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Apoio de membros do PL a candidatos do PT deflagra nova crise no partido de Bolsonaro no Ceará

Na última semana, o deputado federal Júnior Mano foi expulso do partido, ele é o segundo parlamentar cearense da sigla expulso em pouco mais de um ano

Escrito por Igor Cavalcante , igor.cavalcante@svm.com.br
Nomes de PL que apoiaram candidatos do PT
Legenda: O deputado federal Júnior Mano e o ex-presidente do PL, Acilon Gonçalves, embarcaram na campanha de Evandro Leitão. O parlamentar foi expulso do PL, já Acilon se desfiliou da sigla. No ano passado, outro deputado federal do partido, Yury do Paredão, também foi expulso da legenda por se aproximar do Governo Lula
Foto: Reprodução/Instagram

De cinco deputados federais eleitos em 2022, o PL Ceará tem, atualmente, três parlamentares. A baixa mais recente ocorreu na última sexta-feira (18), com a expulsão de Júnior Mano por ordem do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A punição foi imposta depois que o parlamentar, ao invés de apoiar o correligionário André Fernandes (PL), participou de ato de campanha em prol da candidatura de Evandro Leitão, do PT, no segundo turno em Fortaleza. 

O caso de Júnior Mano segue roteiro semelhante ao do deputado federal Yury do Paredão (MDB). Bolsonarista eleito pelo PL em 2022, mas que, no ano seguinte, estava fazendo o “L” ao lado de ministros e acabou expulso do partido.

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Entre a última eleição municipal, em 2020, e o pleito atual, o PL passou por uma reviravolta nacional, e no Ceará não foi diferente. Então dominado por um um grupo tradicional na política cearense e integrante da base governista em âmbito estadual, o partido passou para as mãos dos aliados mais fiéis do ex-presidente Jair Bolsonaro, que se filiou à legenda em 2021. Desde então, embates entre membros do “antigo PL” e do “novo PL” viraram constantes, se acentuando nas eleições deste ano.

Antes da saída forçada de Júnior Mano, os alvos da cúpula do PL Ceará, sob comando do deputado estadual Carmelo Neto (PL), foram os prefeitos filiados à legenda que montaram composições com o PT. Tais ameaças e punições resultaram em uma debandada de mandatários da sigla, que não elegeu prefeitos neste ano no Ceará — a esperança da cúpula da legenda é sair vitoriosa ao menos na Capital, com André Fernandes no segundo turno.

Veja as crises do PL Ceará desde 2020 que resultaram na saída de filiados da sigla: 

Expulsão de Júnior Mano por apoio a Evandro Leitão

Júnior Mano chegou ao PL em 2019, egresso do Patriota. O parlamentar atualmente está no segundo mandato como deputado federal e tem reforçado sua liderança entre prefeitos do Interior. O berço político do mandatário é Nova Russas, município onde sua esposa, Giordanna Mano, foi reeleita prefeita. De perfil pragmático, o parlamentar mantém um histórico de boa relação com o Governo do Ceará e com o Governo Federal, mesmo quando um era ocupado por pelo petista Camilo Santana (PT) e outro pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Seguindo esse pragmatismo, Júnior Mano decidiu promover um evento de apoio a Evandro Leitão reunindo mais de 40 prefeitos cearenses O ato, que também contou com a presença de Camilo Santana e do governador Elmano de Freitas (PT), ocorreu na última quinta-feira (17), um dia depois do próprio deputado federal anunciar que foi expulso do PL.

Júnior Mano em ato de apoio a Evandro Leitão (PT)
Legenda: Júnior Mano em ato de apoio a Evandro Leitão (PT)
Foto: Reprodução/Instagram Bruno Gonçalves

Em vídeo publicado nas redes sociais, o mandatário contou que Bolsonaro soube do evento por meio do presidente do PL Ceará, Carmelo Neto, e pediu ao presidente nacional do PL, Valdemar da Costa Neto, sua expulsão da sigla.

“Acabo de receber uma ligação do presidente estadual, Carmelo Neto, presidente do PL, no qual ele recebeu uma ligação do seu líder maior, o (ex-)presidente (Jair) Bolsonaro, dizendo que exigiria a expulsão do deputado Junior Mano do PL”, disse o próprio Mano no registro veiculado no Instagram. 

No pronunciamento, o parlamentar — agora sem partido — falou do seu respeito, da lealdade ao PL e ao presidente nacional, Valdemar da Costa Neto. Pontuou ainda que seu apoio ao candidato petista aconteceu por entender que o Evandro é a melhor opção para Fortaleza diante do seu ex-correligionário, André Fernandes. “Voto no Evandro não é porque ele é do PT. Voto no Evandro porque ele é o melhor para Fortaleza”, disse o político.

