O que dizem os parlamentares do PDT após saída de Cid e volta de Figueiredo ao comando do partido
Divididos, alguns querem o retorno do senador ao cargo, enquanto aliados do deputado alegam acordos quebrados
A destituição do senador Cid Gomes (PDT) da presidência do PDT Ceará repercutiu entre deputados estaduais e federais do partido, além de vereadores de Fortaleza, que participavam, na manhã desta segunda-feira (2), do lançamento da campanha de multivacinação do governo federal.
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Muitos deputados estaduais e federais ligados a Cid Gomes souberam, enquanto chegavam no evento, da movimentação de André Figueiredo (PDT) na sede do partido para reassumir a presidência do diretório estadual, após divergências com o senador cearense em reunião da última sexta-feira (29).
Os parlamentares se mobilizaram para se reunir com o senador Cid Gomes no início da tarde desta segunda-feira, para definir os rumos do grupo após a decisão de Figueiredo. O encontro estava agendado previamente para a sede do partido, mas foi realocado após a mudança na presidência do diretório.
Já os parlamentares ligados a Figueiredo e ao ex-prefeito Roberto Cláudio (PDT) chegaram ao evento atrasados, junto com o atual prefeito da capital cearense, José Sarto (PDT), após participar de reunião convocada para a destituição de Cid Gomes.
Eles falaram sobre o apoio a Figueiredo na presidência e falaram sobre supostos acordos que foram quebrados por Cid e por isso a decisão do deputado federal de voltar à presidência.
'Solidariedade' a Cid Gomes
Logo após a confirmação da troca no comando do PDT Ceará, o líder do Governo Elmano de Freitas (PT) na Assembleia Legislativa, Romeu Aldigueri (PDT) lançou nota onde manifestava a "completa e irrestrita solidariedade" a Cid Gomes.
Pouco antes, ao Diário do Nordeste, Aldigueri falou sobre a "incoerência" da ala do partido ligada a André Figueiredo quanto a definição do partido integrar ou não a base aliada da gestão estadual — principal ponto de embate dentro do partido.
"Os mesmos que pregam a não união ou a não adesão oficial ao governador Elmano, que é um projeto de continuidade do próprio PDT, são os mesmos que estão hoje perfilados com o presidente Lula, com o presidente nacional do PDT fazendo parte do Ministério da Previdência, ocupando cargos federais em Brasília, indicando cargos federais no Estado. (...) Então, é uma incoerência de atitudes. Isso tem que cessar", ressaltou o parlamentar.
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Líder da bancada cearense no Congresso Nacional, o deputado federal licenciado Eduardo Bismarck (PDT) falou sobre a divergência no partido, que atingiu novo ápice na reunião da última sexta-feira, quando André Figueiredo e grupo ligado a ele se retirou do local. Na ocasião, Figueiredo chegou a chamar Cid de "ditador".
"Foi muito ruim para o partido esse debate. O Cid não merece, está fazendo um trabalho voluntariado de organizar o partido e falou muitas verdades, verdades que doeram em algumas pessoas que não aceitam ouvir a verdade e essas pessoas, por não ter argumento, acabaram se rebelando lá na reunião".
"Infelizmente eu acho que saíram dando declarações muitos ruins para a construção, para o debate. Problema a gente resolve dentro de casa, não na rua", completou.
O presidente da Assembleia Legislativa do Ceará, Evandro Leitão, lamentou a decisão de Figueiredo de encerrar a licença como presidene estadual do partido.
"Lamentável. Quando o presidente em exercício, Cid, estava trabalhando, tentando de alguma forma aparar as arestas, tomar uma decisão dessa... Eu só tenho que lamentar", disse Leitão no início da tarde desta segunda. A declaração quando o parlamentar chegava para reunião com Cid Gomes.
Vice-presidente da Assembleia Legislativa, Osmar Baquit (PDT) disse acreditar que o grupo ligado a Cid Gomes deve retomar movimento iniciado em junho deste ano — e paralisado após acordo entre as alas divergentes para que o senador assumisse o diretório estadual no lugar de Figueiredo.
Na época, chegou a ser ventilada a realização de reunião do diretório para destituir a presidência de André Figueiredo. "A minha opinião pessoal é que nós deveríamos, quem é ligado ao Cid, convocarmos aquela reunião que não aconteceu", destacou.
"Não se resolve, não tem saída, não tem espaço para todo mundo lá dentro. A maioria tá com Cid claramente. Se o Cid for destituído, como tá sendo aí, você vai ver a revoada de prefeito, de liderança, principalmente em candidato a vereadores agora na eleição abandonando o PDT".
'Quebra' de acordos
A reunião convocada por André Figueiredo contou com a presença de parlamentares ligados ao ex-prefeito Roberto Cláudio — que também esteve presente. Pouco depois, vereadores de Fortaleza, além do prefeito José Sarto e do deputado estadual Antônio Henrique participaram do lançamento da campanha de multivacinação — ao lado dos ex-aliados Elmano de Freitas e do ministro da Educação, Camilo Santana (PT).
Indagados pelo Diário do Nordeste, vereadores falaram que tem mais acompanhado as discussões do diretório estadual do PDT, mas não tem participado diretamente dos embates. Eles afirmaram que, durante a reunião com Figueiredo, o deputado federal informou que acordos foram quebrados e por isso Cid estaria sendo destituído da presidência, mas sem dar maiores detalhes.
"Não sei qual foi o motivo que levou o deputado a encerrar a licença e retomar a presidência do diretório estadual", disse o vereador de Fortaleza, Lúcio Bruno (PDT). Ele participou da reunião onde Figueiredo comunicou que estava retornando ao comando do PDT Ceará. "Mas não falou o motivo", disse.
O deputado estadual Antônio Henrique (PDT) explicou que, apesar do acordo entre Cid e Figueiredo, "a qualquer momento o André podia retornar".
"E houve esse entendimento que talvez o que estava proposto ser feito na presidência do Cid, essa foi a minha avaliação, não estava indo conforme o que tinha sido combinado. E estou me referindo a própria fala do André, de que essa conversa houve antes da licença dele, que o objetivo era organizar o partido, o senador iria tentar fazer agenda para o André conversar com o governador. O André entendeu, e teve apoio de boa base do partido, dele retornar a presidência".
O vereador Iraguassu Filho (PDT) também falou que, entre as justificativas apresentadas para a mudança no comando do PDT Ceará estaria "acordo que foi firmado que não foi cumprido", dentre os quais de que não haveria saída de ninguém do PDT sem diálogo com a Executiva nacional — em agosto, o diretório estadual concedeu carta de anuência para saída do presidente da Assembleia, Evandro Leitão, do partido.
Vereador licenciado de Fortaleza e secretário da Regional 6, da Prefeitura de Fortaleza, Renan Colares (PDT) ressaltou que André Figueiredo é "um cara de compromisso", que "merece estar a frente do PDT estadual. Ele afirmou que acompanha mais de perto as discussões do PDT municipal, mas que considera que as resoluções do PDT Ceará "tem que ser feitas no diálogo, nada fora do diálogo, nada fora do diálogo é legal". "Sem ofensas, sem ignorâncias, sem empurrões, sem truques, sem pontapé", disse.
* Com contribuições da repórter Alessandra Castro