Os Transacionais cobra que o Carnaval de Fortaleza vire política pública para não ficar refém de gestão

Há 16 anos, a banda é atração do ciclo carnavalesco da cidade. Com o bloco 'Chão da Praça', reforçou sua relação com a festa

Escrito por
Redação producaodiario@svm.com.br

Os Transacionais, banda que toca o melhor da música retrô brasileira, completa 18 anos de estrada em 2025. 16 desses anos são no Pré e Carnaval de Fortaleza. Tanto que é quase impossível pensar na festa e não relacionar ao quarteto formado por 
Dangelo Feitosa, Miguel Basile, Jolson Ximenes e Júnior Torres. Como suor e glitter, passaram a representar a folia da Capital, sejam em espaços públicos como privados, levando repertório rico e gigante e um formato intenso de show.

No Que Nem Tu especial de Carnaval desta quinta (20), os vocalistas Jolson e Miguel falam como viram mudar nesses anos a festa em Fortaleza. Contaram os perrengues vividos nas estradas, os momentos inesquecíveis, a construção do repertório, o convite para comandar o bloco Chão da Praça, o desafio de ver seu público envelhecer e os planos para celebrar a maioridade do grupo.

OUÇA UM NOVO EPISÓDIO A CADA QUINTA-FEIRA, NO SEU TOCADOR DE PODCAST PREFERIDO:

Spotify

Deezer

Apple Podcast

Amazon Music

Pensar o Carnaval para o grupo, vai além de escolher repertório, colorir os cabelos e apostar no figurino mega estampado. Eles refletem sobre a necessidade de garantir que a festa exista de forma organizada, independente de qual gestão municipal de cultura vai entrar a cada 4 anos.

"Eu costumo dizer que o Carnaval de Fortaleza está longe de ser o que ele vai ser. A gente tá em transformação, já melhorou muito, mas ele ainda não é. Pra ser, ele tem que ter uma política pública municipal que já garanta um formato. A gente não fica refém de gestão nenhuma. Independente de mudar de gestão, já sabe que vai ter X de orçamento, já sabe que vai ter X de palco, já sabe que vai ter X de oportunidade, X de artistas que vão ser convidados. Outro número que vai ser bloco e tal, outro que vão ser novatos, que vão se inserir dentro do grupo. Tem que virar uma política. Eu acho que se a gente tá construindo, a hora é essa. Cada um ajuda no seu jeito. O carnaval deixar de ser de gestão. O carnaval não é da gestão. O carnaval é da cidade. E a prefeitura vai ter que ajudar enquanto órgão público responsável por isso", defende Jolson Ximenes.

Veja também

Ele e Miguel lembram de quando ficar em Fortaleza era "castigo" nesse período. Era ver a cidade sem movimento e vida. Aos poucos, com iniciativas individuais, a cidade foi virando um polo de alegria. "Com o passar do tempo, o pré-Carnaval sempre foi muito forte, teve uma visibilidade muito maior, o pessoal do próprio pré-Carnaval viu que a força e a importância de ficar aqui também no Carnaval", completa.

A necessidade do poder público de apoiar esse movimento que surge de forma orgânica, de blocos e grupos independentes, que faz com a festa de agigante. A dupla lembra que quando surgiu o convite para comandar o Chão da Praça, bloco do Dragão do Mar, o formato trouxe outra possibilidade para artistas e pública. Havia alí um apoio de gestão que deu mais qualidade e conforto para o pré-carnaval.

"Pré Carnaval de Fortaleza sempre existiu. Quem brigou por ele foi o Sanatório Geral, o Luxo da Aldeia, que faziam cara e na coragem. Qual era o grande diferencial do Chão da Praça quando surgiu? Infraestrutura. Depois da galera do Luxo estar se matando pra colocar um som ali no seu Chaguinha, bancando do bolso ou coletando da galera. O som pra rua, ele tem que ter estrutura grande pra poder chegar lá atrás. Então tinha tanta gente no Luxo, que você não conseguia nem ouvir a banda lá atrás. Mesmo coisa do Sanatório também, né? Na cara e na coragem, vendendo camisa, né? A galera chegando junto e ajudando. Aí de repente você tem um poder público ali te dando todo um suporte de palco, de luz, de divulgação. Então assim, por repercutiu".

Dangelo Feitosa, Jolson Ximenes , Miguel Basile e Júnior Torres formam Os Transacionais
Legenda: Dangelo Feitosa, Jolson Ximenes , Miguel Basile e Júnior Torres formam Os Transacionais
Foto: Ismael Soares

Esse modelo, defendem eles, deveria chegar a outros blocos que não estão dentro da programação oficial, mas fazem a festa acontecer legitimamente. Ele fala das Gata Pira, do Simpatizo Amor de Bloco, do Pra Quem Gosta... "Quem tá construindo tudo isso é o povo. E aí tu de repente, porque não foi tu que criou, tu acha que tu não deve ajudar?", critica.

Repertório

A banda cujo repertório envolve desde os clássicos da música brasileira, incorporando marchinhas, frevo, axé e também muit música cearense, teve que atualizar algumas canções. Para eles, um show 3 horas tem repertório a perder de vista. E isso nunca foi problema. Problema mesmo foi convencer a banda e algumas pessoas do público a inserir Chiclete com Banana, relembram.

"A gente entrou num conflito no Facebook que até o público se envolveu. 'Vocês não precisam de Chiclete com Banana', 'Toca, que é mágico', diziam. E a gente queria tocar uma música do Chiclete de 1982, viu? Tava dentro da margem de tempo! E a gente toca até hoje", diz Jolson. A música, em questão, é "Gritos de guerra".  Quando Os Transacionais tocou o hit da banda baiana no Chão da Praça, a galera foi a loucura. Eles vão incorporando o repertório com canções mais retrôs, mas sentem que o público tem suas preferidas: "Frevo Mulher", "Cartaz", "Menina Baiana", "Anunciação".

Para este ano, Os Transacionais pensam em vários projetos especiais. Um disco de músicas autorais, compostas por cearenses, show-homenagem a um grande nome da música cearense e parcerias potentes. Para tudo isso, eles querem fazer um ano inteiro de celebrações. E tem jeito melhor que começar, justamente, fazendo a festa das multidões coloridas de Carnaval?

Este conteúdo é útil para você?