Utopia na Terra
O termo Utopia, numa descrição de senso comum, significa “qualquer descrição imaginativa de uma sociedade ideal, fundamentada em leis justas e em instituições político-econômicas verdadeiramente comprometidas com o bem-estar da coletividade”.
Quando Martin Luther King disse: “Eu tenho um sonho, uma sociedade em que negros e brancos poderiam conviver em paz e harmonia”.
Quando Nelson Mandela disse, após 27 anos na cadeia: “Vou me tornar Presidente da África do Sul e unificar os povos, não pela sua cor, mas, sim, por suas ideias”.
Quando Muhammad Yunus diz: ”Vamos criar o museu da pobreza, as pessoas terão que ir até lá para saber como era viver na pobreza".
E quando Edu Lyra complementa: “Vamos criar o museu da pobreza antes de Elon Musk colonizar Marte”
Muitos os chamaram e chamam de utópicos.
A utopia tem uma particularidade, a régua dela é diferente para cada pessoa. O que para uns parece impossível, para outros é a luta diária de uma vida.
Cresci ouvindo meu pai falar uma frase que meu avô Clovis sempre dizia: “O possível por si só já está feito, eu quero fazer é o impossível".
Eu sou uma sonhadora, mas também determinada e realizadora dos meus sonhos, sou uma inconformista e muitas vezes desafio o status quo da sociedade quando encontro qualquer tipo de injustiça social.
Quando decidi fazer um hackathon social no Grande Bom Jardim, eu disse: “Vamos unir moradores do bairro com alunos da pós-graduação da Unifor, vamos todos dormir juntos por um final de semana, com os mesmos direitos, obrigações e oportunidades, e isso acontecerá lá no Bom Jardim.”
A minha intenção era viver nem que fosse por um final de semana o modelo de sociedade que eu acredito e que me faz acordar todo dia de manhã para construir.
Muitos me chamaram de sonhadora e utópica, talvez eu seja, talvez isso seja utopia para alguns, mas, para mim, eu achava ser plenamente viável e necessário, colocando em prática a frase do Gandhi que amo: “Seja a mudança que você quer ver no mundo.” Essa é a mudança que quero ver no mundo!
Claro que não foi fácil, tiveram desafios, muitos não queriam ir, tinham medo de dormir em uma escola pública no Bom Jardim, em um colchão no chão dentro de uma sala de aula com pessoas que não conheciam. Compreendo, mas acredito também que se seguirmos fazendo os mesmos caminhos, chegaremos nos mesmos lugares, e para ter a sociedade que tanto sonhamos, precisamos fazer caminhos diferentes, agir diferente, sermos disruptivos com nosso comportamento. Só assim chegaremos a lugares diferentes do que temos hoje.
Enfim, deu certo, tivemos um final de semana inspirador, eu mal conseguia dormir tamanha a minha alegria de estar ali vivenciando aquele momento UTÓPICO. Quantos aprendizados, quantas conquistas, quantas crenças foram por terra. Quantas transformações internas, para todos que participaram.
No último dia, minha amiga e fundadora da Edisca, Dora Andrade chegou lá para ser jurada e, emocionada, disse: “Amiga, isso é Utopia na Terra!” Foi daí que tirei o título desse artigo e a partir desse dia eu disse: É, sim, amiga, e podemos construir muitas utopias na Terra, é isso que quero fazer todos os dias da minha vida.
E nos últimos dias 15, 16 e 17 de abril vivenciei outra utopia na Terra, quando decidi ir para a Expo Favela, em São Paulo, evento realizado pela Cufa - Central Única das Favelas, idealizado por dois utópicos Celso Athayde e Preto Zezé, que disseram:
“Vamos unir favela e asfalto, empreendedores da favela com investidores do asfalto, e será no World Trade Center, e vamos trazer como parceiro a Fundação Dom Cabral”
Para quem não sabe, o WTC é um símbolo do poder econômico de São Paulo, ocupado majoritariamente por homens brancos e ricos e a FDC é uma das melhores Faculdades do país, com quase 90% dos alunos brancos.
Ver a favela ocupar o asfalto, na sua maioria por mulheres pretas. Ver pretos e brancos dividindo palcos, rodas de conversas, fazendo negócios e se confraternizando, além de emocionante é a certeza de que SOMOS UM de verdade, estamos mudando a realidade do país e caminhando para realizar o sonho de criar o museu da pobreza. Foram três dias de fortes emoções, choros incontroláveis e uma sensação de que, sim, É POSSÍVEL!
Isso só aumenta a minha energia e a vontade de seguir trabalhando investindo na riqueza da favela. Foi uma emoção enorme representar a Somos Um e ter dois dos negócios acelerados por nós, a Bom Viver Reformas e o Giardino Buffet, expondo na maior feira de empreendedorismo social da América Latina.
Foi extremamente tocante ver outros oito negócios cearenses presentes lá, sendo um deles a Avia Delivery do Cariri um dos dez finalistas, que receberá mentoria da FDC, participará de um reality show na Globo e está concorrendo a 80 mil reais de prêmio pro seu negócio.
Isso é um compromisso que temos com o impacto que esses negócios geram e podem gerar no Ceará. Seguimos comprometidos a criar a nova economia, e, para isso, começamos valorizando a riqueza que existe na favela.
Saí do evento com ainda mais certeza de que Favela não é carência, Favela é potência! Só precisamos desconstruir as crenças que formamos durante décadas para constatar que isso é verdade.
Convido você a colocar dúvidas em todas as suas certezas em relação à favela, topa?
Agradeço imensamente ao Celso Athayde, Preto Zezé e todos os envolvidos pela coragem em concretizar essa utopia e romper várias crenças que nos limitam e que geram separatividade. Por derrubar esse muro e construírem pontes que nos conectam e que nos tornam verdadeiramente UM.
Muhammad Yunus disse: “Se não estão rindo ou criticando o seu sonho, ele não é grande o suficiente.”
E você, qual o tamanho do seu sonho? Qual a sua UTOPIA?
Ticiana Holanda Rolim Queiroz
CEO da Somos Um e diretora de Gente e Impacto da C. Rolim engenharia