Arranquem o asfalto das ruas das cidades do interior
Chegou a um ponto que, em tempos de chuvas, quando as águas encalham e invadem e derrubam as casas, as pessoas, sejam de bairros ricos ou da periferia, gostam de falar: “minha rua é asfaltada!”
Costumo viajar pelas cidades do interior do Estado do Ceará e pergunto aos amigos o que os prefeitos têm realizado de bom nos respectivos municípios. A maioria das respostas afirma que as administrações são decepcionantes. Alguns acrescentam que boa parte dos prefeitos carece de criatividade. Os prefeitos tomam posse e, se fazem alguma obra, fazem-nas de bem pouca importância. Entra e sai prefeito, e muitas cidades não registram uma obra para ficar em sua história.
Dada a importância da questão ecológica para a manutenção da vida no planeta Terra, vale mencionar que, em muitas prefeituras, não existe uma secretaria do meio ambiente. Nas prefeituras que essa secretaria foi criada, serve apenas como cabide de empregos para os afilhados dos correligionários. E, em cidades em que existe a dita secretaria do meio ambiente, o orçamento é tão insignificante que sequer permite ao secretário realizar o ato comemorativo do dia da árvore.
Como se não bastasse a falta de consciência sobre a importância de cuidar do meio ambiente, veja o péssimo exemplo de ações que prejudicam a natureza e a vida dos habitantes das cidades da Serra da Ibiapaba, Tianguá e Viçosa: outrora de temperaturas amenas e frias, com variações de 22ºC a 18ºC, após receberem asfalto em suas ruas, a temperatura dessas cidades se elevou a 25ºC e a 30ºC. O sol inclemente deriva em mormaço durante as noites. Não fosse a conhecida corrente de vento ‘Aracati’, que invade e refresca as cidades, a vida seria mais difícil.
Imagina, então, Quixadá, uma cidade cheia de pedras, ocupada de monólitos, bem como as demais cidades do sertão central: jogaram asfalto em todas as ruas como símbolo de modernidade. Há quem diga que a Pedra da Galinha Choca vai cuspir fogo a qualquer momento.
E isso por sutis artifícios e manobras de políticos “bem intencionados” e porque empresas interessadas meteram na cabeça das pessoas que asfaltar as ruas das cidades é bonito e importante, mesmo deixando-se esquecido o cuidado com o saneamento básico.
Chegou a um ponto que, em tempos de chuvas, quando as águas encalham e invadem e derrubam as casas, as pessoas, sejam de bairros ricos ou da periferia, gostam de falar: “minha rua é asfaltada!”. A desinformação é tamanha sobre os malefícios do asfalto que muitos candidatos a prefeitos têm em seus projetos jogar asfalto em todas as ruas e estradas que ligam a cidade aos distritos.
Talvez um ato de criatividade de maior impacto dos prefeitos das cidades do Ceará fosse arrancar o asfalto das vias e plantar árvores nativas da floresta caatinga pelas ruas, avenidas e praças das urbes. Naturalmente, deve ser feita uma ampla campanha de esclarecimento à população sobre a importância da volta do paralelepípedo, da pedra tosca e do pré-moldado intertravado.
Sim, em pouco tempo teremos cidades arborizadas, coloridas de borboletas, abelhas, passarinhos e, enfim, com um clima de temperaturas amenas, as pessoas respirando ar puro e um planeta mais saudável.