De Mamãe Noel a passeio de helicóptero com o Bom Velhinho, Natal mobiliza espírito político no Ceará
Festejos nas prefeituras fomentam não só a Cultura, mas o Turismo e a Economia, e têm atraído cada vez mais investimento de prefeitos e prefeitas
Pontos turísticos iluminados, árvores de Natal gigantes, coral de música, chegada do Papai Noel, distribuição de presentes e entrega das "chaves das cidade" ao Bom Velhinho: são muitas as cidades no Ceará que se vestiram do clima natalino sob o comando das prefeituras nas últimas semanas. Mas não é só o espírito natalino que reina, o espírito político também esteve presente.
Além dos tradicionais discursos de prefeitos e prefeitas na abertura das festividades, houve quem ousasse na interação com o público. Foi o caso da prefeita de Paraipaba (cidade da Região Metropolitana de Fortaleza), Ariana Aquino (Republicanos), que se vestiu de "mamãe noel" no último dia 16 de dezembro para desfilar nas ruas ao lado do Papai Noel e entregar as chaves da cidade durante o Natal de Luz de Paraipaba.
Teve ainda Papai Noel desembarcando de helicóptero ao lado de lideranças políticas. Em Pacatuba, também na Região Metropolitana, as crianças receberam o "entregador oficial dos presentes" ao lado do prefeito Carlomano Marques (MDB) e do deputado federal Junior Mano (PL). E teve criança que garantiu a foto no colo do Bom Velhinho com o prefeito sentado ao lado.
Os festejos natalinos, que são mote tradicionais de atrações turísticas e como fonte econômica de cidades - por exemplo Gramado, no Rio Grande Sul, estão cada vez mais elaborados e atrativos em cidades que não tinham tradição nesse tipo de evento - como é o caso de Paraipaba.
"Era algo que você não tinha antes. Há dez anos, ficava restrito a municípios como Iguatu", relembra o consultor e especialista em marketing político, Leurinbergue Lima.
Ele recorda que, em 2012, a Prefeitura de Fortaleza promoveu, na Capital, o desfile do "Iguatu Natal de Luz", como estratégia do Turismo. A fama da cidade do Interior lhe rendeu a pecha de "Gramado do Nordeste".
"Hoje você tem muitas prefeituras fazendo coisas muito legais e de qualidade. É válido e necessário. Há obras que não aparecem tanto, como um saneamento básico - fica embaixo da terra, a pessoa não vê. O Natal passa 30, 40 dias, e todo dia a pessoa vê. Vai ficando uma marcazinha no coração da pessoa. E mostra também um cuidado, um zelo com a cidade. A decoração geralmente vem acompanhada de uma limpeza, um calçamento, então as pessoas acabam ganhando também", destaca Leurinbergue.
A iluminação, a alegria e a beleza que só o Natal traz aos espaços físicos não é mais exclusividade de Iguatu. Em Redenção, na Serra de Guaramiranga, a gestão do prefeito Davi Benevides (PDT) promoveu desfiles nas ruas com apresentações culturais, Casa do Papai Noel, desfile nas ruas com estrutura carregada por caminhões e até simulação de neve. Nas ruas, quem acenava para o Papai Noel ganhava um "tchauzinho" também do prefeito.
Imagem pública
Quando se trata de ação política, não se pode dissociar um fato dos interesses que envolvem também imagem pública e eleitoral. "Esses eventos promovidos por políticos não são feitos de forma aleatória e pelo espírito natalino, há o componente eleitoral, a necessidade de estreitar os laços com a comunidade, seja em eventos, seja em distribuição de benesses que incorporam nessa prática", pontua a cientista política e professora da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Monalisa Torres.
Mesmo para quem não contava com grandes recursos, a festa foi garantida. Em Milhã, no Sertão Central, o prefeito Alan Macêdo (PDT) e a esposa, Jamine Borges, que também é secretária da Saúde do Município, guiaram o "trenó" do Papai Noel na cidade, improvisado em um carro, modelo buggy. No palanque, além das lideranças da cidade, estava também o deputado estadual Leornado Pinheiro (Progressistas).
Monalisa Torres lembra que a construção da imagem pública de um político passa pela representação da figura carismática, "a pessoa que se apresenta acessível, próxima, generosa, afetuosa".
No interior, essa relação é mais intensa ainda. "Principalmente nas cidades pequenas, o político está muito próximo das pessoas, você conhece a rua, a casa, sabe onde ele mora", ressalta Torres.
Seja passendo pelas ruas iluminadas e bem decoradas da cidade no trenó do Papai Noel, seja em grandes eventos em praças públicas, seja visitando bairros e entregando presentes ao lado do Bom Velhinho, seja chegando em um helicóptero, gestores públicos estão sempre com foco em somar pontos, mas é preciso atenção aos limites.
"A linha é muito tênue, no serviço público, entre ter que oferecer uma opção de lazer para as pessoas - porque muita gente não tem acesso ao lazer, e fazer politicagem disso", alerta Leurinbergue.
"Tudo o que o político faz, não pode estar dissociado, ele quer o capital político de imagem e um capital que se reverta em voto. Ele quer ser bem visto, bem valiado e que, quando precisar, isso se converta em voto", lembra o consultor.