Procurado por Bolsonaro, Temer também enfrentou denúncias e paralisação de caminhoneiros
O ex-presidente teve que lidar com crises semelhantes no Governo, inclusive denúncias no âmbito do STF e do TSE
Após ataques do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ao Supremo Tribunal Federal (STF), inclusive com ameaças de descumprir decisões judiciais do ministro Alexandre de Moraes, a crise institucional entre os poderes ganhou novos capítulos. Pressionado, Bolsonaro recorreu nesta quinta-feira (9) ao ex-presidente Michel Temer (MDB), que atravessou crises políticas semelhantes durante os dois anos de mandato, para mediar a situação e apaziguar os ânimos.
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Quando ocupante do Palácio do Planalto, o emedebista também teve que lidar com uma paralisação de caminhoneiros - como ocorre desde a última quarta-feira (8) em rodovias de estados brasileitos. O ex-presidente foi, ainda, alvo de denúncias e de pedidos de impeachment durante a gestão.
Temer foi acionado por Bolsonaro ainda na quarta-feira (8). Ele buscava conselhos de como lidar com os bloqueios feitos por caminhoneiros em 14 estados, além de como contornar a crise, estimulada pelo próprio Bolsonaro, com o Supremo.
Durante reunião, nesta quinta (9), já em Brasília, Temer mediou telefonema entre o presidente e o ministro Alexandre de Moraes - indicado pelo ex-presidente ao STF e principal alvo de ataques de Bolsonaro. Na última terça-feira (7), o presidente chamou Moraes de "canalha" e disse que não iria mais cumprir decisões judiciais expedidas pelo ministro.
Paralisação dos caminhoneiros
Durante os dois anos no Palácio do Planalto, Temer também enfrentou crises políticas. Dentre elas, dez dias de greve dos caminhoneiros, em 2018.
À época, a paralisação causou desabastecimento em todo o Brasil, além de impactar o resultado da produção industrial e diminuir o crescimento da economia naquele ano. O motivo do movimento era a flutuação no preço da gasolina e do diesel.
Agora, os caminhoneiros bloquearam rodovias e ocuparam a Esplanada dos Ministérios em crítica ao Supremo Tribunal Federal. Nem mesmo áudio de Bolsonaro, pedindo o fim da paralisação, foi suficiente.
Na manhã desta quinta, representantes dos caminhoneiros afirmaram que a mobilização só iria chegar ao fim caso a pauta "anti-STF" avançasse. Eles continuam reunidos em manifestação em 13 estados.
Enfrentamento à crises
Michel Temer também enfrentou denúncias no âmbito do STF e do Tribunal Superior Eleitoral durante o mandato presidencial.
Em 2017, ele foi denunciado duas vezes ao STF pela Procuradoria Geral da República (PGR). Os crimes eram corrupção passiva, organização criminosa e obstrução de Justiça.
Contudo, a análise das denúncias só poderia ser feita pela Corte caso autorizada pela Câmara dos Deputados, que votou contra o prosseguimento. A articulação de Temer dentro do Congresso também impediu o avanço dos pedidos de impeachment protocolados contra ele após assumir a Presidência.
Com dezenas pedidos de impeachment contra si, Bolsonaro assistiu, após o 7 de setembro, o aumento da pressão vinda do Congresso e a fragilização da base de apoio - formada, principalmente, por partidos do Centrão.
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Após os atos em que o presidente fez ataques antidemocráticos às instituições, dirigentes de diversos partidos se reuniram para discutir o posicionamento sobre o impeachment de Bolsonaro, enquanto parlamentares aumentaram a pressão pelo desembarque de grandes siglas - como o MDB - do Governo.
A reunião com Temer também tratou do assunto e resultou em uma nota, assinada pelo presidente Bolsonaro, na qual ele recua das declarações feitas durante os atos contra outros poderes. Michel Temer confirmou, à CNN Brasil, que escreveu a nota de recuo. "Ajudando a pacificar o País", completou.