Taxas de ocupação de leitos de UTI por Covid-19 estão pela primeira vez abaixo de 50%

Dados do IntegraSUS também dão conta de baixa ocupação de leitos de enfermaria, que, ontem (23), estava em 25,28%. Variante Delta preocupa especialistas sobre possível novo aumento de casos e internações

Escrito por Luana Severo ,
Na última sexta-feira (23), a taxa de ocupação de leitos de UTI no Ceará estava em 47,87% e, de enfermaria, em 25,28%.
Legenda: Na última sexta-feira (23), a taxa de ocupação de leitos de UTI no Ceará estava em 47,87% e, de enfermaria, em 25,28%.
Foto: Thiago Gadelha

Nos últimos dias, as taxas de ocupação de leitos de terapia intensiva (UTI) específicos para tratar infectados pela Covid-19 no Ceará chegaram, pela primeira vez neste ano, a patamares abaixo de 50%. Até as 18 horas da última sexta-feira (23), segundo a plataforma IntegraSUS, esse índice estava em 47,87%, enquanto que o percentual de ocupação de leitos de enfermaria estava, também, num dos mais baixos: 25,28%

A diminuição das internações acontece de forma progressiva desde o pico da segunda onda da pandemia, em abril. “É uma característica da doença em si, da forma de transmissão dela. Transmissão aérea, altamente transmissível e que rapidamente induz sintomas, tem essa característica de ondas, de explosão de casos, saturação, estabilização, até que começa a cair”, narra a virologista, epidemiologista e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), Caroline Gurgel. 

Além disso, o consultor em infectologia da Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP-CE), Keny Colares, acrescenta que não há mais a interferência dos fatores climáticos que, historicamente, aumentam a prevalência de doenças respiratórias no primeiro semestre. “Claro, as pessoas vão tendo a doença e vão desenvolvendo imunidade, a vacinação também vai levando uma proteção. [...] A grande questão é saber se vai continuar assim ou se vai haver alguma piora nos próximos meses”, se preocupa. 

O imunologista Edson Teixeira, professor do departamento de Patologia e Medicina Legal da UFC, também acredita que a baixa ocupação pode ser reflexo da imunização dos grupos mais vulneráveis à doença. “Temos grupos que normalmente desenvolveriam casos severos, como os profissionais da saúde, as pessoas mais idosas, com comorbidades. Essas que adoeciam com mais facilidade e de forma mais grave já foram cobertas pela vacinação e isso é um efeito importante”, destaca. 

Contudo, o principal temor dos três especialistas neste momento é de que a variante Delta do coronavírus, identificada pela primeira vez na Índia e que já tem transmissão comunitária em dois estados brasileiros (Rio de Janeiro e São Paulo), seja a responsável por uma terceira onda da pandemia ainda este ano. 

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Delta 

“Muitos países estão tendo um aumento do número de casos que coincide com a chegada dessa nova cepa, a Delta, indiana. Quando ela chega em países que estão com nível de vacinação acima de 50%, os casos têm tendido a serem leves e a curva de óbitos não tem alterado de forma importante, mas, em países como o nosso, que não têm taxa grande de vacinação, tem causado aumento de óbitos e internações”, observa o infectologista Keny Colares. 

Considerando que a cepa já está presente no Brasil e com transmissão comunitária em alguns locais, segundo o médico, a previsão é de que, em meados de agosto ou setembro, ela provoque um novo agravamento da pandemia. 

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A virologista Caroline Gurgel acredita que a Delta pode querer “disputar espaço” com a Gama (P1), que provocou a segunda onda neste ano, e que a medida preventiva a ser tomada é o fechamento de fronteiras. “É aprendizado. A gente soube pela P1 [Gama] que, quando tem uma nova variante no território, tem que fechar fronteira. É a forma emergencial mais eficaz que se tem pra conseguir, de fato, evitar a proliferação [da cepa] na população de um país do tamanho do nosso”. 

Além da possibilidade maior de transmissão, a Delta preocupa por poder escapar aos anticorpos produzidos por algumas vacinas que estão sendo aplicadas no País, segundo Edson Teixeira. 

Convivência com o vírus   

Apesar do avanço da vacinação e da manutenção das medidas de segurança sanitária, consideradas as melhores formas de combater o coronavírus, é consenso entre os especialistas que teremos de conviver com a Covid-19 por algum tempo. 

Uma margem de segurança seria chegar a, pelo menos, 80% da população imunizada com duas doses de vacinas, segundo Teixeira. 

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Além disso, é preciso saber se as vacinas terão de ser reforçadas anualmente e se a infecção vai se comportar da mesma forma que nos dois primeiros anos. “Da mesma forma que a gente tem vacina pra Influenza e ainda tem casos de Influenza circulando, por mais que tenha o avanço da vacina, a gente vai continuar tendo Covid-19. Não vai deixar de existir. Ele [o vírus] está muito bem adaptado”, afirma a especialista. A diferença, segundo ela, vai ser o potencial de pessoas que, infectadas, vão manifestar sintomas, ter seus quadros agravados e, na pior hipótese, morrer. 

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