Ceará investe em IA própria: um caminho arriscado ou estratégico?

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Helton Uchoa producaodiario@svm.com.br
Helton Uchoa é CEO do Grupo UTEI
Legenda: Helton Uchoa é CEO do Grupo UTEI

A Empresa de Tecnologia da Informação do Ceará (Etice) e a Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap) anunciaram recentemente a iniciativa de desenvolver sua própria inteligência artificial (IA) generativa. A decisão, que visa impulsionar a inovação e o desenvolvimento tecnológico no estado do Ceará, levanta questões importantes sobre o papel dos governos nesse novo cenário tecnológico.

Historicamente, projetos de tecnologia liderados por governos em áreas dominadas pelo mercado privado têm um histórico de fracassos. O projeto do Trem-Bala brasileiro, que visava conectar as cidades do Rio de Janeiro, São Paulo e Campinas, e o Healthcare.gov, plataforma digital de saúde americana apelidada de Obamacare, são exemplos emblemáticos de projetos ambiciosos que resultaram em desperdício de recursos públicos e frustração. A burocracia, a falta de flexibilidade e a dificuldade em atrair talentos são fatores que contribuem para o baixo desempenho dessas iniciativas.

Em contraste, o mercado privado, impulsionado pela competição e pela busca por lucro, demonstra maior agilidade e capacidade de inovação. Empresas como Apple, Microsoft, Tesla e Google revolucionaram diversos setores com produtos e serviços que geram valor para bilhões de pessoas.

Diante disso, a decisão do Ceará de criar sua própria IA generativa pode parecer um passo arriscado. No entanto, o governo estadual argumenta que a iniciativa visa suprir demandas específicas do Ceará, como a criação de soluções em saúde, educação e segurança pública, além de fomentar a economia local e gerar empregos.

É crucial que o governo cearense adote uma abordagem estratégica, combinando investimentos em pesquisa e desenvolvimento com a criação de um ambiente regulatório que promova a inovação responsável. A colaboração com universidades, startups e empresas privadas é fundamental para o sucesso da iniciativa.

O desenvolvimento de uma IA própria pode trazer benefícios como maior autonomia tecnológica, soluções personalizadas para as necessidades do Estado e a criação de um polo de inovação em IA no Ceará. No entanto, o governo precisa estar atento aos desafios, como a necessidade de investimentos robustos, a atração de talentos e a garantia da segurança e privacidade dos dados.

O Ceará pode se inspirar em casos de sucesso como o programa "Brasil Semicondutores", que visa incentivar empresas a investirem em pesquisa e desenvolvimento de semicondutores no Brasil.  A Lei Complementar 182 (Marco das Startups) também oferece um caminho para a inovação governamental, como demonstrado pelo Tribunal de Contas da União no Ceará (TCU), que utiliza o Contrato Público para Solução Inovadora (CPSI) para acelerar a inovação tecnológica e conta com a startup cearense Prefeitura Eficiente para conduzir um projeto que combina inteligência artificial e tecnologias geoespaciais visando automatizar a fiscalização de obras em nível nacional.

A iniciativa do Ceará é um passo ousado que coloca o Estado na vanguarda do desenvolvimento da IA no Brasil. O sucesso dependerá da capacidade do governo de criar um ecossistema de inovação que impulsione o desenvolvimento tecnológico e social, sem repetir os erros do passado.

Helton Uchoa é CEO do Grupo UTEI

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