Haroldo Guimarães fala como foi difícil gravar novela da Globo em meio a morte de sua irmã: 'realidade é muito pior'
O cearense interpretou o Primo Cícero em "No Rancho Fundo" e lembra como foi surpreendido com o crescimento de seu personagem no folhetim
Ator, humorista, cantor, advogado e professor de Direito. Pai da Malu, esposo da Cibele, filho de Haroldo e Eliedira e irmão de Elihara, Elidihara e Elihaldo. São muitos os papéis vividos por Haroldo Guimarães no dia a dia corrido daquele que não deseja colocar limite nos seus sonhos. O cearense que fez seu nome no Direito e o refez no cinema e na TV, alcançando um público nacionalmente, diz que está diferente. Diverte, faz gaiatice, adora uma fuleragem, mas vem cada dia mais deixando-se invadir pelo choro, emoção e saudade e, agnóstico que era, diz até que passou a acreditar mais no que é divino.
Haroldo abriu o jogo e o coração no episódio desta quinta-feira (23) do podcast Que Nem Tu. Falou sobre sua trajetória, como sua família impactou nas decisões que tomou profissionalmente, da amizade e parceria dos tempos de colégio com Edmilson Filho, do seu início como ator e como foi a reação de seus pares do Direito ao gravar Cine Holliúdy. Hoje, ele vive o luto por sua irmã, que morreu durante as gravações da novela "No Rancho Fundo".
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Para ele, acostumado a adversidades, foi difícil conciliar o momento pessoal com o profissional. Vivia a realização de ver seu personagem Primo Cícero ganhando mais espaço na novela da Globo. Em casa, a dor, saudade e preocupações com a família após a morte de sua grande amiga e companheira Elidihara. O ator conta que precisou segurar a emoção muitas vezes para conseguir contar a história de seu personagem de forma coerente. Em muitas cenas, ele se emocionou e quis chorar. Contou com o suporte do preparador de elenco.
" Eu já ficava emocionado com o fato do Primo Cícero se comunicar com a esposa que tinha morrido. Eu já ficava emocionado com o amor dele pelas filhas. E aí eu tinha que controlar. Aí o preparador falou: 'meu irmão, você controla a emoção porque eu sei que você tem que contar a história'. Eu não sei se é o Matheus Nachtergaele que que diz que a emoção é um cavalo. Aí você tem que ter as rédeas do cavalo"
Haroldo diz que se sente mais forte para enfrentar o luto. E passou também a aceitar mais suas emoções. Para ele, faz parte de sua jornada pela fortaleza chorar e se emocionar. "Pra falar a verdade, como diz o Belchior, 'a realidade é muito pior'. Porque ela vai ter muito mais camada, muito mais sofisticada. A gente ser humano é um bicho que vai fazer cada coisa esquisita, cada coisa linda também. Então foi difícil. Estou vivendo ainda, estou vivendo o luto ainda. Agora eu estou sofrendo mais, mas eu estou mais forte. A minha luta é maior, a minha dor é maior, mas eu estou muito mais forte".
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A novela, que enfrentou críticas sobre estereotipar o Nordeste antes mesmo de iniciar a exibição de suas primeiras cenas, é defendida com unhas e dentes pelo cearense. Ele rebate as críticas, cita muitos nomes nordestinos que estavam na novela e compara a ficção nordestina com as tramas que envolvem favela carioca e faroeste. Para ele, é preciso valorizar esses espaços e não apenas criticá-lo.
Humor
Haroldo começou a fazer humor ainda na escola. Utilizou o riso como estratégia para enfrentar o bullying, depois para fazer amigos e mais na frente para se divertir e conhecer mais do mundo. Seu parceiro desde então foi Edmilson Filho. Os dois estrearam juntos como humoristas na escola e depois em festivais de humor pela cidade. Ele conta como as professoras sofreram com a dupla em sala de aula. Naquela época, na década de 90, já inventavam um humor de situação. Não criaram personagem, mas caíram nas graças do público.

A busca por uma carreira formal desviou ambos para outras profissões. Edmilson virou atleta. Haroldo advogado. Cine Holliúdy os colocou de novo em cena. O impacto foi enorme e todo mundo já conhece, mas Haroldo confidencia que não esperava o que aconteceu. Ele passou a ser conhecido como o advogado espilicute por conta de sua personagem no filme por alunos, que passaram a encher suas aulas. Clientes comentavam. Juízes e desembargadores pediram para ele tirar fotos com seus netos.
"Quando eu tinha achado que não era possível uma pessoa ter várias profissões... Eu disse, pô, será que uma pessoa pode ter tantas profissões? Será que está correto? O Feliciano de Carvalho, que é advogado ,dizia que advogado não é professor, advogado não é nada a não ser advogado. Caramba, o Feliciano de Carvalho falando isso, ele deve estar certo, eu sou apenas o Haroldo Guimarães. Ele estava correto na realidade dele. A geração que nos sucede, que é menos equipada que a nossa geração em muitas coisas, é mais equipada em muitas outras. Dentre elas é a seguinte: ele já nasce sabendo que o cara pode ser um arquiteto de alto nível, que pode ter várias profissões, ou pode ter meia profissão, que dá tudo certo, né?".