A relevância da governança nas empresas familiares cearenses

Escrito por
Renata Santiago producaodiario@svm.com.br
Renata Santiago é economista
Legenda: Renata Santiago é economista

No Ceará, falar de empresas familiares é abordar a própria alma da nossa economia. Elas estão nas esquinas movimentadas de Fortaleza, nas lojas do interior, nas indústrias, na geração de energia limpa e nos serviços de todo o nosso território, que conectam gerações e sustentam histórias que atravessam décadas. Quando olho para os dados atuais da Junta Comercial, de que 11.843 firmas nasceram em outubro de 2025, com crescimento de 22% em relação ao mesmo mês de 2024, enxergo, muito além dos números, famílias que empreendem, arriscam, constroem e sonham com a perenidade. Mas, é justamente aí que mora o ponto sensível. Crescer é diferente de perpetuar.

A governança corporativa surge, nesse cenário, como um estágio de maturidade. É quando o instinto do fundador dá lugar ao método, a coragem do começo encontra a normalização dos processos e a intuição passa a conviver com a previsibilidade, instituindo-se um sistema com regras, estruturas organizadas, normas e propósito.

Cabe aqui lembrar a definição sintetizada no Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa do IBGC: “É um sistema formado por princípios, regras, estruturas e processos pelo qual as organizações são dirigidas e monitoradas, com vistas à geração de valor sustentável para a organização, para seus sócios e para a sociedade em geral. Esse sistema baliza a atuação dos agentes de governança e demais indivíduos de uma organização na busca pelo equilíbrio entre os interesses de todas as partes, contribuindo positivamente para a sociedade e para o meio ambiente”.

Não é exagero dizer que a governança é o diferencial entre a organização que depende exclusivamente do seu criador e aquela capaz de sobreviver a ele. Quando vejo uma empresa familiar cearense adotar suas práticas de modo consistente, percebo um sinal claro de que há vida além do sobrenome que a originou.

Sempre digo que o cearense tem um talento raro para aproveitar as oportunidades, inclusive as que brotam de sua peculiar natureza e regime climático. O vento e o sol hoje nos posicionam como potência em energias renováveis, na geração eólica e fotovoltaica. Da mesma forma, a forte presença de empresas familiares, longe de ser limitação, é uma vantagem competitiva quando acompanhada de estrutura, transparência e profissionalização. Não é por acaso que o Ceará reúne numerosas empresas listadas em bolsa e cases reconhecidos nacionalmente por suas práticas de gestão e controle.

A sucessão, tão temida em muitos negócios familiares, deixa de ser um tabu quando há governança bem desenhada. Trata-se de compreender que família, patrimônio e empresa são esferas diferentes, mas indissociáveis. A família precisa de regras claras, valores compartilhados e espaços próprios de diálogo. O patrimônio exige organização, planejamento e visão de longo prazo. E o negócio pede conselhos atuantes, critérios objetivos e liderança que transcenda laços afetivos.

O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) corrobora o conceito de que as empresas familiares mais bem-sucedidas são aquelas que tratam a gestão em três dimensões interligadas, embora distintas: família, patrimônio e negócio. A governança estabelece valores compartilhados, cria acordos de convivência e desenvolve mecanismos eficazes para resolução de conflitos, podendo inclusive contar com a criação de um Conselho Familiar para mediar discussões e garantir que as decisões respeitem os interesses coletivos.

Quanto à governança do patrimônio, frequentemente negligenciada, envolve a estruturação adequada de holdings ou family offices, assegurando uma gestão eficiente dos bens familiares e um processo de sucessão planejado. Evita-se, dessa maneira, as desgastantes disputas por herança ou desequilíbrios na distribuição de recursos.

No que diz respeito à governança da empresa, abrange desde a formação de conselhos de administração com membros independentes até a implementação de políticas transparentes de gestão. Assim, proporciona a necessária profissionalização e a tão desejada perenidade.

No meu entendimento, gerir bem é respeitar a história sem ficar prisioneiro dela. É honrar quem começou, mas preparar o terreno para quem virá. No Ceará que cresce, inova e se reinventa, a governança corporativa é um diferencial crescente das empresas familiares. É a prática que transforma até o Sol e os ventos em diferenciais e contribui para que o esforço de hoje transforme-se em legado do amanhã.

Renata Santiago é economista

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