CPI da Enel: veja respostas do presidente da empresa sobre problemas no Ceará
Executivo prometeu investimento de R$ 1,6 bilhão ao ano até 2026 para melhorar rede de abastecimento de energia no Estado
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instalada na Assembleia Legislativa do Ceará (Alece) para investigar a Enel realizou, nesta quarta-feira (24), oitiva com o atual diretor-presidente da distribuidora no Estado, José Nunes de Almeida Neto, que assumiu o cargo no dia 4 deste mês. O testemunho do executivo é um dos mais aguardados pelo colegiado.
Pouco antes do início da oitiva, inclusive, a Justiça Estadual concedeu habeas corpus preventivo a José Nunes de Almeida, para que ele fosse ouvido como testemunha, e não investigado. Todavia, a convocação do colegiado já previa a participação do diretor-presidente na condição de "convidado". A medida apenas reforçou a colocação, garantindo a Nunes o direto ao silêncio, caso ele assim desejasse.
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Apesar do habeas corpus, o executivo não se negou a responder aos questionamentos do relator do colegiado, deputado Guilherme Landim (PDT), responsável pela apresentação do relatório final aos membros da CPI da Enel. Ele quem irá indicar possíveis punições à empresa, caso assim identifique como necessário. Antes de ser enviado aos órgãos competentes, o relatório precisará ser aprovado. A expectativa é que o documento fique pronto no início de maio.
Na ocasião, o diretor-presidente da Enel Ceará reconheceu "falhas" da empresa e disse que há um novo plano de investimentos para melhorar a prestação de serviço no Estado, com uma previsão orçamentária de R$ 1,6 bilhão ao ano pelos próximos três anos.
Veja abaixo as principais respostas do presidente sobre a prestação de serviço da empresa no Estado.
Má prestação de serviço
Questionado sobre a culpa pela quantidade de multas que a Enel recebeu devido à má prestação do serviço no Ceará nos últimos anos, o diretor-presidente afirmou que a empresa não é conivente com as incorreções e, por isso, vem passando por uma reestruturação. Neste mês, o Programa Estadual de Proteção e Defesa do Consumidor (Decon), do Ministério Público do Ceará, multou a distribuidora em R$ 10 milhões pela falta de energia em localidades cearenses durante as últimas festas de Réveillon. Ainda cabe recurso.
"Eu lhe asseguro que, absolutamente, a direção da Enel não é conivente com as penalidades e eventuais incorreções. A Enel passou, no Brasil e no Ceará, por uma recente reestruturação, com o propósito de focarmos intensamente na nossa atividade de distribuição e buscarmos resgatar níveis de excelência que tivemos no passado. Pude compartilhar por seis anos a Enel sendo a melhor distribuidora do Brasil, aqui no Ceará. Nosso propósito é retrilhar esse caminho", frisou José Nunes Almeida Neto.
Nunes de Almeida Neto ainda foi pressionado pelos parlamentares sobre o motivo de tantos problemas na empresa.
“Para uma empresas de utilities, seja de energia, saneamento ou outra, olhar para o aspecto causa-efeito não é simples para sintetizar uma resposta, dizer que este é o ponto. Entendemos que uma empresa como a nossa normalmente não têm uma única causa. A percepção geral é que talvez tenhamos nos distanciado da essência do nosso negócio de distribuição. Temos outros negócios, muitos na área de geração, atuamos muito na área de renováveis e a avaliação que fazemos é que precisamos ter foco máximo na área de distribuição”, disse.
“Uma empresa de utilities têm que cultivar a humildade, escutar e ter uma escuta ativa. Como cultivo isso, não tenho nenhuma dificuldade de pedir desculpa aos cearenses que foram afetados por algum transtorno originário do fornecimento de energia elétrica, e firmar o compromisso de olhar para a frente e, no futuro, de não nos conformarmos com o mediano”, completou.
Compromisso de melhoria
O diretor-presidente assumiu o compromisso de que irá solucionar os problemas no Estado.
“Eu estou atrás da entrega, não apenas da promessa, então me comprometo com os senhores e senhoras que será uma busca incessante. Eu sei o quanto somos capazes, sei o quadro que a Enel Ceará possui, não nos conformaremos com o mediano, queremos estar entre as melhores distribuidoras do Brasil, o mediano não nos satisfaz”, disse.
Ele ainda reforçou que a mudança na gestão será no Brasil, não apenas na Enel Ceará. “Nas minhas tratativas e meus compromissos com meu chefe, há acordos para que tenhamos autonomia necessária para essas mudanças”, acrescentou.
Investimentos no Estado
Para voltar a conquistar a credibilidade dos cearenses na empresa, o executivo disse que a Enel Ceará tem um plano de investimentos de R$ 1,6 bilhão, focado, principalmente, em aumentar a relação de proximidade com o cliente e agilidade dos serviços.
"O que o cliente mais nos cobrar é proximidade, empatia e agilidade nas demandas. Essa proximidade, desde o (meu) primeiro dia na Enel, isso numa estrutura Brasil, porque também mudou nosso presidente a nível Brasil, a (Enel está) em busca de uma empatia e de maior proximidade com o cliente", reforçou.
Para isso, segundo ele, a empresa tem buscado resolver problemas de forma "conjunta" com órgãos e população.
Ainda sobre investimentos, o executivo disse ter “convicção” de que recursos da Enel Ceará não são enviados para a Itália, sede mundial da empresa. “A Enel Ceará é uma empresa listada em bolsa, de capital aberto, com acionistas minoritários, então, posso complementar com números, mas lhes asseguro que não é possível, por sua própria estrutura de capital”, informou.
Contratação e formação de profissionais
Uma das mudanças deverá ser o aumento na contratação de profissionais próprios, já que a maioria dos técnicos e eletricistas da companhia são terceirizados.
"Nós temos uma estruturação para contratação de profissionais próprio. Nós somos uma empresa que é muito terceirizada, nós trabalhamos com 10.650 profissionais, e tínhamos aproximadamente 1.040 profissionais próprios", reforçou.
"No sentido de estruturar melhor a área técnica e poder propiciar essa maior agilidade, nós construímos três centros de formação e treinamento com o Senai, um em Fortaleza, um outro em Sobral e um outro em Juazeiro do Norte. Contratamos 446 eletricistas formados por esses centros com 320 horas de formação. Contratamos também duas turmas de mulheres eletricistas"
Segundo Nunes, os centros de formação da empresa devem formar até 3,1 mil eletricistas por ano, parte deles será contratada pela própria Enel Ceará.
Equipamentos queimados
Outro ponto questionado pelos deputados foi sobre a demora da Enel Ceará em ressarcir os clientes com equipamentos danificados por falhas elétricas.
“Temos um rito de como o consumidor pode reclamar, naturalmente nem todos queimam por problema na rede, é comum só um aparelho na residência, então a primeira coisa que a gente faz é verificar se houve alguma oscilação na rede, mas vamos aprofundar e daremos uma resposta”, disse.
Concessão
O executivo também foi questionado e negou que a Enel esteja represando os investimentos no Estado com receio de que a concessão não seja renovada.
“Se olhamos numericamente, o nível de investimento que a Enel Ceará tem é o maior da história, não há uma depreciação, e o que acenamos para os próximos três anos é nesse patamar. A renovação das concessões preocupam a Enel, preocupa muito, esperamos que quando chegar a esse momento a gente esteja sendo uma empresa desejada pelos cearenses”, concluiu.