Legislativo Judiciário Executivo

Demolição do Edifício São Pedro: o que dizem os vereadores de Fortaleza sobre decisão da Prefeitura

Temática reverberou na sessão ordinária realizada na manhã desta terça-feira (5)

Escrito por Bruno Leite , bruno.leite@svm.com.br
Demolição do São Pedro
Legenda: Intervenção começou na manhã desta terça-feira (5)
Foto: Thiago Gadelha

O fim do Edifício São Pedro, que um dia sediou o Iracema Plaza Hotel e agora está sendo demolido pela Prefeitura de Fortaleza, repercutiu na Câmara Municipal durante a sessão desta terça-feira (5). Os membros do Parlamento municipal utilizaram a tribuna para criticar a medida, anunciada pelo prefeito José Sarto (PDT) na noite de ontem. 

Ao discursar no Plenário, a vereadora Adriana Gerônimo (Psol) traçou um histórico da situação do imóvel, relembrando seu tombamento provisório, em 2006, e ressaltando que as incursões tinham como objetivo a requalificação do patrimônio, mas não obtiveram êxito. Para ela, o episódio é o desfecho de uma "tragédia anunciada".

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"São anos e anos de denúncia, pedidos reiterados de tombamento nas três esferas (municipal, estadual e federal), descaso total dos entes públicos e, sobretudo, benevolência com os grandes proprietários e loteadores de terra, que abandonam seus terrenos", salientou a parlamentar.

Gerônimo caracterizou a situação como uma "omissão em rede" por parte dos órgãos públicos - de Município, Estado e União - e da iniciativa privada. "É importante a gente trazer aqui para a Câmara o histórico do abandono feito no Edifício São Pedro, pelo menos nos últimos anos", destacou. 

A psolista sugeriu ainda que houve uma intencionalidade no processo de degradação da estrutura. "Não vamos nos enganar com o discurso de que a demolição do São Pedro foi uma fatalidade, porque não foi. É um projeto de cidade que despreza o patrimônio histórico e cultural. Uma cidade que não tem memória", completou. 

Apoio à decisão

Líder do governo Sarto, Iraguassú Filho (PDT) defendeu, em conversa com o Diário do Nordeste, a ação da administração municipal. Nas palavras dele, a decisão prezou pelo bem-estar da população que circula pela região.

"Conversei com alguns secretários, como, por exemplo, o Francisco Ibiapina (Direitos Humanos e Desenvolvimento Social), e a decisão da Prefeitura é extremamente acertada, principalmente pela questão da preocupação de ter problemas ali que colocavam em risco a integridade física, não somente daquelas pessoas que residiam lá até semana passada e foram retiradas, mas também de transeuntes", justificou.  

Ele concordou que o bem poderia ser considerado um patrimônio histórico da cidade, entretanto, pelas condições estruturais, isso não será mais possível. Questionado sobre a destinação da área, a liderança respondeu que não teve acesso a informações mais detalhadas sobre a questão.

Por fim, Iraguassú rejeitou os argumentos oposicionistas de que houve uma negligência por parte do Poder Público. "Não acho, porque, quando os diálogos começaram a acontecer, foi identificado pela Defesa Civil uma interdição naquele momento", sustentou. O político adicionou que a propriedade era privada e que a participação do Município se deu no sentido de exercer o poder de polícia.

Morte de jovem no São Pedro

Outro legislador que falou sobre o tema foi Júlio Brizzi (PDT), que lançou luz sobre a discussão feita ao longo dos últimos anos no que diz respeito ao Edifício São Pedro. Ele mencionou ainda o incidente envolvendo a morte da estudante e grafiteira Renata Nakayama, de 23 anos, após uma estrutura no interior das ruínas ceder e ela se acidentar.

"Em 2021, a gente teve o óbito de uma jovem artista lá no prédio. E diversas outras situações que há muitos anos, o edifício, por estar abandonado, propicia com relação à segurança, a ocupação irregular, a questão do próprio espaço da praia", afirmou. 

Para Brizzi, o que ocorre agora com o antigo hotel é um exemplo de um "problema crônico" vivido em Fortaleza: o "desrespeito ao patrimônio cultural". "Não é possível que a gente não consiga preservar nossa memória, buscar nossa identidade, respeitar o que passou", protestou o pedetista. 

Segundo ele, o prédio realmente não tem condições de permanecer de pé, devido ao estado avançado de deterioração. "Já devia ter sido reformado, ou pelo menos ter tido uma ação para preservar a estrutura antes", sugeriu. 

Edifício São Pedro
Legenda: Edificação estava em estado avançado de deterioração.
Foto: Thiago Gadelha/SVM

Impacto econômico

O vereador Adail Júnior (PDT), por sua vez, falou do crescimento econômico da Capital como um atributo que não pode ser posto em risco com um elemento que ameaça a ordem pública como o São Pedro. "Acredito que quando um estudo aponta não haver mais condições de fazer uso desse prédio, qualquer que seja, como uma cidade de comércio pujante que é Fortaleza, que já vem há três anos como o maior PIB do Nordeste, a cidade mais procurada do turismo durante o Réveillon no Brasil... então não podemos parar", iniciou.

"Não vai ser um prédio praticamente inativo, fora de cogitação para o aproveitamento dele, ficar parado num local daquele, no centro turístico da cidade de Fortaleza. Hoje, grande maioria, inclusive vereadores de oposição desta Casa, já entendem que é necessário que a cidade continue avançando", continuou. Na interpretação de Adail, demolir o prédio foi uma atitude corajosa.

Dúvidas sobre destinação

A líder da bancada de oposição, Adriana Almeida (PT), disse que os parlamentares do bloco receberam com surpresa a determinação do prefeito Sarto. "Sabemos que existem vários problemas que não foram avisados agora, mas há muitos anos. Poderiam ter tomado uma atitude antes, no sentido da preservação e da conservação. A gente olha com muito cuidado, porque não existe uma política de preservação do patrimônio. Vemos isso com preocupação", revelou.

Almeida chamou atenção para o passo a passo que antecedeu a publicação pelo Paço Municipal e uma falta de transparência. "O que vai ser feito ali? Quanto será gasto? Vai beneficiar a população? É um equipamento público ou prédio para beneficiar quem tem um poder aquisitivo maior?", indagou, prometendo uma discussão concisa na CMFor.

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Ligado ao debate sobre educação patrimonial, o vereador Danilo Lopes (Avante) comentou sobre como do São Pedro é um marco para Fortaleza, tanto pelo seu destino como pelo simbolismo que carregou ao longo das décadas em que esteve instalado nas proximidades da faixa de areia. "Apesar do São Pedro ser um edifício relativamente novo, tem que se entender a relação emocional dele com a cidade", explicou.

"O São Pedro teve um destino programado. Todo mundo sabia que aquele abandono e a falta de manutenção ao passar do tempo ia fazer com que efetivamente tivesse um laudo de que não tem mais condições de reparo. Hoje, para mim, ele representa, mais do que nunca, um aviso", expôs em entrevista à reportagem. 

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