Sem chegada de novos lotes, cearenses estão com dose 2 da Astrazeneca atrasada

Desde o fim de semana, cresceram relatos do vencimento do prazo limite descrito no cartão de vacinação.

Escrito por Nícolas Paulino , nicolas.paulino@svm.com.br
Legenda: Em Fortaleza, maior número de reclamações começou a surgir durante o fim de semana.
Foto: Thiago Gadelha

Quem precisa receber a segunda dose da vacina Astrazeneca contra Covid no Ceará já reparou: o imunizante está em falta nos centros de aplicação. Isso porque o último lote dessa vacina foi entregue ao Estado há quase duas semanas, e ainda assim com apenas 3 mil doses. 

Na prática, é o Ministério da Saúde quem adquire e envia as doses aos Estados, que por sua vez são responsáveis pela distribuição aos municípios. Na ponta, estes ficam a cargo do agendamento e da aplicação.

Veja também

Em nota enviada ao Diário nesta terça-feira (26), o Ministério informou que, “atendendo à solicitação do Estado, a Pasta enviará nos próximos dias doses adicionais para conclusão do esquema vacinal da população do estado”. No entanto, não detalhou prazo nem quantidade. 

Na tarde de hoje, o governador Camilo Santana também declarou que está em contato direto com a Pasta federal para garantir o envio de mais doses.

Informo aos cearenses que conversei por telefone há pouco com o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e com o ministro substituto, Rodrigo Cruz, sobre o envio de mais vacinas AstraZeneca para o Ceará, de forma a garantir a segunda dose dos cearenses. Nossa Secretaria da Saúde já havia enviado ofício ao Ministério ontem e reforcei a urgência dessa solicitação. O ministro garantiu empenho na solução.

Impasse

Segundo a planilha de acompanhamento da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), antes da remessa mais recente de 3 mil doses recebidas em 13 de outubro, a última vez em que o Estado teve um lote significativo foi em 5 de outubro, quando chegaram 187.500.

Ainda conforme a planilha, desde o início de agosto, todas as remessas de Astrazeneca que chegam ao Estado são destinadas a completar o esquema vacinal da D1. 

Porém, o Ministério da Saúde declarou que, conforme dados do sistema LocalizaSUS inseridos pelo Ceará, “o Estado aplicou como primeira dose 72 mil doses destinadas à dose dois” - no entanto, sem informar o período a que se refere.

Em nota, o Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do Ceará (Cosems-CE) reforça que, durante todo o mês de outubro, o Ceará recebeu do Ministério da Saúde uma única remessa de Astrazeneca, enquanto outros Estados foram contemplados, causando "uma distribuição não igualitária pela União". 

O Conselho endossou ofício feito pela Sesa solicitando o envio "urgente" desse imunizante para suprir essa ausência.

"Temos relatos de municípios que teriam recebidos doses excedentes. Por isso, o Ministério da Saúde acaba não enviando uma remessa considerando essas doses, porém, o esse público foi vacinado e precisa da segunda dose", considera.

O Cosems-CE também afirma que alguns municípios podem ter utilizado D2 como D1, causando o vencimento do prazo de aplicação da D2. "Todas essas ações foram realizadas para acelerar o processo de vacinação no estado e, junto com a Sesa, estamos solicitando diariamente o novo envio de lotes da Astrazeneca para o Ceará", conclui.

Prazo esgotado

Entre os afetados pela falta do imunizante, está a advogada Amanda Celestino, 27. Ela tomou a primeira dose no dia 26 de julho, em Fortaleza, mas está sem agendamento para a D2 desde o dia 24 de outubro, data limite informada em seu cartão de vacinação.

Foi repassado pelo número da Secretaria de Saúde que não seria possível tomar a minha D2 enquanto não houver novo agendamento. Questionei por que isso estaria ocorrendo, e me foi dito que estava em falta de Astrazeneca.

A jovem se preocupa porque mora e cuida do avô de 84 anos, e, embora ele já tenha sido vacinado com a D3, ela continua “aflita por ser a única da minha casa a não ter feito a imunização completa”.

Outra advogada, Nátali Vieira, também tomou a D1 em 26 de julho, num posto de saúde da Parangaba. À época, foi orientada a se dirigir a qualquer ponto que estivesse aplicando Astrazeneca se houvesse chegado à data limite sem ser agendada. 

Contudo, na data do vencimento, soube que precisaria aguardar um novo chamamento.

“A minha preocupação é a que demore demais e a eficácia do imunizante seja reduzida, além do perigo das variantes. Meus pais quase morreram de Covid-19, então fica o receio”, alerta.

O estudante de Medicina Lucas Almeida, 27, foi outro que viu o prazo máximo ser esgotado: tomou a primeira dose no dia 27 de julho, mas não foi agendado até 25 de outubro.

“Creio que há uma falta de comunicação por parte das autoridades competentes com a população geral sobre o motivo do atraso das doses e de como proceder nesses casos”, ressalta Lucas.

A Secretaria Municipal da Saúde de Fortaleza (SMS) informou que quem recebeu a primeira dose da AstraZeneca e chegou à data limite para segunda dose, conforme descrito no cartão de vacinação, e não foi agendado, deve aguardar uma nova chamada “que se dará conforme a chegada de novos lotes da vacina”.

Veja também

Intervalo entre doses

No dia 15 de outubro, o Ministério informou que havia concluído o envio de 100% das doses de Astrazeneca necessárias para completar o esquema vacinal “de toda população adulta brasileira”. A informação foi reforçada na nota desta terça-feira.

“Para acelerar ainda mais a imunização”, a Pasta reduziu o intervalo de 12 semanas (3 meses) para 8 semanas (2 meses) entre as doses do imunizante.

Na semana passada, o Ministério também autorizou a redução do intervalo entre as doses da Astrazeneca para 28 dias para viajantes que necessitem ir ao exterior, por meio de comprovação do deslocamento. 

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.
Assuntos Relacionados