Dados e a representatividade feminina no mercado editorial brasileiro
Já dizia Deming que o que não é medido, não pode ser gerenciado. E que, sem dados, você é apenas mais uma pessoa com uma opinião. No mercado editorial, a percepção era de predominância masculina nas feiras de livros a reuniões, dos autores nas capas dos livros à alta gestão editorial. Todavia, faltavam dados. Não tínhamos uma pesquisa brasileira que mostrasse como evoluímos e que guiasse planos de ação. Agora temos.
Um estudo recente do Sindicato Nacional dos Editores de Livro (SNEL) e da Wiabiliza aponta que a grande maioria das editoras brasileiras participantes estão mais ativas na adoção da agenda de diversidade e na priorização da representatividade do gênero feminino entre as lideranças. A pesquisa revela que 87% delas têm mulheres em altos cargos. Apesar disso, 47% dessas companhias ainda não adotou práticas de governança corporativa para assegurar a implementação de políticas e metas de inclusão. Já em relação às autoras brasileiras, notamos um discreto crescimento do número de obras publicadas por mulheres nos últimos anos. De acordo com dados do site de autopublicação Clube de Autores, 44% das publicações em 2022 foram de autoria feminina - um aumento de 10% ante 2021.
Comemoro cada avanço, mas ainda temos um caminho a percorrer rumo à maior representatividade no setor editorial. Com a cultura de se encontrar em eventos como feiras de livros e de associações, fica mais fácil para o setor juntar forças para ações coletivas que acelerem a mudança. Uma das iniciativas que gosto de destacar é o PublisHer (womeninpublishing.org), movimento criado por Bodour Al Qasimi, que sofreu na pele a iniquidade no mercado editorial árabe e foi a segunda presidente da International Publishers Association (IPA).
O PublisHer tem a missão de fomentar a criação de uma rede internacional de mulheres que atuam no setor, além de promover a formação e o debate sobre boas práticas, pesquisas, tendências e as desigualdades existentes. Uma das brilhantes iniciativas recentes do movimento foi a criação, em 2023, do Prêmio Honour Her – The Publish Her Excellence Awards para reconhecer profissionais mulheres do ramo editorial que fizeram diferença significativa no setor.
Em um país tão grande e diverso como o Brasil, é fundamental que o mercado editorial esteja aberto a novas perspectivas e vozes, diferentes origens e realidades sociais e culturais para a construção de um panorama literário mais rico e representativo. Falar sobre a diversidade de gênero no mercado editorial não é abordar apenas uma questão de igualdade social, mas também de oportunidade.
Acelerar essa transformação, como promover diálogos que contribuam para essa mudança se faz essencial para assegurar o patrimônio nacional que é esse mercado editorial brasileiro. Multiplicar novas Ana Maria Machado, Lygia Fagundes Telles, Djamila Ribeiro entre outras tantas mulheres para além dos livros é importante para que assumam papéis protagonistas em diferentes posições nesse setor tão relevante e que fomenta a educação e a cultura nacional, permitindo que ele possa retratar de forma mais fidedigna a nossa sociedade e trazer mais mudanças na próxima pesquisa sobre diversidade no mercado editorial. E que, cada vez com mais dados, venham mais avanços. Como se diz na estatística (K. Pearson): “o que é medido melhora”.
Flávia Bravin é sócia-diretora da Saber Educação