Ex-presidente do PL deixa o partido para apoiar petista

O apoio de Júnior Mano não foi o único de uma liderança do “antigo PL” para Evandro Leitão. O ex-presidente da sigla, Acilon Gonçalves, também embarcou de cabeça na campanha petista no último dia 10 de outubro. O político aparece em vídeo ao lado do postulante à Prefeitura da Capital. A dupla ainda estava acompanhada do filho de Acilon, Bruno Gonçalves, prefeito reeleito de Aquiraz, e de Carla do Acilon (DC), vereadora eleita em Fortaleza. 

“Quero aqui apresentar o posicionamento oficial do meu grupo político que, por amor a Fortaleza, convida todos para votar e eleger para Prefeito de Fortaleza o maior e o melhor Evandro Leitão 13”, disse Acilon. Logo após o anúncio, o presidente do PL Ceará, Carmelo Neto, também correu para as redes sociais, mas para esclarecer que Acilon havia se antecipado e já não pertencia mais aos quadros da legenda quando anunciou o apoio.

Acilon em carreata de campanha do candidato Evandro Leitão (PT) no último fim de semana
Legenda: Acilon em carreata de campanha do candidato Evandro Leitão (PT) no último fim de semana
Foto: Reprodução/Instagram Evandro Leitão

Ainda à época em que presidia o PL, Acilon foi tendo sua força dentro da sigla minada pela ala bolsonarista. Antes da filiação do ex-presidente, em 2020, Acilon articulou a eleição de mais de dez aliados como prefeitos em cidades da Região Metropolitana de Fortaleza e do Interior. Contudo, com a chegada dos bolsonaristas, o político passou a sofrer pressões locais e nacionais para radicalizar a sigla.

Em novembro de 2023, Acilon decidiu renunciar à presidência do PL alegando “dificuldades de relacionamento com pessoas do partido que não pertencem oficialmente à Executiva Nacional, tampouco à Executiva”. Ele seguiu na legenda até este mês, mas, na prática, migrou seu grupo político para siglas como PRD e DC, o que refletiu em parte da debandada de prefeitos do PL.

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Prefeitos do PL precisam achar “jeitinho” para manter aliança com petistas

Enquanto prefeitos aliados diretamente a Acilon resolveram deixar o PL, outros mandatários — entre vereadores, prefeitos e vice-prefeitos —  insistiram em permanecer no quadro de filiados do partido. Alguns deles, contudo, acabaram virando alvos da cúpula do PL mais recentemente. Em julho deste ano, Carmelo Neto fechou o cerco contra correligionários do Interior que fizeram alianças com o PT. 

O dirigente partidário dissolveu a comissão provisória da sigla em Ipueiras. “Onde o PT tiver, o PL vai estar do outro lado. Essa é a nossa decisão e se tiver alguma comissão com a pretensão de coligar com o PT, saiba que será dissolvida no dia seguinte", informou Carmelo Neto à época.

Bastou a ameaça para as alianças entre PL e PT nos municípios de Baturité, Alto Santo e Aratuba serem desfeitas. Contudo, conforme mostrou o PontoPoder, esses recuos oficiais não passaram de um “jeitinho” encontrado por lideranças locais para driblar a direção estadual. A parceria entre integrantes dos dois partidos no Interior seguiu extraoficialmente, inclusive com o próprio deputado Júnior Mano, ainda no PL à época, fortalecendo chapas que tinham o PT no arco de aliança. 

A debandada de prefeitos aliados de Acilon, somada à radicalização interna da sigla, se refletiu nas urnas. Em 2020, o PL elegeu 13 prefeitos. Neste ano, até agora, nenhum nome lançado pela sigla garantiu a vitória no primeiro turno.

Deputado do PL é expulso do partido por “fazer o L”

No ano passado, outro episódio marcou as divergências internas no PL Ceará e terminou com a expulsão do deputado federal Yury do Paredão. Passada as eleições de 2022, o parlamentar se aproximou do grupo governista no Ceará e em Brasília. 

Em agenda com o Governo Federal em Pernambuco, ele fez o "L" ao lado de ministro de Lula. O caso foi o estopim para Yury dentro do partido, que já vinha demonstrando insatisfação com a cúpula de Brasília e com alguns parlamentares do Ceará.  

Proximidade de Yury do Paredão com a gestão petista motivou sua expulsão do partido
Legenda: Proximidade de Yury do Paredão com a gestão petista motivou sua expulsão do partido
Foto: Divulgação

Quando Lula visitou o Estado, em maio de 2023, Yury participou da recepção ao presidente. À época, ele chegou a postar fotos ao lado do chefe do Planalto e de outras lideranças petistas, como o governador Elmano de Freitas, o deputado federal José Guimarães e o ministro da Educação, Camilo Santana.  

Logo após o episódio, André Fernandes chegou a solicitar a expulsão do colega de legenda. O ato acabou sendo confirmado em julho daquele ano, após Yury fazer o "L". Atualmente, o deputado integra os quadros do MDB, partido aliado do Governo Lula e da gestão Elmano. 

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