Lembranças do Natal
Rememorar fatos, recordar lembranças é sempre uma coisa positiva. Pelo menos assim penso, pois a memória afetiva guarda muito das nossas histórias pessoais, incrustadas na própria história da cidade onde vivemos. Dito (ou escrito) isto, relembro natais que eu e muitos de minha geração experimentamos nesta Fortaleza doutros tempos. Uma urbe que não atingira o status de grande destino turístico como é hoje, mais tranquila e ainda provinciana, na qual circulávamos tranquilamente por locais onde, no presente, não nos atrevemos mais a fazê-lo. No Natal, por muitos e sucessivos anos, as residências ganhavam iluminação mais feérica, deslumbrante, atraindo de imediato as atenções de transeuntes e motoristas que se deslocavam pelas ruas. Havia mais capricho nos enfeites colocados na fachada ou na entrada de cada casa, fazendo sucesso entre as crianças, mais atentas ao burburinho do período.
Ainda hoje resiste, cada vez com menor frequência, infelizmente, a tradição dos presépios montados por senhoras idosas com a ajuda de familiares, nos seus próprios lares, em alguns bairros desta capital. Como repórter do Diário do Nordeste, visitei uma dessas casas, em meados da década de 80. Ficava no Montese e o presépio lá instalado reunia peças que se movimentavam, como as da Sagrada Família e as dos Reis Magos em torno do Menino Jesus, além de um cenário maior, onde se viam agricultores, carpinteiros trabalhando, pequenas luzes a iluminar tudo aquilo. Trabalho artesanal genuíno, de muita paciência, que ainda resiste, mas hoje é cada vez mais difícil de ser encontrado.
À época, entrevistei a idosa que mantinha aquela beleza e que, com alegria, relatava-me cada detalhe do singelo presépio. Este atraía a visita de muitos que se extasiavam diante do pequeno “rio” que também “corria” no meio do cenário artificial e que movimentava até uma pequena roda d’água, entre tantos detalhes curiosos. Certamente aquela senhora, decorridos já tantos anos, não se acha mais entre nós. Porém, espero que sua família continue, ainda hoje, a preservar a velha tradição…
Não tínhamos as árvores das praças do Ferreira e Portugal, surgidas apenas bem recentemente. Porém, a “árvore de natal” mais alta de Fortaleza ( 126 metros e mais de 30 toneladas ) era a da extinta TV Ceará – Canal 2, no bairro Dionísio Torres. A instalação possuía luzes multicores, distribuídas de cima a baixo nos quatro lados da enorme estrutura de ferro e uma série de lâmpadas brancas colocadas no centro da torre de TV, imitando uma “gota” de luz que “caía” repetidamente de alto a baixo, até quase o solo.
Foi criada pelo gênio do ator e radialista cearense João Ramos, o “homem dos sete instrumentos”, também criativo eletricista e técnico em equipamentos. Por muitos anos, enquanto existiu a pioneira emissora, a bela torre era vista de muitos pontos da cidade e, no Natal, atraía muitos visitantes! São lembranças do Natal, presentes para sempre na nossa memória e que vale a pena recordar!
Gilson Barbosa é jornalista