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Entenda o que é o Centrão e quais partidos fazem parte

Bloco 'informal' tem atuado no Congresso Nacional desde a redemocratização

Escrito por Redação ,
Câmara dos Deputados em Brasília
Legenda: O Centrão é um bloco "informal" formado por parlamentares do Congresso Nacional
Foto: Wesley Amaral/Câmara dos Deputados

A formação de blocos parlamentares dentro do Congresso Nacional não é novidade. Partidos de diferentes espectros da política se unem para ganhar força na hora das votações ou negociações no legislativo federal. Um dos mais conhecidos é o Centrão, grupo que ofereceu sustentação a todos os presidentes da República desde a redemocratização. 

Ao contrário de outros blocos existentes no Congresso Nacional, o Centrão é considerado um bloco 'informal', ou seja, não existe um registro desse grupo junto às instâncias formais das casas legislativas. 

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O bloco torna-se, portanto, mais volúvel e muda de composição tanto em relação aos partidos políticos como aos parlamentares que o integram a depender do momento político ou mesmo da pauta em votação. 

O Diário do Nordeste explica o que é este grupo e como ele surgiu na política brasileira. 

O que é? 

O Centrão é formado por parlamentares de legendas de centro e centro-direita, em sua maioria. Estes partidos têm em comum a falta de uma linha ideológica bem definida e bandeiras programáticas claras. 

Com o sistema político brasileiro sendo sustentado pelo chamado "presidencialismo de coalizão" – no qual os presidentes precisam da maioria do Congresso para garantir a governabilidade –, o Centrão se reúne como forma de ganhar força nas negociações para integrar a base aliada ao Palácio do Planalto. 

História do Centrão 

O termo Centrão surge, pela primeira vez, durante a Assembleia Nacional Constituinte, no final da década de 1980. O Brasil passava por um processo gradual de redemocratização, após mais de 20 anos de ditadura militar. 

O presidente José Sarney havia assumido a presidência da República após a morte de Tancredo Neves, de quem era vice. Tancredo foi eleito de forma indireta e morreu antes de tomar posse como presidente. 

Assembleia Nacional Constituinte
Legenda: O termo Centrão foi usado pela primeira vez para definir grupo suprapartidário formado durante a Assembleia Constituinte
Foto: Arquivo Câmara

A Assembleia Constituinte foi convocada em 1985 por Sarney e concentrou os trabalhos nos anos de 1987 e 1988. O Centrão foi um grupo suprapartidário criado para dar apoio a Sarney e fazer frente a propostas legislativas progressistas, além de garantir a aprovação de temas defendidos pelo governo federal, como sistema de governo presidencialista e mandato de cinco anos. 

Naquele período, o Centrão era formado por PFL, PL, PDS, PDC e PTB, além de integrantes do MDB. 

Desde então, o termo "Centrão" tem sido utilizado sempre que partidos se unem para formar uma maioria no Congresso Nacional, com chances de 'virar' o jogo em votações importantes dentro do parlamento brasileiro.

Câmara dos Deputados
Legenda: O Centrão é um bloco "informal" formado por parlamentares do Congresso Nacional
Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados

Quais os partidos do Centrão? 

Sem uma ideologia definida, e sendo um bloco informal dentro do Congresso Nacional, os partidos que integram o Centrão não são fixos ao longo das últimas décadas, desde que o grupo se uniu durante a Assembleia Nacional Constituinte.

No final da década de 1980, quando surgiu durante a elaboração da Constituição Federal, o Centrão era formado por cinco partidos: PFL, PL, PDS, PDC e PTB.

Além de contraponto a propostas progressistas durante a elaboração da Constituição Federal, o grupo também passou a apoiar o então presidente José Sarney.

Por não ser um bloco formal, é difícil estabelecer quais partidos integraram o bloco ao longo das últimas décadas, apesar de terem continuado a ser cruciais para a aprovação de projetos durante os governos de Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e no primeiro mandato de Dilma Rousseff.

Michel Temer e Eduardo Cunha
Legenda: Centrão volta a ganhar protagonismo com Eduardo Cunha na presidência da Câmara dos Deputados e foi uma das principais forças no Governo Temer
Foto: Agência Câmara

O grupo volta a ganhar protagonismo dentro do Congresso Nacional após a eleição de Eduardo Cunha (na época, no MDB) para a presidência da Câmara dos Deputados, em 2015, em forte articulação com parlamentares do Centrão.

Neste período, o bloco reunia oito partidos – sendo eles PSC, PP, Pros, MDB, PTB, PR e Solidariedade.

O número subiu para 13 legendas partidárias quando, em 2016, teve início o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff passando a incluir legendas como PSD, PRB, PSL e Avante, por exemplo. A ex-presidente chegou a negociar com o bloco, inclusive, para nomeações em cargos no segundo e terceiro escalão do Governo, mas acabou sendo derrotada na votação na Câmara dos Deputados, em abril, que decidiu pela continuidade do processo de impedimento.

Já durante o Governo Temer, entre 2016 e 2018, o Centrão era formado por 12 partidos: PP, PR, PSD, PTB, Pros, PSC, SD, PRB, PEN, PTN, PHS e PSL. Também integrava a base de sustentação o MDB, partido de Michel Temer. 

