, Ceará, cidades
Legenda: O PDT governa 53 municípios no Ceará.
Foto: Shutterstock

Em meio à ameaça de desfiliação de parlamentares do PDT, em processo iniciado na quarta-feira (8), surgiu o temor de a agremiação perder, também, um número considerável de prefeitos. Segundo Romeu Aldigueri, deputado estadual, 50 gestores “sairão do partido”. Já o senador Cid Gomes acredita que no máximo sete prefeitos devem continuar no partido.

Por outro lado, a Executiva Nacional barrou as anuências concedidas e o presidente André Figueiredo afirmou que está dialogando para evitar a debandada nos municípios. 

As declarações expõem uma inquietação óbvia: a possibilidade de perder fortes lideranças nas cidades pode ser um ônus muito pesado em relação não somente a 2024, mas também a 2026. Normalmente, os prefeitos lideram vereadores, que atuam de forma direta nas cidades, articulando melhorias de serviços públicos e estruturando bases políticas.

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Essa dinâmica se intensifica às vésperas das eleições municipais, mas também são essenciais nos pleitos proporcionais a níveis estadual e federal, além, claro, da disputa pelo governo cearense. É o que aponta Monalisa Torres, professora do curso de Ciências Sociais da Faculdade de Educação de Itapipoca (Facedi-Uece).

“As eleições municipais são uma preparação para as eleições estaduais, e os partidos também usam essa lógica. Eles racionalizam as estratégias eleitorais das eleições municipais para potencializar as suas forças, suas possibilidades e seus recursos para as eleições gerais, que são as mais importantes”, observa.

“São esses prefeitos e vereadores desses partidos que puxam voto e que fazem o trabalho de base para as candidaturas a deputado. Lembrando que nas candidatas a deputado, as bancadas federais dos partidos é o que garante recursos e tempo de TV, então tudo está em jogo, é uma espécie de efeito dominó”, diz, ainda.

Isso porque o Fundo Partidário e o Fundo Eleitoral são rateados com base nos votos recebidos nas eleições anteriores e no volume da bancada no Congresso. O primeiro, destinado a despesas cotidianas das legendas, considera que 5% do seu montante deve ser distribuído, em partes iguais, a todos os partidos registrados na Justiça Eleitoral. 

Os outros 95% são divididos na proporção dos votos obtidos por cada uma delas na última eleição geral para a Câmara dos Deputados, respeitados os requisitos de acesso da chamada cláusula de desempenho.

Já o Eleitoral, essencial para o financiamento de campanhas, considera o seguinte rateio:

  • 2% igualmente entre todos os partidos;
  • 35% entre os partidos com ao menos um deputado;
  • 48% entre os partidos na proporção do número de deputados;
  • 15% entre os partidos na proporção do número de senadores.

Por isso, em 2022, pleito mais recente, o PDT teve acesso a recursos eleitorais na casa dos R$ 253 milhões. Caso todas as desfiliações em curso se concretizem, a legenda enfraquece parte considerável dos mecanismos de manutenção das suas atividades para as próximas legislaturas caso não consiga manter o mesmo tamanho.

Vale destacar que o Ceará é o maior reduto do PDT no País. Possui a única capital brasileira governada pela sigla. Dos 18 deputados federais da legenda, 5 foram eleitos no Ceará. 

Efeito dominó

De acordo com a assessoria de imprensa da presidência estadual do PDT, hoje, o partido tem 53 prefeitos. Três deles estão entre os onze maiores municípios cearenses: Fortaleza (José Sarto), Sobral (Ivo Gomes) e Quixeramobim (Cirilo Pimenta). 

Juntos, governam uma população de 2,7 milhões de pessoas, de acordo com dados do Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

Além do impacto em mandatários locais, como os vereadores, o pesquisador vinculado ao Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem) da Universidade Federal do Ceará (UFC), Cleyton Monte, aponta um prejuízo maior. 

Para ele, a desfiliação de cerca de 50 prefeitos pode mexer numa cadeira de milhares de personagens no organismo das cidades, perdendo “capilaridade e expressão” no interior do Estado.

“Essas lideranças têm um raio de atuação, então, por exemplo, quando um deputado ou um prefeito se desfilia, não é somente ele em si, é todo um grupo. Assessores, cabos eleitorais, é toda uma rede que se desconecta do partido”, avalia. 

