Os desencantos dos jovens brasileiros
Vejo, em toda essa juventude brasileira, o teatro vivo de uma tragédia melodramática, onde meninos e meninas se dizem donos do futuro enquanto desviam os olhos do presente. É como se segurassem a tocha da democracia com uma mão e, com a outra, acenassem discretamente para a promessa de um líder forte, capaz de resolver tudo com a autoridade que as instituições, segundo eles, já não possuem. É a comédia das vaidades: proclamam amor à democracia, mas cochicham seu flerte com o autoritarismo — um paradoxo tão belo quanto uma flor de plástico num vaso de cimento.
Confiam, desconfiam, e no fundo não confiam em nada. Olham partidos, Congresso e governo como quem mastiga cacos de vidro. Acreditam mais nas manchetes do que nos mandatários, mais nas universidades do que nos representantes, mais nas igrejas do que nos projetos de país. Buscam credibilidade em templos seculares enquanto renunciam à política concreta, essa entidade desgastada, desacreditada, quase indigente.
Mas há esperança — claro que há. A juventude brasileira, com toda sua melancolia de palco, mantém firme a fantasia de que seu futuro pessoal será melhor. É triunfal, poético, quase romanesco. Porém, enquanto sonham com dias mais luminosos, caminham sobre um chão lamacento: pobreza, desemprego, insegurança, trabalho precário. O contraste é tão violento que faria corar até o mais cínico dos dramaturgos. Plantam rosas num terreno de pedras; a flor brota, mas exala cheiro de sangue.
E a participação política? Ah, esta é digna de um número circense. Nas redes sociais, a juventude é revolucionária: compartilha, reage, sentencia, lacra. Ativismo de sofá — barulhento, mas sem suor. Quase ninguém quer se engajar de verdade. É sempre mais fácil berrar no megafone digital do que enfrentar o esforço coletivo, essa arte difícil que exige presença, disciplina e, sobretudo, paciência — virtudes escassas no varejo emocional das redes.
No campo ideológico, o espetáculo continua. A maioria se abriga no centro, uma boa parcela flerta com a direita, e a esquerda abriga a minoria que insiste em remar contra o rio. Não é uma paisagem de revolução; é sinalização de trânsito: siga reto, ou vire à direita. Nada de quebra-quebra, nada de utopia gritante — apenas a moderação confortável, que ao mesmo tempo acalma e entedia. Enquanto isso, as mulheres jovens levantam pautas mais sociais, mais humanas, mais urgentes, talvez porque carreguem na pele as cicatrizes de um país desigual.
E então observo essa geração como quem assiste, da coxia, a um ensaio interminável: são belos, resignados, críticos, saudosos — tudo ao mesmo tempo. São crianças adultas a brincar com fogos de artifício na beira de um precipício. E, com o sorriso inquieto de quem já viu esse enredo antes, não posso deixar de perguntar: será essa chama promessa de luz… ou apenas uma faísca que se apagará depressa demais?
Gregório José é jornalista