Quando a suposta primeira imagem de 'No Rancho Fundo' viralizou ainda em março deste ano, a opinião de que a novela traria uma representação rasa dos nordestinos parecia unânime nas redes sociais. Em entrevista ao Diário do Nordeste, no entanto, o ator cearense Haroldo Guimarães, um dos integrantes do novo lançamento da TV Globo, aponta uma falha na interpretação das imagens e ressalta crítica aos que julgaram a obra antes mesmo da estreia.
'No rancho fundo', que tem estreia marcada para o próximo dia 15 de abril, traz tramas com dois universos fictícios, ambos no sertão do Cariri. A história, definida como uma fábula sertaneja, retrata as famílias Leonel Limoeiro, com Zefa Leonel (Andrea Beltrão) como matriarca, e a de Primo Cícero Rosalino (Haroldo Guimarães). Além disso, a trama ainda aposta em personagens de 'Mar do Sertão', outro folhetim da Globo.
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"A novela é inspirada na peça A Capital Federal, de Artur Azevedo, que mostra a pessoa saindo do ambiente rural e se deparando com o ambiente urbano. Como que poderíamos fazer, no audiovisual, uma obra inspirada nessa sem exibir algo de rústico? Não é rústico no sentido de esdrúxulo não, é algo de não-urbano", rebate Haroldo Guimarães, enquanto expõe certa indignação com uma distorção do que seria a mensagem real da trama.
A imagem divulgada inicialmente da novela, Haroldo conta, teria sido retirada de contexto, já que as oficiais só foram divulgadas depois, com tratamento correto de imagem. Segundo o artista, o clima entre o elenco da produção foi de tranquilidade, já que todos teriam a consciência do real trabalho que estão construindo.
"Depois que o Whindersson falou sobre, todo mundo quis falar para também 'surfar no hype'. Mas assim, um jornalista me chamou atenção porque ele usou a imagem do meu personagem, o primo Cícero, e citou: 'mais uma vez estamos sendo representados por pessoas sujas, pobres, que estão atrás de um pau de arara'. Detalhe, ele falando isso e mostrando a imagem do meu personagem que usa ouro, se dá bem na região, etc. Não gostei", definiu.
Diante da situação, o ator cearense explica que o sentimento foi de tristeza. Como a história foi adaptada em uma obra anterior, o interessante, então, ele opina, estaria justamente no fato de se basear exatamente onde ela surgiu, o que derrubaria os argumentos utilizados em parte das críticas na web.
Em tom de brincadeira, Haroldo ainda deu detalhes de uma das tramas principais da novela para contrapor as ideias expostas anteriormente. "A família da Zefa Leonel, spoiler, trabalha com turmalina paraíba, explora mina. Não queria deixar o crítico decepcionado não, mas não se trabalha assim de terno!", rebateu, citando mais uma vez as informações de que os personagens foram mostrados sujos e mal-vestidos.
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"Os caras julgaram a novela antes mesmo de ver a novela. Se fosse pelo menos um concurso de foto, mas não, o cara veio julgar a novela com base em uma foto", completou sobre o tema.
Para Haroldo, um dos comentários mais problemáticos feitos nas publicações estava no aspecto dos personagens nas imagens de divulgação. A história, que retrata o contraste já citado por ele entre rural e urbano, pede a caracterização mostrada, ainda que a primeira foto não seja condizente com o material que deveria ter sido mostrado de início.
"O brasileiro tem uma relação muito ruim com o trabalho braçal, né?", iniciou, no que acredita ser um dos principais problemas das críticas. "É quase uma noção de Aristóteles em relação ao trabalho, como se o braçal fosse uma coisa feia, muito pelo contrário. Aí você vai para um país tido como desenvolvido e fica todo besta com cowboy. Todo trabalho é massa e para existir o urbano, precisa existir o rural", reforça.
O ator citou, durante a entrevista, vários nomes de artistas brasileiros que mesmo nordestino interpretaram sudestinos, o que também enfraqueceria o comentário de que atores do Nordeste não estão presentes em obras importantes. Por fim, Haroldo Guimarães voltou a pontuar a questão de que o contexto, geralmente, é tudo.
"Se você não souber o contexto, você não vai apreciar nem o Clair de Lune, de Debussy, ou o Guernica do Picasso. Você precisa entender o contexto daquela obra de arte que foi feita, por exemplo", finaliza.