Saúde mental na pandemia: como equilibrar lazer e cuidados em relação à Covid-19

Conforme especialistas, fazer uma viagem ou viver um momento de lazer não é proibido, mas novo momento exige adaptações

Escrito por Lígia Costa , ligia.costa@svm.com.br
Legenda: Atividades ao ar livre, uso de máscara e álcool em gel devem ser priorizados na pandemia
Foto: José Leomar

O maior controle da pandemia de Covid-19 no Ceará culminou na flexibilização do isolamento social e na retomada das atividades econômicas, elevando a movimentação nas ruas. A ampliação da cobertura vacinal no Estado também injetou confiança para que muitas pessoas voltassem a frequentar espaços de lazer, reencontrar amigos, programar ou até realizar viagens, visando, sobretudo, manter a saúde mental em dia. 

Como a pandemia não chegou ao fim, também é indispensável manter o distanciamento social e os demais cuidados para evitar contágio pelo coronavírus. Mas como alcançar o equilíbrio e evitar a propagação da Covid, sem abdicar totalmente do lazer? 

Conforme a psicóloga Ayra Moraes, o lazer é “um fator protetivo” para a saúde mental, pois além de desempenhar “um papel de autocuidado e diversão”, é responsável pela produção de hormônios que geram a sensação de bem-estar, como a serotonina e a ocitocina. Por isso, o lazer é tão necessário em momentos de estresse, como o da atual pandemia, também impossível de ser ignorada. 

O lazer e esses cuidados na pandemia não se anulam. É possível, sim, se divertir tomando precauções e mantendo ainda essas medidas de distanciamento, de cuidados orientados pela OMS [Organização Mundial da Saúde]”
Ayra Moraes
Psicóloga

Adaptações 

Como forma de encontrar o equilíbrio, os momentos de lazer vividos antes da pandemia podem ser adaptados à nova realidade, orienta a psicóloga. Atividades que proporcionavam bem-estar, autocuidado e diversão podem ser, por exemplo, executadas em espaços abertos e mais ventilados. Isso sem esquecer do uso constante do álcool em gel e da máscara.  

“São lazeres que a gente não vai fazer mais da mesma forma que eram antes. Se eu gosto muito de ir ao shopping, eu vou tomar o cuidado de não tocar muito nas coisas ou passar sempre álcool em gel. Se eu gosto muito de praia, vou dar preferência a horários mais vazios e manter o distanciamento. O importante nesse momento é realmente [ter] esse equilíbrio”. 

Preceptora da Residência Médica no Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto (HSM), em Messejana, a médica psiquiatra Danyelle Rolim Carvalho explica que a qualidade de vida, atrelada ao lazer, à boa qualidade do sono, a vínculos sociais e familiares saudáveis, está intimamente relacionada à saúde mental. 

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Por isso, embora o cenário da pandemia ainda seja delicado, “atividades ao ar livre e passeios com distanciamento em locais permitidos, podem ser alternativas [de lazer]. Descobrir novos hobbies ou visitar um amigo também podem ser escolhas plausíveis”. 

A ausência de conexão ou pertencimento social proporcionados nos momentos de lazer, frisa a psiquiatra, podem trazer efeitos negativos à saúde mental. E não suprir essa "necessidade fundamental humana" pode gerar problemas mais graves depois.

"Sem um senso de pertencimento ou de conexões sociais, as pessoas podem experimentar um senso de privação que podem levar à tristeza, ansiedade, dentre outras emoções negativas", diz a médica, que complementa:

A longo prazo, tal fato pode impactar no surgimento de transtornos mentais como transtorno depressivo maior, transtorno de ansiedade generalizada, transtorno do estresse pós-traumático, transtorno do pânico, dentre outros"
Danyelle Rolim Carvalho
Médica psiquiatra

Precaução 

As viagens a lazer são a principal ‘válvula de escape’ do bacharel em Direito, Cristiano Lemos, 32. Devido à pandemia, foi obrigado a remarcar duas viagens e adiar os planos de ir ao exterior. Para ele, mais que permitir o reencontro com amigos e o (re)conhecimento de novos lugares ou culinárias, as viagens ajudam a manter a saúde mental.   

“Viajar já fazia muito parte da minha rotina. Eu realmente gosto, tenho prazer em viajar, é uma coisa que eu tenho que ter real. No momento em que eu entro no avião, eu consigo dar uma respirada e esquecer um pouco aquela rotina de cobrança, de pressa, de ansiedade em que você está imerso no seu cotidiano”, compartilha. 

Legenda: O bacharel em Direito Cristiano Lemos encontra nas viagens um alívio para as tensões do cotidiano
Foto: Arquivo pessoal

Devido à recente melhora nos índices da pandemia no Ceará e por estar imunizado com a primeira dose (D1) da vacina contra a Covid-19, Cristiano se sentiu encorajado a comprar passagens de avião e visitar um amigo em Juazeiro do Norte, na região do Cariri, de onde retornou na última terça-feira (31).  

Ainda assim, antes mesmo de começar a viagem, se cercou de vários cuidados para evitar o risco de contaminação pelo coronavírus. “Eu sempre uso [máscara] PFF2, mas pra viajar de avião eu procuro sempre usar PFF2 ainda lacrada, nova, tanto na ida quanto na volta. Duas só precisamente para o voo porque não tem distanciamento [dentro do avião]”.  

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Cuidar de si e do próximo

Além de usar máscara e álcool em gel constantemente, o bacharel em Direito evita até mesmo consumir água em voos mais curtos, tirar foto sem máscara em lugares fechados ou próximo de alguém, bem como fazer refeições em bares e restaurantes.  

No retorno para casa, na terça, Cristiano foi convidado a fazer o teste rápido de detecção da Covid-19 no Aeroporto de Fortaleza. O resultado deu negativo.    

Como eu tive essa exposição [ao vírus] que não está na minha rotina, optei por fazer o teste. Aí pude até chegar mais tranquilo em casa porque moro com meus pais, minha avó idosa, com 83 anos. Então, tem essa preocupação né?”
Cristiano Lemos
Bacharel em Direito

A psicóloga Ayra Moraes conclui que o melhor conselho para o atual momento é exercitar o equilíbrio e a empatia.  

“É entender que ainda não acabou e que a gente ainda vai precisar ser paciente e tomar muitos cuidados, pensar sempre no outro. E, caso eu saia, caso eu queira me divertir, isso é importante pra mim, é importante que eu faça isso, eu vou fazer de uma maneira moderada, que não seria do mesmo jeito que eu estava fazendo antes, mas de uma maneira possível”.  

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