Somados, o bloco tinha cerca de 225 deputados federais, representando quase metade dos parlamentares da Câmara dos Deputados – que possui 513 deputados. 

Partidos do Centrão em 2022 

Na atual legislatura, o Centrão é formado pelos partidos:

  • PP (com 58 parlamentares)
  • Republicanos (com 44 parlamentares)
  • Solidariedade (com 8 parlamentares)
  • PTB (com 3 parlamentares). 

Além destas legendas, o grupo também conta, em algumas votações ou negociações, com parlamentares do PSD (46 deputados), MDB (37 deputados), União Brasil (51 deputados), Pros (4 deputados), PSC (8 deputados), Avante (6 deputados) e Patriota (5 deputados).

Quem são os líderes? 

Entre os principais líderes do Centrão, estão:

Do PL, partido de Bolsonaro, se destacam o presidente nacional da legenda, Valdemar Costa Neto e o deputado federal Wellington Roberto (PL-PB), que lidera a bancada do PL na Câmara dos Deputados.

Outros nomes do grupo de destaque do Centrão são o deputado Marcos Pereira (Republicanos-SP), que preside a Executiva nacional do partido e é vice-presidente da Câmara; o deputado Paulinho da Força (SD-SP), que preside o Solidariedade; e o presidente do PTB, Roberto Jefferson.  

Rodrigo Pacheco e Arthur Lira
Legenda: O apoio a eleição de Rodrigo Pacheco e Arthur Lira para as presidências do Senado e da Câmara foi um dos momentos que consolidou aliança entre Bolsonaro e o Centrão
Foto: Elaine Menke/Câmara do Deputados

Centrão e Bolsonaro 

O presidente Jair Bolsonaro foi um dos mais críticos à atuação do Centrão, chegando a atacar o grupo, por exemplo, durante a campanha eleitoral de 2018. 

Na época ele criticava a "velha política" e o "toma lá dá cá" na política brasileira, práticas que associava ao Centrão, e garantiu ainda que não fazia parte do bloco. "Por isso nós não integramos o centrão, tampouco estamos na esquerda de sempre", disse em propaganda eleitoral naquele ano.

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Ao iniciar o governo, em 2019, Bolsonaro preferiu dialogar com frentes parlamentares temáticas, ou seja, grupos que tratam de assuntos específicos dentro do Congresso Nacional, seja vinculado a áreas como segurança pública e agronegócio, seja vinculado a categorias profissionais, como enfermagem. 

Com a pandemia da Covid-19 e a necessidade de aprovar medidas, principalmente econômicas, o Governo Bolsonaro passou a se aproximar, em 2020, das lideranças do Centrão. 

Entre os movimentos decisivos, está a nomeação de Ciro Nogueira para a Casa Civil, além do apoio para a eleição de Arthur Lira e Rodrigo Pacheco (PSD-MG) para a presidência da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, respectivamente. 

Neste mesmo período, Bolsonaro passou a defender o grupo. "O Centrão é um nome pejorativo. Eu sou do Centrão", afirmou o presidente em entrevista de 2021. 

"O tal Centrão, que eu chamo de pejorativamente isso, são alguns partidos que lá atrás se uniram na campanha do Alckmin e ficou, então, rotulado Centrão como algo pejorativo, danoso à nação. Não tem nada a ver. Eu nasci de lá", completou.
Jair Bolsonaro
Presidente

Partidos ligados ao Centrão chegaram a disputar a filiação de Bolsonaro, que se desfiliou do PSL, partido pelo qual foi eleito, em 2019. Antes de se filiar ao PL em 2021, Bolsonaro foi cortejado por legendas como Patriota, PP e o PTB. 

O que foi o ‘tchuchuca do Centrão’? 

Termo que ficou famoso na música do grupo de funk carioca Bonde do Tigrão,  'tchutchuca' ganhou um tom pejorativo ao ser usado como crítica a integrantes do Governo Bolsonaro. 

O episódio mais recente foi em agosto, quando o influencer Wilker Leão foi puxado pela gola da camiseta pelo presidente Jair Bolsonaro, que também tentou pegar o celular do youtuber. A agressão, que viralizou nas redes sociais, ocorreu após Wilker chamar Bolsonaro de "tchutchuca do Centrão". 

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Wilker Leão estava no "cercadinho" próximo ao Palácio do Planalto, onde o presidente conversa com apoiadores quase diariamente. Leão fez críticas ao mandatário. 

"Quero ver se é corajoso de sair pra conversar comigo, tchutchuca do Centrão. Você é tchutchuca do centrão", disse Wilker Leão. Na sequência, o presidente o puxou pela blusa e tentou tirar o celular das mãos do youtuber. 

Não foi a primeira vez que a palavra 'tchutchuca' foi usada como crítica ao Governo Bolsonaro. Em 2019, o deputado Zeca Dirceu falou que o ministro da Economia, Paulo Guedes, agia como "tigrão" em relação a aposentados, idosos e pessoas com deficiência, mas como "tchutchuca" em relação à "turma mais privilegiada do nosso país". 

A crítica foi feita em uma audiência da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados com a presença de Guedes – que respondeu que "tchutchuca é a mãe e a avó". 

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