China enfrenta medo de um novo pico da Covid-19; especialista lembra eficiência na primeira onda
Diretora do Instituto Confúcio de Fortaleza relata que, apesar do vírus ser desconhecido quando surgiu na China, os chineses souberam conduzir a epidemia e minimizar os estragos
Desde meados de junho, a China é atingida por novos casos de Covid-19. Testagens em massa voltaram a ser realizadas para conter o surto descrito como "sério e complexo" pelo governo. No último domingo (28), autoridades chinesas anunciaram o confinamento de meio milhão de pessoas em zonas próximas da capital. Mônica Amorim, professora da UFC e diretora do Instituto Confúcio, concorda que novos casos na China são sérios, mas que a nova onda será controlada, lembrando a eficiência para conter a primeira.
"Esses novos casos em Pequim são sérios, porque trazem outra onda. Mas acho que vai ser controlada", diz.
Mônica esteve na China no início de dezembro do ano passado para uma conferência internacional das sedes do Instituto Confúcio, instituição educacional sem fins lucrativos em parceria com o Ministério da Educação da China. Nesta ocasião, no entanto, ainda não haviam indícios do novo coronavírus no país. O Instituto Confúcio de Fortaleza, localizado no campus do Pici da UFC, é o 10º do Brasil.
A professora destaca a eficiência do país no controle da primeira onda. "Fico impressionada com a quantidade de óbitos registrados lá, ainda mais por ser um país tão populoso. Só o Ceará já ultrapassou o dado de mortes da China. Sendo o primeiro país, eles tinham uma dificuldade enorme que era o desconhecimento. Tinham que estudar as reações, evolução, quando o vírus chegou aqui, essas coisas já não eram novidade".
A diretora do IC atribui o número baixo de casos e óbitos do país asiático às medidas rígidas e disciplina dos chineses. "Na China, as pessoas são muito disciplinadas e tudo foi muito controlado. A população leva muito a sério, as decisões do governo normalmente são seguidas". Agora, as autoridades do país pedem, novamente, prudência diante do temor de uma segunda onda da doença.
Mônica também revela um fator importante: a digitalização da economia. "Quase ninguém pega em dinheiro lá. Nem cartão eles usam muito. Compram ovos, verduras, roupas, tudo online. Mesmo nas grandes cidades os shoppings não em esse movimento todo porque as pessoas compram tudo pela internet. Até mendigos recebem as doações com o celular. É tudo muito digitalizado. Até nas pequenas cidades os pequenos agricultores, pessoas mais pobres, vendem online. Isso também ajudou bastante e evitou as pessoas saírem de casa", observa.
Contribuição para o mundo
Além da contribuição com a distribuição de equipamentos, a professora também pontua a preocupação do país em disseminar o conhecimento sobre a doença, quando os primeiros casos ainda despontavam na Ásia. "Mesmo nesse momento eles se preocuparam em fazer manuais sobre o que já se sabia sobre o vírus, como se proteger, medidas relacionadas aos equipamentos de proteção, e as embaixadas traduziam", afirma.
Num dos manuais que recebeu ainda em fevereiro, quando o vírus não tinha chegado ao Brasil, Mônica conta que os chineses compartilhavam sobre medidas para os profissionais de saúde. "Um dos problemas vistos por eles foi que os profissionais de saúde se contaminavam ao retirar de forma indevida as vestimentas e EPI's, então eles diziam como desinfetar, como vestir e retirar essas roupas, com recomendações estudadas".
O primeiro caso positivo de um profissional da saúde desde a detecção do novo surto na China foi reportado há pouco mais de uma semana, no dia 21 de junho.
A professora afirma que a antecedência no compartilhamento de conhecimento foi importante para o mundo. "Mesmo no momento de catástrofe que eles viviam porque foram os primeiros e tudo era mais assustador, essas informações divulgadas foram muito importantes. Recebi em fevereiro, quando ainda nos perguntávamos se o vírus chegaria aqui, e quando chegou, o manual já estava disponível", revela.