Lula pede 'vigilância' no BC após comentários de Campos Neto
O presidente critica a manutenção em patamar elevado da taxa básica de juros
O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse, em palestra nos Estados Unidos, nesta terça-feira (7), que a autonomia da instituição serve para separar as diretrizes monetárias de intervenções políticas. A fala veio após críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à manutenção em alta da taxa básica de juros.
"A principal razão, no caso da autonomia do Banco Central, é desconectar o ciclo da política monetária do ciclo político, porque eles têm planos e interesses diferentes. E quanto mais independente você for, mais eficaz você é e menos o País pagará em termos de custo de ineficiência na política monetária", afirmou Campos Neto.
Depois da declaração do presidente do BC, Lula, em café da manhã com jornalistas da "mídia independente e alternativa", disse que não quer criar confusão com a instituição, mas cobrou vigilância de senadores e dos ministros Fernando Haddad, da Fazenda, e Simone Tebet, do Planejamento. Informação está na Folha de S. Paulo.
"Eu espero que o Haddad esteja acompanhando, a Simone esteja acompanhando e que ele próprio [Campos Neto] esteja acompanhando a situação do Brasil. [...] Acho que o Senado tem que ficar vigilante. Porque eu lembro quantas críticas eu recebia da Fiesp [Federação das Indústrias de São Paulo] toda vez que aumentava a taxa de juros, eu lembro quantos senadores faziam discurso contra mim quando aumentava a taxa de juros. Eles agora não têm mais que cobrar de mim, da Presidência da República, sobre a taxa de juros, eles têm que cobrar deles", disse o petista.
O presidente não concorda em manter a taxa básica de juros, a Selic, em 13,75%. A crítica foi reforçada por ele nessa segunda-feira (6), em discurso no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
"É só ver a carta do Copom [Comitê de Política Monetária] para a gente saber que é uma vergonha esse aumento de juros e a explicação que eles deram para a sociedade brasileira", desaprovou o presidente, segundo o g1. "Não é possível que a gente queira que este País volte a crescer com taxa de 13,75%. Nós não temos inflação de demanda. É só isso", concluiu Lula.
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Comando do BC
Durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), em 2021, o Congresso aprovou uma lei que garantiu autonomia ao Banco Central. Por isso, o presidente da República não pode, por conta própria, mudar o comando da instituição.
A decisão deve ser tomada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), constituído por Haddad, Tebet e Campos Neto, que, se julgar necessário, pode encaminhar ao presidente o pedido de destituição do chefe da autoridade monetária caso seja "comprovado e recorrente desempenho insuficiente para o alcance dos objetivos" da instituição.
O Senado deve, também, aprovar a troca de nomes, caso receba o pedido do chefe do Executivo nacional.