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Minuta golpista previa prisão de Gilmar, Pacheco e Moraes, além de novas eleições, diz jornalista

Informação consta de decisão que embasa operação da PF desta quinta-feira (8)

Escrito por Redação ,
Polícia Federal
Legenda: Além dos mandados de prisão preventiva, a PF cumpre nesta quinta 33 mandados de busca e apreensão, e 48 medidas cautelares diversas da prisão
Foto: Divulgação Polícia Federal

A Polícia Federal descobriu uma minuta golpista que previa a prisão dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, além do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), segundo informações divulgadas pelo blog da jornalista Daniela Lima, da Globonews

As informações constam da decisão de Alexandre de Moraes que embasa a Operação Tempus Veritatis, deflagrada nesta quinta-feira (8), e que investiga organização criminosa responsável por tentativa de golpe de Estado para manter Jair Bolsonaro (PL) na Presidência após a derrota nas eleições de 2022. 

Segundo o blog, as investigações identificaram que a minuta de golpe foi entregue a Bolsonaro por Filipe Martins, preso na operação desta quinta, e Amauri Feres, que é alvo de busca. O ex-presidente pediu que os nomes de Pacheco e Gilmar fossem retirados do documento, mas não o de Moraes. Bolsonaro também quis que fosse mantido trecho que previa a realização de novas eleições.

A PF também identificou que a agenda de Moraes era inteira detalhada aos golpistas para que o ministro fosse acompanhado em tempo integral e, caso houvesse o golpe militar planejado pelo grupo, ele pudesse ser preso.

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Atuação de generais

Ainda de acordo com as investigações, detalhadas pela jornalista, militares da ativa pressionaram colegas contrários ao golpe na tentativa de fazê-los aderir ao movimento. A PF também descobriu que o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, recebeu um pedido de R$ 100 mil para ajudar na organização de atos golpistas.

Também foi descoberto pela PF que o PL, partido de Bolsonaro, foi usado para financiar narrativas de apoio de ataques às urnas

A jornalista Daniela Lima revelou, ainda, que o general cearense Estevam Cals Theóphilo Gaspar de Oliveira, ex-chefe do Comando de Operações Terrestres do Exército, se reuniu com Bolsonaro no Palácio da Alvorada, em 9 de dezembro de 2022, e se colocou à disposição para aderir ao golpe de Estado, segundo conversas obtidas pela PF no celular de Mauro Cid.

A condição de Theóphilo para aderir ao golpe e colocar tropas especiais nas ruas seria que Bolsonaro assinasse uma minuta que determinasse o golpe. O cearense foi um dos alvos da PF nesta quinta.

Outro militar a incentivar o golpe foi o então chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno. Segundo a investigação, o general cobrou, em reunião feita em 2022, que órgãos do Governo atuassem para assegurar a vitória de Bolsonaro nas eleições.

"Não vai ter revisão do VAR. Então, o que tiver que ser feito tem que ser feito antes das eleições. Se tiver que dar soco na mesa é antes das eleições. Se tiver que virar a mesa é antes das eleições", disse Heleno, conforme informação da PF divulgada pela jornalista. "Nós vamos ter que agir. Agir contra determinadas instituições e contra determinadas pessoas". 

Operação Tempus Veritatis

A Operação Tempus Veritatis prendeu os ex-assessores Filipe Martins e o coronel Marcelo Câmara, além de Valdemar Costa Neto — esse, por porte ilegal de arma de fogo. 

Bolsonaro também é alvo da operação. De acordo com informações da Agência Brasil, o ministro Alexandre de Moraes determinou que o ex-presidente entregasse o passaporte e deu o prazo de 24 horas para que ele colocasse o documento à disposição das autoridades.

A PF foi à casa do ex-mandatário, em Angra dos Reis (RJ), e apreendeu o celular de um dos assessores dele, Tercio Arnaud Tomaz. Segundo a jornalista Andréia Sadi, da Rede Globo, Bolsonaro também está impedido de contatar os outros alvos da operação da PF.

Além dos mandados de prisão preventiva, estão sendo cumpridos 33 mandados de busca e apreensão, e 48 medidas cautelares diversas da prisão, que incluem a proibição de manter contato com os demais investigados, proibição de sair do País, com entrega dos passaportes no prazo de 24 horas, e suspensão do exercício de funções públicas.

Segundo a investigação, entre os alvos da operação estão:

  • o ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) general Augusto Heleno Ribeiro Pereira;
  • ex-ministro da Casa Civil e da Defesa general Walter Souza Braga Netto;
  • ex-ministro da Defesa general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira;
  • major da reserva Ângelo Martins Denicoli;
  • coronel reformado do Exército Aílton Gonçalves Moraes Barros;
  • coronel Guilherme Marques Almeida;
  • tenente-coronel Hélio Ferreira Lima;
  • tenente-coronel Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros
  • ex-comandante-geral da Marinha almirante Almir Garnier Santos;
  • general Mário Fernandes;
  • ex-chefe do Comando de Operações Terrestres do Exército general Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira;
  • general de Brigada reformado Laércio Vergílio;
  • Paulo Renato de Oliveira Figueiredo Filho;
  • ex-ministro da Justiça, Anderson Torres;
  • presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto.

Os mandados de prisão preventiva foram expedidos contra:

  • o ex-assessor especial de Bolsonaro Felipe Martins
  • coronel Bernardo Romão Correa Neto
  • coronel da reserva Marcelo Costa Câmara
  • major Rafael Martins de Oliveira.

As medidas judiciais foram expedidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Há cumprimento de mandado no Ceará e nos estados do Amazonas, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo, Paraná, Goiás e no Distrito Federal.

Nesta fase, segundo a PF, as apurações apontam que o grupo investigado se dividiu em núcleos de atuação para disseminar a ocorrência de fraude nas eleições de 2022, antes mesmo do pleito, para viabilizar e legitimar uma intervenção militar. A dinâmica, conforme a PF, era "de milícia digital".

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