Lacuna entre estar e aprender
A educação é um direito universal, garantido a todos. No entanto, para muitos alunos com deficiência, especialmente aqueles que têm maior necessidade de suporte e adaptações, estar matriculado em uma escola não significa necessariamente estar aprendendo. Essa diferença entre acesso à escola e acesso à educação precisa de ampla reflexão, pois representa uma das principais barreiras para a inclusão escolar efetiva.
Muitas vezes, as escolas se preocupam em garantir números para estatísticas ou atender às exigências legais, mas negligenciam o mais importante: garantir a aprendizagem dos estudantes. A matrícula de um aluno com deficiência é apenas o primeiro passo. Sem estratégias pedagógicas inclusivas, formação continuada e uma visão individualizada do processo de aprendizagem, o que se oferece a esses estudantes é um espaço físico, não educação.
No caso de alunos autistas, as necessidades podem variar amplamente, desde ajustes no ambiente à estratégias para facilitar a comunicação, passando por práticas pedagógicas inclusivas. O desafio, portanto, não está apenas em acolher, mas em ensinar. Isso exige profissionais capacitados, recursos apropriados e, acima de tudo, o compromisso de respeitar a individualidade de cada aluno.
O problema se agrava quando escolas e professores presumem a incapacidade dos alunos a partir de seu laudo. Nesse contexto, o aluno com deficiência é deixado à margem do processo educacional, recebendo atividades descontextualizadas ou sendo tratado como “alguém que precisa estar lá”. Essa abordagem superficial, desumana e capacitista, compromete não apenas o desenvolvimento acadêmico, mas também o emocional e social dessas crianças e de suas famílias.
Ter acesso à educação de qualidade significa ter acessibilidade curricular, ferramentas que garantam a inclusão e a chance de aprender de forma significativa. É hora de repensar a inclusão, entendendo que estar presente na escola não é suficiente. A inclusão verdadeira só acontece quando o aluno aprende e sente que pertence a este espaço. Promover esse salto, do direito de estar para o direito de aprender, é um dever de todos e de cada um de nós: escolas, gestores públicos e sociedade.
Fernanda Cavalieri é cofundadora da Associação Fortaleza Azul e mãe de autistas