Dama X xadrez: a estratégia perdida do Estado

Escrito por
Filipe Brayan producaodiario@svm.com.br
Filipe Brayan é advogado
Legenda: Filipe Brayan é advogado

Ganhou destaque no noticiário nacional, na última semana, uma grande operação de combate às organizações criminosas (ORCRIMs) no Rio de Janeiro, que resultou na apreensão de 100 fuzis e na morte de mais de 120 pessoas.

Como é de se esperar, o tema — delicado e polarizador — acendeu intensos debates tanto nas redes sociais quanto fora delas. Parte da população apoia o confronto direto como solução; outra parte considera essa estratégia ineficaz e limitada.

Sem a pretensão de encerrar o debate apenas com argumentos, é importante reconhecer que operações policiais com mortes e apreensões não são novidade. Apesar do impacto imediato, tais ações têm mostrado pouco efeito duradouro. Ao contrário, as organizações criminosas parecem ressurgir ainda mais estruturadas após cada grande operação.

Ao observar os resultados recentes, considerar essa operação um sucesso é o mesmo que jogar dama — um jogo que valoriza movimentos rápidos e ganhos imediatos, mas carece de visão estratégica a longo prazo. Essa analogia se sustenta na ausência de um plano subsequente por parte do Estado e na facilidade com que as ORCRIMs conseguem repor tanto os 100 fuzis apreendidos quanto os 120 membros mortos.

É sabido que há uma grande quantidade de jovens ociosos, vulneráveis e à espera de uma oportunidade para ingressar no crime. Se uma nova operação eliminar mais integrantes, outros rapidamente ocuparão seus lugares. O mesmo se aplica às armas: não seria absurdo imaginar que os mesmos fuzis voltem, em breve, às mãos das mesmas facções.

As organizações criminosas já entenderam o jogo. Elas sabem que as operações são inevitáveis e que terão perdas. Por isso, jogam xadrez — elaboram estratégias complexas para minimizar danos, manter suas estruturas e, ainda, induzir a opinião pública a acreditar que o Estado está vencendo.

Enquanto o Estado celebra uma vitória ilusória, as facções, com perdas mínimas em termos estratégicos, analisam a operação e se preparam melhor para o próximo embate.

Este texto não busca oferecer soluções simplistas nem condenar a ação policial. Seu propósito é alertar: há quem ainda jogue dama em um tabuleiro de xadrez — e talvez esse seja o verdadeiro motivo do fracasso das políticas de segurança pública nos últimos 40 anos de combate às ORCRIMs.

Filipe Brayan é advogado 

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