“Ser bi não é estar em cima do muro”: professora cearense rebate rótulos ligados à bissexualidade
Socióloga Patrícia Maria, de 31 anos, reafirma a própria sexualidade como “posição política”, a fim de cessar invisibilidade e combater a hipersexualização dos corpos de bissexuais
Crucial para o processo de autoconhecimento, a união diversa da comunidade LGBTI+ – sobretudo neste 28 de junho, Dia do Orgulho LGBTI+ – também é fundamental sob outro aspecto: o da sobrevivência. Estar em grupos de outras mulheres pretas e bissexuais é a estratégia da professora e socióloga Patrícia Maria, 31, para se manter “nesse lugar político” de amar, pelo menos, ambos os gêneros – e seguir rebatendo preconceitos sustentados inclusive na própria comunidade.
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Patrícia, “cria da Barra do Ceará”, relembra que a percepção de que se sentia atraída não só por homens, mas também por mulheres, iniciou na adolescência, e se confirmou depois do primeiro beijo em alguém do mesmo gênero. “Isso ficou muito na minha cabeça como algo que eu precisava pensar melhor. Porque pra mim, sentir prazer e tesão por uma mulher não era algo anormal”, pontua.
O “engessamento” da sociedade, que ainda tem a heterossexualidade como “norma”, manteve a experiência guardada, e a jovem só voltou a vivenciar relações com mulheres aos 19 anos de idade. “Foi aí que comecei a perceber que sinto desejo e tenho a possibilidade de me apaixonar por uma pessoa do sexo oposto, mas também do mesmo. Foi muito um processo de me entender”.
Fortalecimento
O processo a ensinou, inclusive, que as possibilidades de se apaixonar ou atrair sexualmente iam além da dicotomia homem/mulher. “A bissexualidade produziu pra mim outras formas de eu ver as coisas. Transito muito entre a bi e a panssexualidade, que é sobre se relacionar com pessoas, de gênero feminino, masculino, agênero... Mas isso não é de estar em cima do muro – é permanente”, sentencia.
A afirmação torna-se necessária porque, segundo Patrícia, a turbulência de ser bissexual não ocorreu ao assumir isso a si e ao mundo: mas nos relacionamentos. “Já cheguei a pensar que ocultar isso seria uma forma de proteção. Quando falo pra homens que sou bi, acontece de questionarem se eu transaria com eles e outra mulher. Mas bissexualidade não é sinônimo de poliamor”, desabafa.
Para a socióloga, ser uma “mulher preta e não-hétero e falar de amor diante de tanta mazela social” é o principal motivo de orgulho: no dia 23 de setembro, Dia da Visibilidade Bissexual; no 28 de junho, Dia do Orgulho LGBTI+; e em todos os outros.
“Sair do armário tem muito a ver com o medo de violência, porque parece que nossos corpos estão com uma risca vermelha. E como a gente transforma isso? Com um discurso de produção de afetos maior. Pessoas LGBTs estão lutando pela coisa mais revolucionária que se pode produzir: o discurso por amor e liberdade.”
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