“Quando a gente fala que cinquenta prefeitos vão pedir desfiliação, aí você coloca na casa dos milhares de assessores, cargos comissionados, vereadores, cabos eleitorais, lideranças comunitárias, enfim, um número muito grande de pessoas ligadas a esses líderes locais e que o acompanham. Daí o tamanho do prejuízo”, completa. 

Soma-se a isso a influência específica exercida por prefeitos em municípios de médio e pequeno porte, onde o PDT está mais presente. Nesse caso, o partido tem uma abrangência em uma população de mais de 1 milhão de pessoas.

“Esses municípios têm, geralmente, a gestão municipal como a maior empregadora e como o maior ator de influência, então quando você perde essas prefeituras, geralmente também você perde espaço na iniciativa privada, perde espaço na Câmara Municipal, então é todo um efeito dominó, que leva tempo para recuperar”, conclui.

Mobilização

Diante desse cenário, Cid convocou os prefeitos pedetistas e pré-candidatos do partido para uma reunião que será realizada às 15h da próxima terça-feira, dia 14 de novembro, no Hotel Gran Marquise, em Fortaleza. O objetivo é discutir e ouvir as preocupações dos políticos para, então, tomar uma decisão coletiva. 

"O que a gente quer é que esse grupo continue cada vez mais unido, cada vez mais coeso e que, qualquer que seja o passo futuro, seja tomado como passo conjunto", afirmou. 

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Para Cid, a saída está relacionada com a perseguição que vem sofrendo. "A gente fez um levantamento de prefeitos, e a nossa estimativa é que ficarão no máximo sete prefeitos do PDT. Está óbvio que há um desrespeito claro ao sentimento predominante, à maioria que faz e fez o PDT no Ceará. Então, a estimativa é que no máximo sete vão permanecer", reforçou. 

Os prefeitos, principais interessados na resolução do impasse partidário, precisam estar filiados até abril de 2024 para concorrerem à disputa das eleições municipais do próximo ano. 

Prefeitos do PDT

  • Edilberto (Acarape)
  • Joaquim do Quinca (Alcântaras)
  • Antonio Filho (Antonina do Norte)
  • Cicero de Deus (Araripe)
  • Liborio (Assaré)
  • Zico (Baixio)
  • Edinho Nobre (Banabuiú)
  • Jaime Veras (Barroquinha)
  • Netim Morais (Bela Cruz)
  • Gislaine Landim (Brejo Santo)
  • Betinha (Camocim)
  • Simone Tavares (Caridade)
  • Antonio Martins (Cariré)
  • Edmilson Leite (Caririaçu)
  • Ze Weliton (Carnaubal)
  • Ravenna (Catunda)
  • Joãozinho de Titico (Cedro)
  • Edezio Sitonio (Coreaú)
  • Gildecarlos (Deputado Irapuan Pinheiro)
  • Emanuelle Martins (Ereré)
  • Deda (Farias Brito)
  • Edinardo (Forquilha)
  • Helton Luis (Frecheirinha)
  • Iraldice Mão Cheirosa (Graça)
  • Aníbal Filho (Granja)
  • Roberlandia Ferreira (Guaramiranga)
  • Iris Martins (Hidrolândia)
  • Patrícia Barreto (Irauçuba)
  • Frank Gomes (Itaiçaba)
  • Elizeu Monteiro (Itarema)
  • Edsonriva (Jucás)
  • Roger Aguiar (Marco)
  • Dr. Lorim (Missão Velha)
  • Salomão (Monsenhor Tabosa)
  • Canarinho (Mucambo)
  • Bruno Figueiredo (Pacajus)
  • Raimundo Filho (Pacujá)
  • Beim (Paracuru)
  • João Bosco (Pentecoste)
  • Dra. Lívia (Pires Ferreira)
  • Cirilo Pimenta (Quixeramobim)
  • Davi Benevides (Redenção)
  • Savio Gurgel (Russas)
  • Saul Maciel (São Benedito)
  • Maurício Pinheiro (Senador Pompeu)
  • Ivo Gomes (Sobral)
  • Marcelo Mota (Tamboril)
  • Renê (Ubajara)
  • Elmo Monte (Varjota)
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